Like & Dislike: Comprar leão por lebre ao Sporting
A CMVM está a reter o prospeto da emissão de dívida do Sporting. É uma decisão sensata. Já basta o que aconteceu no BES. Isto não é comprar gato por lebre, é comprar leão por lebre.
O Sporting já fez uma moratória ao pagamento de 30 milhões de euros de dívida, que vencia este mês de maio, e que só vai ser paga em novembro. Agora preparava mais duas emissões, uma de 15 milhões (com uma taxa de juro de 6%) e uma outra de 45 milhões. A primeira serviria essencialmente para gastos de tesouraria (pagar salários e viagens) e a segunda para reembolsar a dívida que vence novembro.
A venda da tranche dos 15 milhões de euros estava prevista para o final de maio, início de junho mas, pelos vistos, a colocação vai ser adiada. Não por vontade da SAD do Sporting, mas por imposição da Comissão Nacional de Valores Mobiliários (CMVM).
Esta quarta-feira, o regulador do mercado de capitais confirmou ao ECO que colocou um travão na aprovação do prospeto para a venda dos 15 milhões de euros em obrigações, com a justificação de que “têm ocorrido quase diariamente desenvolvimentos informativos em torno da sociedade emitente”.
Gabriela Figueiredo Dias tem razão em não aprovar o prospeto. O prospeto é um documento que tenta reproduzir, o mais fielmente possível, a situação patrimonial e os riscos que enfrenta um emitente num determinado momento. O problema é que os riscos da SAD do Sporting mudam todos os dias, a uma velocidade estonteante, e qualquer prospeto publicado junto dos investidores corria o risco de ficar desatualizado em poucas horas.
Não se sabe quantos jogadores vão rescindir por justa causa, quem será o treinador, quem manda no clube perante tamanha bagunça institucional, quanto tempo vai aguentar a tesouraria sem a venda de obrigações ou a alienação de direitos desportivos. Muito menos sabemos qual será o plano B caso a SAD não consiga vender dívida no mercado: Default? Não pagar salários? Novo perdão da banca?
Em 2014, ao mesmo tempo que Ricardo Salgado afundava o BES, os investidores continuavam a comprar alegremente ações do banco com base em informação desatualizada e perante a passividade do Banco de Portugal e da CMVM. Gabriela Figueiredo Dias mostra que, pelo menos, a CMVM aprendeu a lição e não vai dar o ok para a emissão do prospeto e venda de obrigações.
A SAD quer vender dívida com um juro anual de 6%, mas investir no Sporting nesta altura de turbulência e sem saber o dia de amanhã é um risco desmedido a que nenhum regulador poderá dar o seu aval.
O Benfica, no ano passado, vendeu obrigações a 4% e o FC Porto acaba de fechar a alienação de 35 milhões de euros de obrigações a 4,75%. Mesmo que a SAD do Sporting esteja a oferecer um prémio de risco superior, a verdade é que, nesta altura, não é suficiente para pagar um risco que é enorme simplesmente porque é desconhecido.
O ‘comprar gato por lebre’ de Cavaco Silva na altura da fúria das privatizações poderia agora ser convertido em comprar leão por lebre. Ou dragão ou águia, ou outro bicho qualquer.
Bruno de Carvalho reagiu ao travão colocado pela CMVM ao prospeto das obrigações desta forma: “É um assalto”. Assalto não será vender obrigações sem saber se amanhã se pode devolver o dinheiro?
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