Investimentos de ‘business angels’ em Portugal deve aumentar 50% este ano

  • Lusa
  • 20 Junho 2018

Associação Portuguesa de Business Angels prevê que o financiamento feito por estes investidores chegue aos 9 milhões de euros este ano.

A Associação Portuguesa de ‘Business Angels’ (APBA) prevê que os fundos aplicados por estes investidores em Portugal aumentem 50% este ano, para nove milhões de euros, impulsionados pela nova linha de financiamento disponível, disse à Lusa o presidente.

Em entrevista à agência Lusa, João Trigo da Roza considerou que a nova linha de financiamento da Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD) destinada a entidades veículo de ‘business angels’, “no valor de quase 20 milhões de euros para aplicar nos próximos dois anos e meio”, vai “ajudar a revitalizar o mercado, reforçando a capacidade” destes investidores privados.

“Este ano acho que o investimento de ‘business angels’ pode aumentar mais de 50%, assim como o número de projetos”, afirmou o presidente da APBA, cujos 150 associados (entre os quais 30 veículos de investimento e alguns fundos de capital de risco) investiram cumulativamente em 2017 perto de seis milhões de euros divididos por 26 projetos.

De acordo com este responsável, a atividade dos ‘business angels’ é atualmente “um mercado dinâmico em Portugal”, que “ainda tem muito espaço para se desenvolver”, mas que face a outros países europeus “não envergonha ninguém”.

“Pelo contrário, e não só pela qualidade dos projetos das ‘startup’, como pela própria capacidade que os ‘business angels’ estão a demonstrar e pelo desenvolvimento da atividade”, salientou.

Segundo João Trigo da Roza, o nível de desenvolvimento dos ‘business angels’ em Portugal está “bastante próximo” do da Europa continental – “com exceção, talvez, da Holanda, que é um mercado mais desenvolvido” –, enquanto na Europa não continental o Reino Unido se destaca já como “outra liga”.

“Mas, em relação a outros países como Itália, França ou Espanha, se tivermos em atenção o produto interno de cada país, Portugal já é um mercado com relevância”, disse.

Entre os “grandes desafios” que se colocam à atividade, o presidente da APBA destaca o apoio à internacionalização das ‘startup’ portuguesas, já que atualmente o investimento privado está essencialmente focado no desenvolvimento destas empresas no mercado português.

“Quando investimos numa ‘startup’ estamos a falar em investir, primeiro que tudo, no mercado português, para fazer uma prova de conceito e ver se as coisas funcionam do ponto de vista do mercado e do produto/serviço. Depois, obviamente que o que é importante é escalar, é tornar estas empresas globais, seja indo para a Europa, para os EUA, para o Brasil ou para a China. E esse salto é, agora, o grande desafio”, sustentou Trigo da Roza.

Considerando existir hoje em Portugal “falta de fundos para apoiar esse primeiro passo de internacionalização” – até porque os fundos públicos disponíveis estão dirigidos ao desenvolvimento regional português, logo têm de ser aplicados no país –, o presidente da APBA defende a necessidade de “uma componente de estímulo pelo menos pan-europeu” para dar uma “componente mais transversal” aos investimentos.

Estamos a trabalhar, em conversas que temos a nível europeu na Confederação Europeia de Business Angels, no sentido de se poderem criar fundos pan-europeus e que apoiem não só as ‘startup’ portuguesas, mas de toda a Europa, para serem mais internacionais e derrubarem as fronteiras que existem ainda no investimento nesta área”, adiantou João Trigo da Roza.

“O passo a seguir é pensar europeu e isso provavelmente tem de ser feito ao nível das instituições europeias, porque os governos dos países têm menos capacidade de atuar a esse nível”, acrescentou.

Paralelamente, a associação portuguesa está a lançar com a Business Angels Europe (BAE) um clube designado “BAE Club” que, “no fundo, é um grupo de redes como a APBA que querem fazer estes investimentos cruzados na Europa” e atualmente está já “num processo avançado de começar a fazer os primeiros encontros à procura de investimentos”.

Conforme explicou o dirigente associativo, trata-se de uma “iniciativa totalmente privada entre as maiores redes de ‘business angels’ europeias para estimular o apoio à internacionalização” destes investidores.

“Evidentemente que se isso amanhã for complementado com um fundo de investimento pan-europeu, melhor ainda”, sustentou.

Também apontado como desafio é a “capacitação dos próprios investidores” enquanto ‘business angels’, já que atualmente a atividade, não só em Portugal, mas a nível europeu, “ainda tem um certo amadorismo”: “Desde analisar se a ‘startup’ está pronta a ser investida ou não até ao processo de gestão ou venda dessa ‘startup’, são tudo processos que precisam ainda de ser muito desenvolvidos”, considera João Trigo da Roza.

Neste contexto, a APBA será o parceiro para implementação em Portugal do programa europeu ESIL – Empowering Early-Stage Investors, focado em capacitar os ‘business angels’ neste trabalho de investimento e que terá como principais componentes a atração de investidores para apostar em Portugal e o desenvolvimento da diversidade de género na atividade, atualmente dominada por homens.

O programa é apresentado hoje em Lisboa durante o ‘Spring Investment Dinner’, o encontro anual da associação que irá reunir mais de 150 operadores do setor.

De acordo com a APBA, o perfil dos ‘business angels’ em Portugal é tipicamente de investidores acima dos 35/40 anos, normalmente “empresários que querem diversificar o seu ‘portfolio’ de opções” ou gestores bem-sucedidos que querem apostar em novas oportunidades e dar um certo retorno à sociedade apoiando novos projetos, com jovens e outras dinâmicas”.

“Porque não está só em causa o retorno financeiro do investimento, mas também um certo gosto em poder apoiar novas realidades, sobretudo jovens empresários”, salientou.

E, se é verdade que a capacidade de investimento em Portugal “é mais limitada do que noutros mercados, face a alguma restrição de capitais próprios”, o facto é que “existe capacidade financeira no país” e fundos como os da IFD “são uma ajuda grande para completar os capitais privados”.

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