Se acordo laboral não passar no Parlamento, CCP não assina outros compromissos nesta legislatura
UGT já tinha apelado aos partidos políticos para viabilizarem as mudanças na Assembleia da República. Agora, Confederação do Comércio e Serviços de Portugal deixa aviso.
As alterações à legislação laboral tiveram o apoio dos parceiros sociais (exceto a CGTP), mas ainda têm de passar no Parlamento — e os partidos que apoiam o Governo já criticaram os conteúdos. A UGT apelou entretanto aos partidos políticos para viabilizarem as mudanças e, agora, a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) vai mais longe e deixa um aviso. Se o acordo não passar no Parlamento, a CCP não estará disponível para assinar outros compromissos nesta legislatura.
“Se este acordo não passar, significa que a credibilidade do Governo está posta em causa, a credibilidade da concertação social está posta em causa, e nós achamos que não há condições até ao fim da legislatura para assinar qualquer acordo com este Governo”, afirma ao ECO João Vieira Lopes. Para o presidente da CCP, o que importa é que as medidas passem e não “como é que o Governo constrói a maioria parlamentar”.
O primeiro-ministro já desafiou os parceiros sociais para um acordo em torno da conciliação entre vida familiar e profissional — embora sem apontar datas — e é de esperar que patrões e sindicatos ainda sejam chamados, nesta legislatura, a discutir temas concretos, nomeadamente o aumento do salário mínimo, que o Governo já apontou para 600 euros em 2019.
A reação da CCP surge numa altura em que os parceiros parlamentares do Governo já contestaram soluções do acordo laboral. O Bloco de Esquerda afirmou que vai votar contra a aplicação do período experimental de 180 dias a trabalhadores à procura de primeiro emprego e desempregados de longa duração que venham a ser contratados sem termo. E o PCP já disse que o acordo contribui para “o agravamento da exploração e desvalorização do trabalho” e que as propostas do Governo “não merecem o apoio” dos comunistas. Até a própria bancada do PS já avisou que vai apresentar propostas de alteração, com Carlos César a assinalar que é possível introduzir “algumas normas que possam evitar quaisquer abusos”.
Aliás, o Governo parece contar com a ajuda do PSD neste processo. Ao Expresso, o secretário de Estado do Emprego, Miguel Cabrita, assinalou que “já houve maiorias parlamentares que se geraram excluindo um ou mais partidos da ‘geringonça’”. “Estamos certos de que a Assembleia da República saberá encontrar os seus equilíbrios”, acrescentou. E ainda nem o acordo tripartido estava finalizado, e já o líder do PSD, Rui Rio, dizia que o seu partido votaria a proposta de forma sensata e coerente, indicando ainda que “uma medida que tenha o acordo das entidades patronais e dos sindicatos naturalmente é uma medida com fortes probabilidades de passar no Parlamento”.
Aliás, o presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal já esperava o apoio de Rui Rio para viabilizar algumas medidas, conforme noticiou o Público. Ao ECO, António Saraiva mostra-se tranquilo com o futuro das mudanças no Parlamento, mesmo com as declarações do PS. “A CIP está tranquila com o acordo que assinou”, diz, acrescentando: “Não é aceitável que o primeiro-ministro tenha subscrito o acordo e que o Partido Socialista depois se rebelasse contra esse acordo”. E mesmo face à reação dos partidos que apoiam o Governo, diz: “Os acordos são para respeitar, foram assinados de boa-fé e não vejo outra situação que não seja cumprimento do acordo”.
Esta não é a primeira vez que os partidos que apoiam o Governo contestam as soluções assumidas pelo Executivo. Aliás, uma das medidas aprovadas em concertação social acabou por cair depois de ter sido chamada ao Parlamento e de PSD, Bloco de Esquerda, PCP e Verdes se terem juntado para travar o diploma — em causa estava a redução da TSU para empresas com salário mínimo.
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