Computador, telefone e copo de café: o kit de sobrevivência para o Web Summit
Os minimalistas trazem um caderno de apontamentos, os mais elaborados até luvas para proteger as mãos do frio. Há alguma coisa que esteja em toda a bagagem do Web Summit? Descubra as diferenças.
A fórmula é tudo menos certa. Entre as cerca de 53.000 pessoas que participam, até quinta-feira, no primeiro Web Summit em Lisboa, o kit básico de sobrevivência varia, dependendo da pessoa, do plano de ataque e do objetivo. Nas malas nunca falta um smartphone mas há gente que arrisca mais: canetas para tirar apontamentos, microfones para gravar diretos e até copos para manter as bebidas quentes. Há de tudo — muito e pouco — nestas ‘pastas’ de trabalho. No entanto, asseguram, a verdadeira bagagem está no follow-up.
Pedimos a alguns participantes do Web Summit para abrirem as malas e revelarem os segredos que trazem na manga para conhecerem gente e fazerem negócios.
Débora Miranda, Social Impact Lab
Ganhou uma bolsa numa incubadora de inovação social e mudou-se para Leipzig, na Alemanha, em setembro deste ano. “Concorri com um projeto na área de comunicação de saúde que, entretanto, já mudou 20 vezes. Estou a aproveitar o Web Summit para ver pessoas que trabalham na mesma área, saúde, comunicação, saúde digital, para recolher ideias e, quem sabe, parceiros para uma coisa que ainda não existe”, conta a portuguesa Débora Miranda, 31 anos, e há 10 a trabalhar fora de Portugal, primeiro em jornalismo e depois em comunicação na área da saúde.
Ao Web Summit veio, em traços gerais, apresentar a ideia de negócio e conhecer pessoas na mesma situação. “Não falo da mesma maneira para toda a gente. Para reunir parceiros é difícil porque ainda não tenho um modelo específico. É muito fácil apresentar a ideia de que profissionais de saúde e doentes não comunicam como deviam, e nós andamos a criticar sem nunca apresentarmos soluções. As pessoas acreditam que é necessária uma melhor comunicação mas, depois, a pergunta é sempre: como é que vamos resolver isso”, conta Débora que integra neste momento um programa de incubação de startups na incubadora alemã. “Das 20 ideias que já tive, a questão é como vou ganhar dinheiro com isso. O que é interessante ver é que, estando na Alemanha e conhecendo projetos lá, há informação que não passa porque eles não percebem a nossa realidade cá. O empreendedorismo lá é muito formatado e, portanto, apresentas isto, recebes o financiamento e arrancas. Não é assim que funciona. Com sorte, uma pessoa faz uma coisa de graça e consegue ganhar credibilidade. E há lá fora mais oportunidades de financiamento para quem ainda não tem nada. Tenho percebido que preciso de mudar o mindset rapidamente e, depois de 10 anos fora, perceber como as coisas funcionam. Não vir com uma metodologia alemã que depois não funciona cá”, garante.
Mariana Santos, Chicas Poderosas
Acabada de regressar a Portugal depois de mais dez anos a trabalhar pelo mundo, Mariana Santos passou pelo The Guardian e pela Fusion mas escolheu Portugal para lançar a sua startup. “Como miúda portuguesa que trabalha em tech e promove women em tech, quis mostrar que tech não é só cinzento, preto e castanho”, explica, sobre as luvas cor de rosa “que, com o frio da noite são úteis mas dão-me um toque feminino”, o porta-moedas com o gato e o baton cor de rosa.
O crachá de acreditação é essencial para entrar no evento, assim como um power bank. É que, com “tanto telemóvel e vídeo, a bateria não vai aguentar”. “Como representante de Chicas Poderosas vou tentar fazer entrevistas e alguns diretos para mostrar ao resto do mundo o que se passa em Lisboa. Venho cá falar com pessoas que estão a fazer o mesmo que eu: a tentar desenvolver as suas ideias e promover inovação no meu caso, a um nível mais social. Pessoas like minded: no metro, só de ir à Baixa, já ouvi imensos pitch e foi muito giro conhecer gente. As pessoas estão genuinamente interessadas e trocam cartões no meio do metro. Vim cá também conhecer o estado da tecnologia em Portugal e na Europa e dar a conhecer o projeto Chicas Poderosas para tentar perceber como é que se pode trabalhar em parcerias”, explica.
Erin Schneider, KXL FM 101
A jornalista de Portland, nos Estados Unidos, veio a Portugal com um bilhete só de ida, comprado a troco de milhas acumuladas. A viver no Brasil até à viagem para Lisboa, Erin está pela primeira vez na Europa, continente que quer explorar nos próximos tempos. “Comprei um voo só de ida porque realmente quero explorar Portugal. Adoro o Brasil e queria saber mais de onde vem essa cultura”, explica, em entrevista ao ECO. “Gosto muito da arquitetura, não temos nada do género nos Estados Unidos, o povo que tem essa energia muito amável e bem mais calmo que o Brasil. Lá é caótica”, assegura.
Erin veio ao Web Summit sobretudo para fazer contactos mas não desperdiça oportunidades nem ideias. “Quero mudar a minha vida e os contactos são tudo”, sublinha. “É possível conectarmo-nos com pessoas que estão a fazer coisas boas e, juntos, fazer bem mais do que sozinha. E isso aprendi através da experiência”, diz, acrescentando que o primeiro contacto é importante mas o follow-up é “essencial”. “A verdade é que em sítios como estes podemos fazer amigos para sempre se continuarmos a alimentar as relações porque já temos algo em comum, chegámos aqui. Entre 50.000 pessoas, entramos em contacto apenas com algumas. Porquê? Vamos tentar perceber”.
Cartões de visita, uma caixa com um abacaxi “para dar sorte”, selos de cartas, o planner em papel “porque acho bem melhor, gosto de escrever” são alguns dos objetos que não dispensa.
Ariana Brás, NOS
A trabalhar numa área de desenvolvimento de negócio na NOS, Ariana Brás, 26 anos, diz que é essencial estar atenta às novas tendências e de como é que estão a evoluir.
Bloco de apontamentos para inspiração e “o melhor momento para o estrear, no Web Summit. É para ir tirando ideias para explorar quando estiver num momento mais calmo, já em casa. Aqui só escrevo key words. O telemóvel para tirar fotografias a slides de coisas que estão a passar e para ir marcando as pessoas que estão aqui. Os lenços e o baton fazem sempre sentido e a carteira, essencial para comer. Foi mesmo o kit de sobrevivência básico. Vim muito como exploratório, vi só o que havia, as tendências que gostava de ver: realidade virtual, realidade aumentada, saúde que, apesar de não ser tão facilmente ligada também gostava de saber que caminhos estão a ser feitos. A parte ligada ao marketing — tendências — e blogs.
Clements Pfizer, advogado
Os óculos para o bom tempo, o casaco para o tempo menos bom. O telemóvel essencial e o tablet para os apontamentos e para trabalhar. “Vim para fazer contactos e negócios”, conta o advogado na área de IT. Com alguns clientes presentes na conferência, o alemão aproveita para se encontrar com eles mas também para conhecer gente nova. “E também para aproveitar o tempo em Lisboa”, afirma. Clements chegou a Lisboa para a Surf Summit, que arrancou no passado sábado, na Ericeira, e tem voo de regresso marcado para sexta-feira, um dia depois de terminar o evento. “Foi divertido e a água estava bem melhor do que eu esperava. Pensei que em novembro fosse pior”, sublinha.
A talk do CTO do Web Summit foi uma das mais interessantes do dia para Clements Pfizer, que aproveitou para ver também os palcos mais focados na parte de legislação para startups.
Tom Gonser, DocuSign
A lista é curta. “Eu vivo no meu telefone e trabalho no meu computador. Por isso é essencial ter sempre os dois comigo”, justifica Tom Gonser. Da mochila que carrega às costas apenas com uma alça, o norte-americano de S. Francisco tira ainda um carregador portátil para o telemóvel, “para evitar estar constantemente a ficar sem bateria”, conta ao ECO.
Para o empresário e orador na área das assinaturas digitais, o Web Summit não é só um evento-chave para o negócio: é também “provavelmente o maior evento onde já estive”, garante. “É massivo. Acabei de perceber que tenho de ir até ao fundo dos pavilhões para conseguir sair… demasiado grande”, brinca. Depois de Lisboa, Tom passa dois dias pelo Porto para conhecer mais de Portugal e poder provar o vinho do Douro.
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