Oito avanços e recuos do Bloco de Esquerda sobre a polémica de Ricardo Robles
As notícias tinham "mentiras", mas afinal segurar Robles foi "erro de cálculo". Entre sexta e terça-feira muito mudou na posição dos bloquistas em relação ao vereador. Relembre o dito e o desdito.
A controvérsia começou na sexta-feira, com a edição semanal do Jornal Económico a apontar a Ricardo Robles, vereador do Bloco na Câmara de Lisboa e defensor acérrimo de políticas contra a especulação imobiliária, o facto de ele próprio ter participado na compra de um imóvel que foi posteriormente posto à venda por um valor muito superior — em caso de venda, o lucro ultrapassaria os quatro milhões de euros.
Atropelaram-se as reações à notícia, desde logo do próprio vereador, que afirmava ter feito tudo de acordo com a lei e também com os seus princípios. O PSD pediu que Robles se demitisse, mas o Bloco tardou a pronunciar-se, e quando o fez foi aos avanços e recuos. Recorde, cronologicamente, o que foi dito e retirado sobre o negócio imobiliário de Ricardo Robles.
Manhã de sexta: Silêncio e um retweet
Inicialmente, após a notícia ter sido divulgada, o Bloco de Esquerda optou por não se pronunciar. Questionado pelo ECO, um porta-voz do partido rejeitou fazer declarações “para já”, nessa manhã, já que se antecipava uma conferência de imprensa de Ricardo Robles ao final da tarde.
No entanto, Catarina Martins partilhou no Twitter a defesa de Ricardo Robles nessa rede social. Pedro Filipe Soares e Jorge Costa fizeram o mesmo.
Tarde de sexta: Robles anuncia que não se demite
Numa conferência de imprensa ao final do dia, o vereador do Bloco defendeu-se da notícia do Jornal Económico contando a história da aquisição, anúncio de venda e retirada de venda do edifício em Alfama que estava em causa. Ricardo Robles afirmou que o edifício fora comprado para a sua irmã viver em Lisboa e quando ela decidiu permanecer no estrangeiro foi decidido vender. E assegurou: “É falso que tenha havido qualquer despejo e considero que procedi de forma exemplar. Não há nada de reprovável na minha conduta”, afirmou.
Noite de sexta: Direção do Bloco ao lado de Robles
À noite, a direção do Bloco de Esquerda reuniu-se para discutir a situação. Da reunião saiu um comunicado enviado às redações no qual os dirigentes do partido também defendiam o seu vereador. O negócio noticiado, assinalava o comunicado, “em nada diminui a sua legitimidade na defesa das políticas públicas que tem proposto e que continuará a propor”.
"Face à notícia hoje publicada pelo Jornal Económico sob o título “Vereador do Bloco ganha milhões com prédio em Alfama” e face ao esclarecimento público já feito por Ricardo Robles, o Bloco de Esquerda sublinha que 1) é falsa a realização de qualquer venda; 2) enquanto coproprietário de um imóvel, Ricardo Robles manteve com todos os seus inquilinos uma relação inteiramente correta, assegurando os direitos de todos. Assim, a conduta do vereador Ricardo Robles em nada diminui a sua legitimidade na defesa das políticas públicas que tem proposto e continuará a propor.”
O mesmo comunicado referia ainda que o prédio não tinha sido vendido, e que Robles “manteve com todos os seus inquilinos uma relação inteiramente correta, assegurando os direitos de todos”.
Manhã de sábado: Houve “mentiras” nas notícias
Catarina Martins fazia finca-pé na manhã do dia seguinte ao estalar da polémica, defendendo Ricardo Robles, que nada fizera “de errado”, e acusando os jornais de terem publicado “mentiras”, já que o prédio não tinha sido vendido e, por isso, não se trataria de especulação imobiliária. A coordenadora do Bloco de Esquerda afirmou ainda que o partido estava a ser vítima de uma perseguição política.
Segunda: Fazenda contra Robles, mas com voto a favor
Na manhã de segunda-feira, foi publicada no i uma entrevista em que o cofundador do Bloco de Esquerda Luís Fazenda defendia que o Bloco de Esquerda “não mudou de ideias nem de políticas”, mas que a atuação de Ricardo Robles no seu negócio de Alfama representava “circunstâncias que, no Bloco de Esquerda, nós condenamos e que levam à gentrificação”. “As avaliações que faremos vão ter em conta as várias opções e a forma como este processo foi entendido”, disse, acrescentando que o Bloco de Esquerda teria de “tirar conclusões”.
Ao fim do dia, porém, o Diário de Notícias noticiava que na reunião do Bloco na sexta-feira à noite Fazenda tinha apoiado a moção de apoio a Robles. Houve dois votos contra, escrevia o jornal, mas nenhum foi desse cofundador que se mostrou aparentemente crítico da decisão de apoiar o vereador.
Tarde de segunda: Torna-se pública a demissão de Robles
Ricardo Robles comunicou a Catarina Martins que afinal se demitiria dos seus cargos no partido no domingo à noite, mas a decisão só foi divulgada ao público a meio do dia de segunda-feira, com uma nota publicada no site do partido, o Esquerda.net.
"Uma opção privada, forçada por constrangimentos familiares que expliquei e no respeito pelas regras legais, revelou-se um problema político real e criou um enorme constrangimento à minha intervenção como vereador. Esta é uma decisão pessoal que tomo com o objetivo de criar as melhores condições para o prosseguimento da luta do Bloco pelo direito à cidade.”
Tarde de terça: Decisão foi necessária devido ao “ruído criado”
À saída de uma audiência com o Presidente da República, na tarde de terça-feira e já após a demissão de Ricardo Robles, Catarina Martins referiu-se à demissão como um passo que era necessário, porque “as circunstâncias demonstraram que se tornava muito difícil” manter Robles na função.
Continuou, porém, a falar de notícias falsas. “Quando se compreendeu que, face ao ruído criado, de mistura entre notícias verdadeiras, legítimas, de escrutínio dos titulares dos cargos políticos, e notícias falsas, com agendas políticas determinadas de ataque ao Bloco, se tornava difícil o esclarecimento do que precisava de ser esclarecido e as explicações que precisam de ser dadas face à perplexidade que a situação criou, o Ricardo fez também o que eu acho ser exemplar, protegeu o partido, pedindo a sua demissão”, disse.
Noite de terça: Segurar Robles foi “erro de análise”
Na noite de terça-feira, Catarina Martins reconheceu “o erro de análise” que considera ter havido ao apoiar Ricardo Robles perante as dificuldades que se criavam à sua permanência no lugar, numa entrevista na RTP. “É preciso compreender também – e essa parte cabe-me a mim assumir – que houve um erro de análise da direção política do BE e esse deve ser assumido também”, disse Catarina Martins.
A coordenadora do Bloco de Esquerda afirmou que “a contradição era grande”, entre as ações noticiadas e o discurso político, “porque, de facto, não foi possível explicar e porque isso criava um entrave quotidiano no trabalho do próprio Ricardo na autarquia”. Assim, a demissão era a melhor solução.
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