Trump é presidente dos EUA, e quem lá vive tem uma palavra a dizer. “Não foi para este país que vim”

Quem por cá anda esta semana, mas vive nos EUA, acordou surpreendido. O ECO foi falar com estas pessoas. Umas não quiseram falar, outras não quiseram ser fotografadas, outras choraram.

Telle Whitney dedica a sua vida a lutar pela inclusão de mulheres e outros grupos sub-representados no mundo da tecnologia. Quando ouve o nome de Donald Trump, a sua primeira reação é chorar e dizer “ainda estou a tentar processar”.

Pelos corredores da FIL e do Meo Arena há um misto de entusiasmo e incredibilidade. Entusiasmo porque o Web Summit, e a vida, continuam. Incredibilidade porque não há como passar ao lado do primeiro dia dos próximos quatro anos da vida dos Estados Unidos da América.

"A promessa da primeira mulher presidente era muito importante para mim.”

Telle Whitney

Presidente do Anita Borg Institute for Women in Technology

A vitória do republicano atinge de forma particularmente agressiva Telle Whitney, presidente do Anita Borg Institute for Women in Technology. “A promessa da primeira mulher presidente era muito importante para mim”, é a primeira frase completa que consegue dizer. “O facto de 50% dos norte-americanos terem votado no Donald Trump, depois das coisas que disse sobre as mulheres, assusta-me”, é a segunda.

A conversa não se alonga muito sobre este tema, até porque esta norte-americana de Silicon Valley ainda não conseguiu assimilar a ideia. “Não sei qual será o impacto em termos de negócios. Espero que ele tenha conselhos decentes da sua equipa. Numa altura em que o trabalho da minha vida é a inclusão, ver esta sede louca de poder é assustador“, limita-se a dizer.

Andra Keay, fundadora da Silicon Valley Robotics e da Robot Launch.
Andra Keay, fundadora da Silicon Valley Robotics e da Robot Launch.Paula Nunes / ECO

Mais assustados ainda estão as mulheres e homens de negócios que investem e fazem as suas vidas nos Estados Unidos, mas não nasceram lá. “Sou australiana e mudei-me para os EUA com a minha família. Estava entusiasmada com a tecnologia e a sociedade de lá, comprei casa, a minha família está instalada… Agora? Não sei se quero ficar. Este não é o país para onde me mudei”.

A história em cima é de Andra Keay, fundadora da Silicon Valley Robotics e da Robot Launch. A resposta à pergunta “está a considerar deixar o país?” é fácil e sai sem hesitação: “definitivamente”. Para esta empresária, uma das mais importantes na indústria robótica de Silicon Valley, o mais grave não é sequer que Trump tenha vencido. “É que metade da América votou nele”, afirma.

Jaihee Kim, da Impressivo, à esquerda.
Jaihee Kim, da Impressivo, à esquerda.Paula Nunes / ECO

O voto de metade da América também preocupa Jaihee Kim, um sul-coreano que construiu a Impressivo nos Estados Unidos. “Somos asiáticos e precisamos de visto para trabalhar. Construímos a nossa empresa lá porque queríamos investir no país. E continuamos a querer, porque esta continua a ser a maior economia do mundo, com o maior número de oportunidades“, conta. Mas reconhece: “Estamos assustados pelas pessoas que podem perder os empregos”.

Rob Nelson é norte-americano e está mais esperançoso. O fundador da Grow, uma startup que ajuda outras empresas a acelerarem o crescimento através de um sistema de análise de dados em tempo real, só quer que “o governo deixe as empresas em paz”. E está até “curioso para saber o que um não político será capaz de fazer”. Mas há grandes preocupações: “a intolerância para com pessoas diferentes dele e a imoralidade que lhe é inerente” são dois exemplos.

Rob Nelson, fundador da Grow.
Rob Nelson, fundador da Grow.Paula Nunes / ECO

Mais importante, tem “fé” num Estado “suficientemente forte” para que “uma só pessoa não possa destruí-lo”.

Otimismo ou não, e no que toca a fazer negócios, os empresários e empresárias estão quase todos de acordo: Trump fala muito. Mas não vai fazer metade do que prometeu. “Ele não é um protecionista. Ele coloca-se ao lado da opinião pública mais popular. Mas, na verdade, não vai fazer nada. Não vai mesmo colocar um muro à volta do México”, diz Krish Subramanian, um indiano que levou para os EUA a sua empresa, a Chargebee, enquanto segura um cartão carregado de ironia.

“A vida está cheia de escolhas. Muros ou pontes”, pode ler-se no cartão.

Krish Subramanian, da Chargebee, à esquerda.
Krish Subramanian, da Chargebee, à esquerda.Paula Nunes / ECO

No fim, tudo se resume a duas coisas. “Ou ele vai realmente estar envolvido na tomada de decisões, ou as decisões é vão ser tomadas pelos serviços que estão por trás dele”, espera Andra Keay.

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