? Anatomia de uma guerra comercial: das máquinas de lavar ao aço, passando pela carne de porco
Tudo começou com 18 produtos. Hoje são mais de dez mil os alvos de tarifas e retaliações de parte a parte entre os grandes players da economia mundial. Pode dizer-se que a guerra comercial “começou” a 22 de janeiro, com a decisão dos Estados Unidos de impor de tarifas de 30% sobre as importações painéis solares e de 20% sobre as máquinas de lavar roupa.
A partir daí, degrau a degrau, a escalada de tarifas — mas sobretudo da retórica protecionista — nunca mais parou. A imposição de tarifas sobre as importações de aço e de alumínio para os Estados Unidos, com o argumento de práticas comerciais injustas, catapultou a guerra para as páginas dos jornais. Sobretudo pelos avanços e recuos, pelos ditos por não ditos. A União Europeia, o Canadá e o México começaram por estar excluídos destas tarifas, mas foi sol de pouca dura.
As retaliações não se fizeram esperar. E se nuns casos a novela teve vários episódios, com uma escalada progressiva, como foi o caso da União Europeia ou da China, o Canadá quando entrou, a 31 de maio, foi com todo o arsenal — tarifas de 12,8 mil milhões de dólares (10,9 mil milhões de euros) que acabaram por abranger mais produtos do que inicialmente previsto.
O principal foco das tarifas por parte dos Estados Unidos tem sido, inegavelmente, a China, o país que detém a percentagem mais elevada de dívida pública norte-americana. De parte a parte já formam impostas tarifas avaliadas em mais de 260 mil milhões de dólares (222 mil milhões de euros). As partes já encetaram negociações para tentar travar a escalada protecionista. Depois de semanas de impasse, esta semana Pequim e Washington voltaram à mesa das negociações, mas, dois dias depois, o Presidente norte-americano Donald Trump já ameaçava novamente as autoridades chinesas com a imposição de mais taxas sobre importações, no valor de 200 mil milhões de dólares. Trump está a acenar com uma subida das tarifas de 10% para 25% sobre alguns produtos chineses e Pequim já disse que vai responder: estão prontas tarifas no valor de 60 mil milhões de dólares (cerca de 52 mil milhões de euros) aos Estados Unidos, caso aquele país avance. Em causa estão 5.207 produtos norte-americanos – como café, mel e químicos industriais. Os mercados seguem nervosos estes desenvolvimentos.
Mais promissoras parecem as negociações entre os Estados Unidos e a União Europeia. Depois do acordo celebrado entre Trump e o Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, esta frente de batalha parece mais calma. A UE comprometeu-se em aumentar as importações de soja americana — um ponto que já está a ser cumprido, com um aumento homólogo de 283% das importações em julho — e de gás liquefeito. Os dois líderes também terão acordado trabalhar no sentido de tarifas “zero” para os bens industriais e tentar “resolver” as tarifas sobre o aço (25%) e alumínio (10%) impostas desde o início de junho e as tarifas de retaliação da UE. Por outro lado, tudo aponta para que os EUA não imponham novas tarifas alfandegárias sobre as importações de viaturas europeias nos EUA. Estava em análise a possibilidade de impor taxas suplementares, até 25%, sobre este setor estratégico da economia mundial e europeia, em particular.
O ECO fez um vídeo com os vários episódios desta guerra, que ameaça cortar 0,5% ao crescimento mundial até 2020 e que é vista pelas instituições internacionais como o maior risco à economia mundial. Ora veja:
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