O futuro do emprego? Saiba quais são as profissões do futuro
Na próxima década, mais de 40% dos empregos vão desaparecer devido à robotização do trabalho. Mas nem tudo são más notícias: os especialistas acreditam que há novas oportunidades a caminho.
À primeira vista, está confirmado o pior dos cenários avançados pelos romances de ficção científica: os robôs vão mesmo roubar os empregos aos humanos. A humanoide Sophia já o tinha garantido, no palco central do Web Summit, em novembro do ano passado. Os estudos da PwC e da Deloitte confirmam-no… mas o futuro não é tão negro quanto parece. É que, a par da eliminação desses postos de trabalho — cerca de 40% serão apagados até 2030 –, surgirão novas posições, garantem os especialistas.
“Os nossos estudos preveem que mais de 40% dos empregos não existirão daqui uma década, mas isto não implica uma redução dos postos de trabalho“, salienta, em declarações ao ECO, Sérgio do Monte Lee, partner da Deloitte Portugal. Segundo o especialista, espera-se que a robotização produza uma dinâmica semelhante àquela que foi promovida pela Revolução Industrial, isto é, a criação de tantos empregos quantos os destruídos.
De facto, diz Monte Lee, faz mesmo mais sentido falar de inteligência aumentada do que inteligência artificial, isto é, em vez de fazer soar os alarmes face à chegada de robôs mais eficientes na realização das várias tarefas, há que apostar na “exponenciação do fator do trabalho”. “Depois de o computador ter vencido o homem, o melhor jogador [de xadrez] da atualidade é um homem auxiliado por um computador”, salienta o consultor. Daí que à pergunta “o que será o futuro do trabalho?” a resposta só possa ser uma: “seres humanos ‘mesclados’ com máquinas”, salienta o partner da Deloitte Portugal.
“Penso que os robôs serão ajudantes dos seres humanos, exponenciando a sua capacidade de trabalho”, reforça o especialista. Na verdade, assinala Monte Lee, o objetivo não tem passado pela construção de máquinas que pensam e trabalham como humanos, mas pela conceção de instrumentos que “ajudem os humanos a pensar e a trabalhar mais rapidamente e melhor”.
Os robôs vão ser mais eficazes e económicos. Contudo, há uma janela de oportunidade para as profissões com outros tipos de competências. O grande desafio é reconverter carreiras.
É preciso reconverter a mão-de-obra
“O grande desafio é reconverter carreiras”, determina, em conversa com o ECO, Bethy Larsen, partner da PwC. De acordo com a especialista, à medida que as tarefas rotineiras e repetitivas forem sendo tomadas pela automatização, surgirá “uma janela de oportunidade para profissões com outros tipos de competências”. E será nesse momento que tudo terá de mudar.
Bethy Larsen explica que, segundo os estudos desenvolvidos pela PwC, os trabalhadores “estão dispostos a mudar”, o que é positivo, já que nesse cenário futuro haverá a necessidade de estar em “constante aprendizagem”. “As pessoas estão com medo, mas têm consciência de que vão ter de se atualizar”.
“[Tal necessidade] poderá ser um problema para as gerações mais velhas”, considera Sérgio do Monte Lee. O mesmo problema não será enfrentado, nota o consultor, pelas gerações mais novas, que “já se desenvolvem num ecossistema onde lidam diariamente com as novas tecnologias”. Portanto, considera Monte Lee, “haverá uma necessidade de reconversão e requalificação de grande parte da sua mão-de-obra”.
Aposte nestas áreas para garantir o seu emprego
Se na próxima década o mercado de trabalho vai sofrer uma revolução comparável à Industrial, o ensino tem já hoje de começar a mudar, garantem ambos especialistas ouvidos pelo ECO. Dizem mesmo que a adaptação à nova realidade que está no horizonte será bem mais difícil, caso essas mudanças não se concretizem.
“[É preciso apostar] nas competências nas áreas tecnológicas e matemáticas, porque os trabalhos vão passar muito por uma função analítica. Por outro lado, vamos ter de apurar a nossa criatividade“, defende, nesse sentido, Bethy Larsen, sublinhando que esse esforço tem de ser feito desde cedo, ainda nos primeiros anos de escolaridade.
Sérgio do Monte Lee acrescenta: “Nas próximas décadas, será impensável ter competitividade no mercado de trabalho sem uma forte literacia dos conteúdos tecnológicos e digitais”.
Portanto, armados de tais competências, que novas profissões vão ocupar esses trabalhadores? “Empregos que controlem a eficácia das próprias máquinas”, atira Larsen, sugerindo que, no futuro, o trabalho em equipa será feita entre humanos e máquinas. A consultora reconhece também que, nessa cooperação, “existe o risco de sermos permanentemente ultrapassados pelas máquinas”, mas adianta que tal disparidade será sempre apenas “temporária”.
O representante de Deloitte Portugal identifica, por sua vez, como totalmente inovadoras as posições ligadas à “gestão e aplicação de tecnologia, nas áreas do desenvolvimento aplicacional, automação e data science”. Além disso, Monte Lee faz questão de notar que “no futuro, irá verificar-se uma transferência de trabalho nas áreas onde o ser humano continua a prevalecer sobre a máquina, especialmente no atendimento, personalização e serviço ao cliente”. Portanto, nem Portugal com o seu musculado setor dos serviços está a salvo desta mudança.
Portugal, sendo um país dominado pelo setor terciário, irá sentir brevemente o impacto da robotização.
Portugal vai passar por entre os pingos da chuva?
“Portugal, sendo um país dominado pelo setor terciário, irá sentir brevemente o impacto da robotização”, prevê o partner da Deloitte. Ainda que os serviços sejam, normalmente, menos impactados pela automatização — “porque exige determinadas competências como a criatividade, a empatia e a sensibilidade — nem este setor conseguirá passar por entre os pingos da chuva tecnológica, garante o especialista.
Exemplo já dado dessa transformação é o dos serviços de transportes, que cada vez mais caminham para um realidade em que os veículos operam de modo autónomo. Num país a dirigir-se a passos largos para esse futuro, o melhor mesmo é apostar naquilo que distingue o humano do robô, detalha. “Na hotelaria, por exemplo, vamos continuar a precisar de um ‘olá’, da simpatia e do calor humano”, salienta Bethy Larsen, embora reconheça que, por cá, o impacto da robotização já se começa a notar, sobretudo nas telecomunicações e no setor financeiro.
Aliás, será também com base nessas competências que se poderão criar novas oportunidades, no setor terciário. “Ao libertar o humano de tarefas rotineiras e repetitivas, este poderá ser orientado para atividades de maior valor acrescentado”, realça Monte Lee, apontando como áreas potenciais o “atendimento, a personalização e o serviço ao cliente”.
Portanto, nem tudo está perdido. Os serviços não vão ser a boia de salvação de Portugal, mas também não servirão de âncora, assegura quem sabe.
Por outro lado, os trabalhadores lusitanos irão manter-se à tona, puxados pela globalização. Como? “Não vale a pena esconder que temos uma desvantagem competitiva, porque não temos ecossistemas de inovação da mesma dimensão que os Estados Unidos”, começa o partner da Deloitte Portugal. Monte Lee sublinha que a globalização vem, no entanto, atenuar esse desfasamento. “As fronteiras estão cada vez mais esbatidas a nível da empregabilidade”, ressalva, apontando o trabalho remoto como um potencial trunfo.
Um hiato à vista?
De volta a novembro do ano passado e à segunda edição do Web Summit por terras lusitanas, Mark Curtis, fundador da Fjord, adiantou, em entrevista ao ECO, que, apesar do emprego humano não estar condenado à extinção, entre a sua redução e a sua revitalização haverá um período relativamente difícil. “Haverá um período disruptivo, antes da chegada dos novos empregos, que será desafiador”, sublinhou.
“Vai haver um momento, sim, mas não muito longo”, riposta Bethy Larsen. A consultora da PwC enfatiza a importância das empresas se prepararem para essa mudança para que o hiato em causa seja o menos prolongado e doloroso possível. “Não vai ser tão caótico, porque já se vê alguma movimentação. Por exemplo, o IEFP já tem a preocupação de formar as pessoas para os empregos do futuro”, elogia a especialista.
Sérgio Monte Lee, por sua vez, defende que não existirá de todo um período entre a introdução da automatização e a criação de novas oportunidades para os humanos. Isto porque “em vários pontos do globo, assiste-se a um tamanho défice de mão-de-obra, com inúmeras oportunidades de emprego por preencher”.
Ainda assim, o consultor reconhece que haverá, a curto prazo, um “desfasamento entre as competências procuradas e as exigidas”, uma vez que a evolução tecnológica aconteceu a uma “velocidade que o conseguiu acompanhar”.
Nesse caso, a recomendação repete-se: apostar agora mesmo nessas competências que se adivinham necessárias… até porque, diz Bethy Larsen, o “futuro começa já amanhã”.
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