No ECO24, o líder da Nova SBE alertou que o crescimento económico pela empregabilidade tem os dias contados. A próxima fase é crescer pela produtividade, algo em que Portugal não tem sido exemplo.
A capacidade de a economia portuguesa para continuar a crescer é “incrivelmente limitada” na atual conjuntura do país. O alerta foi dado por Daniel Traça, dean da Nova School of Business and Economics (Nova SBE), numa entrevista ao ECO24 esta quinta-feira. O economista indicou que Portugal está a crescer “pelo lado do emprego”, mas numa altura em que a taxa de desemprego se aproxima de mínimos, crescer “do lado da produtividade” vai revelar-se um desafio. Isto porque “o crescimento da produtividade” no país tem sido “muito baixo”.
Questionado sobre se o crescimento português é sustentável, Daniel Traça deixou várias notas. “Há um problema, e é um problema fácil de ver nos números. Temos crescido nos últimos três anos, se virmos, sobretudo pelo lado do emprego. A produtividade tem sido, ou negativa ou muito muito baixa. Creio que o crescimento pelo lado do emprego está quase a chegar ao fim”, afirmou o docente. “A capacidade de continuarmos a crescer porque mais pessoas saem do desemprego e começam a produzir é incrivelmente limitada. Todo o crescimento que vier a partir de agora, terá de vir do lado da produtividade”, frisou.
A grande questão é que Portugal não se tem afirmado como exemplo a este nível. “Se, nos últimos anos, o crescimento da produtividade foi muito baixo, ainda está por explicar porque é que vai ser diferente no futuro. O grande desafio para a economia portuguesa é: como é que o crescimento da produtividade, que tem sido baixo há 20 anos, se vai inverter. Porque o crescimento nos próximos anos terá de vir do lado da produtividade — do emprego vai ser difícil”, considerou Daniel Traça.
Se, nos últimos anos, o crescimento da produtividade foi muito baixo, ainda está por explicar porque é que vai ser diferente no futuro.
A estratégia? Exportar, premiar e continuar
O economista defendeu que a solução para a continuidade do crescimento da economia terá de passar pela definição de uma estratégia de internacionalização das empresas, com aumento das exportações, prémios para as empresas que entram nestes mercados e a continuação a partir daí. “É preciso alinhar claramente o que é que são as prioridades do país e focarmo-nos nelas. Temos uma tendência muito grande para definir prioridades e, depois, começarmos a falar de outras coisas. É preciso três prioridades, não mais do que três prioridades para o país: exportar, premiar quem entra nesses mercados, e continuar por aí”, referiu Daniel Traça.
A baixa produtividade do país é, por isso, explicada pelo economista com a falta de estratégia e de foco. “Acima de tudo, falta-nos uma estratégia muito forte de integração na economia internacional. Durante uns anos, vivemos muito voltados para a economia doméstica. As empresas portuguesas foram pouco sujeitas a regimes de competição internacional. Expandiram-se pouco internacionalmente”, lembrou. Em simultâneo, as estratégias definidas no passado, para o dean da Nova SBE, “foram sempre castelos que se construíram no ar”.
É, por isso, a falta de estratégia definida aquela que, para Daniel Traça, é a questão mais relevante em termos económicos: “Temos uma economia que saiu de uma crise profunda, com enorme espírito de sacrifício dos portugueses. Palmas para nós, porque o conseguimos. Temos agora uma época em que temos de passar do espírito de sacrifício, do espírito do passado, para o espírito do futuro. Temos de definir claramente o que é a ambição que queremos para o nosso país nos próximos dez a 15 anos”.
Porque “há um potencial enorme para o país”, a recomendação do economista é a definição de um plano a dez ou 15 anos. “Se alinharmos esta estratégia, a implementarmos e nos mantivermos fiéis a ela, acho que há um potencial enorme para o país. Mas isso faz-se com planeamento e consenso transversal, porque isto não são planos que se façam a cinco anos”, considerou Daniel Traça.
O ECO24 é um programa televisivo semanal, apresentado por Pedro Pinto (subdiretor da TVI24) e António Costa (publisher do ECO). A edição desta quinta-feira marca o regresso do formato ao emissor da estação de Queluz de Baixo.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Daniel Traça: “O crescimento pelo lado do emprego está quase a chegar ao fim”
{{ noCommentsLabel }}