Como fica o mercado de energia com vitória de Trump?
Para saber como ficará o mapa global da energia com Donald Trump na presidência dos EUA, basta observar o mercado de ações.
A Glencore, maior trader de carvão do mundo, subia mais de 5% a meio da última semana. A Vestas Wind Systems, maior fabricante de turbinas eólicas do planeta, caía 13%. Estas oscilações antecipam o retorno dos combustíveis fósseis, enquanto a luta contra a mudança climática — e o investimento em energia eólica e solar — fica debilitado.
No seu único discurso importante sobre política energética antes das eleições, Trump afirmou que rescindiria com as normas ambientais “que destroem empregos” em menos de 100 dias após assumir o cargo e que cancelaria a adesão dos EUA ao acordo do clima, fechado no ano passado em Paris.
“Um governo Trump vai concentrar-se nos desafios ambientais reais, não nos falsos que estamos a ver”, disse Trump aos seus apoiantes em maio, em Dakota do Norte, o berço da revolução do xisto nos EUA.
Na verdade, Trump deu poucas pistas sobre como pretende implementar seus planos. As políticas energéticas e climáticas ficaram em segundo plano, enquanto a imigração, a economia e o debate sobre a aptidão do candidato ao cargo tiveram destaque. E algumas de suas propostas são contraditórias, como por exemplo sua promessa de impulsionar o gás natural e o carvão, dois combustíveis que competem entre si no mercado de geração de energia.
Contudo, poucos têm dúvidas sobre quem tem maior probabilidade de ganhar ou perder, em particular porque Trump contará com o apoio de um Congresso inclinado a aprovar sua agenda.
“O resultado é, sem dúvida, um revés para o setor de energia renovável”, disse Matt Loffman, analista da consultoria de energia Douglas-Westwood em Houston. “O resultado histórico dessa eleição é, talvez, a notícia mais bem-vinda para a indústria do hidrocarboneto, que passa por problemas há mais de dois anos.”
"“O resultado é, sem dúvida, um revés para o setor de energia renovável. O resultado histórico dessa eleição é, talvez, a notícia mais bem-vinda para a indústria do hidrocarboneto, que passa por problemas há mais de dois anos.”
As ações de grandes produtoras de carvão, como a Anglo American, a BHP Billiton e a Rio Tinto, subiram entre 2% e 4% esta semana. As fabricantes de turbinas eólicas Gamesa Corporación Tecnológica e Nordex caíram. Em Portugal, as ações da EDP Renováveis e da casa-mãe EDP tombaram esta semana no PSI-20 perante a exposição ao mercado norte-americano.
Com o retorno do carvão, a luta contra a mudança climática sai a perder. Sob o comando do presidente Barack Obama, os EUA retomaram um processo de duas décadas promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para combater a poluição, que forjou o acordo climático de dezembro. Junto com a China e mais de 190 países, o chamado acordo de Paris estabeleceu diretrizes para que todos os países reduzam suas emissões.
“A indústria de petróleo e gás claramente sai vencedora com o novo presidente”, disse Alexandre Andlauer, chefe para o petróleo da empresa de pesquisa Alphavalue, em Paris. “As petrolíferas americanas têm um futuro melhor hoje do que tinham ontem.”
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