Capital de risco da CGD faz jackpot com IPO da Farfetch. Apostou um milhão e já ganha 7
Passaram três anos desde que a empresa fundada por José Neves passou a unicórnio. Foi nessa ronda que avaliou a empresa em mil milhões que o fundo da CGD entrou com 900 mil euros.
A Farfetch fez uma entrada em grande na bolsa. Depois de ver a sua avaliação multiplicar-se com o processo de admissão ao mercado de capitais, o valor disparou na primeira sessão em Wall Street. Foi um sucesso que deu muitos milhares de milhões a ganhar a quem apostou na empresa fundada por José Neves ao longo dos últimos anos. Um autêntico jackpot para investidores de todo o mundo, mas também de Portugal, como o fundo de capital de risco da Caixa Geral de Depósitos (CGD) que investiu 905.842 euros em 2015.
A empresa que nasceu em 2008 em Leça do Balio recebeu muita atenção por parte de business angels desde o início, pela forma como se posicionou no mercado de luxo. E ao longo de anos foi recebendo milhões de dólares em cada ronda de financiamento, até chegar àquela que a pôs no mapa a nível mundial. Foi em 2015 que com um investimento de 86 milhões passou a ter o estatuto de unicórnio. Foi nesta ronda liderada pela DST Global, a Condé Nast International e a Vitruvian Partners que superou a fasquia dos mil milhões de dólares.
Foi na ronda da Série E — depois da A, B, C e D (é atribuída uma letra a cada ronda) — que a CGD entrou, segundo dados da Crunchbase. Questionada pelo ECO, a CGD revela que, à data, o fundo de capital de risco do banco público então liderado por Stephen Morais (que saiu da Caixa Capital em 2017), aplicou 905.842 euros (o equivalente a um milhão de dólares ao câmbio da altura). Este investimento manteve-se desde então. E continua a figurar no portfolio do fundo de investimento da Caixa Capital, agora liderada por José Manuel Carrilho, sendo que com a entrada em bolsa esta aposta revelou-se vencedora.
De mil milhões de dólares, o valor da Farfetch foi aumentando. Cresceu com a Ronda F, a última antes da entrada da JD.com que puxou a avaliação para os 1,5 mil milhões — entrada celebrada pela Caixa Capital no Twitter. E com a chegada à bolsa, o valor multiplicou-se. De um intervalo inicial de 15 a 17 dólares, a empresa liderada por José Neves passou a ficar avaliada entre 17 e 19 dólares, fruto da forte procura pelas suas ações. No dia da entrada no mercado, o valor final ficou estabelecido em 20 dólares por ação. Ou seja, no total, ficou avaliada em 5,7 mil milhões.
A Caixa Capital viu, assim, o seu investimento multiplicar por quase seis vezes com o valor fixado para o IPO. E como manteve a aposta, como confirmou fonte oficial da CGD ao ECO, o jackpot passa a super jackpot. É que a primeira sessão da Farfetch em bolsa fez lembrar a estreia de gigantes norte-americanas, como o Facebook, Twitter, entre outras. As ações dispararam.
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De 20 dólares, as ações passaram para os 27 dólares logo nas primeiras transações, mas não ficaram por aí. Foram subindo, subindo, até chegarem a um valor máximo de 30,60 dólares por ação, ou seja, uma valorização de 53%. No final do primeiro dia, o saldo não poderia ser melhor. As ações fecharam a valer 28,45 dólares, uma valorização de 42,25%. Ou seja, uma avaliação em bolsa de 8,11 mil milhões de dólares, mais de oito vezes o valor a que a Caixa Capital entrou. Atualmente, a posição do fundo vale mais de oito milhões.
Um mundo de startups à espera de serem unicórnios
A Farfetch, o primeiro unicórnio “português” — apesar de ter sido fundada por um português, a sua sede é no Reino Unido –, tem sido seguida como exemplo por muitas outras startups lusas. Depois da plataforma de comercialização de artigos de luxo, foi a vez da Outsystems passar a mítica marca dos mil milhões de dólares, que granjeia o estatuto de unicórnio — o termo foi usado pela primeira vez, em 2013, num artigo do TechCrunch. E a Feedzai é vista como a próxima a apanhar o animal mágico.
"Há empresas, como a Farfetch, em que entrámos muito mais tarde, porque foi uma empresa que começou em Londres, com investidores internacionais desde o primeiro dia e nós fomos convidados para entrar na empresa já numa fase mais avançada.”
Destas, apenas a Farfetch faz parte do portfolio do fundo de capital de risco da CGD, sendo que neste caso a aposta já foi feita numa fase posterior àquela que o fundo costuma entrar. Numa entrevista ao The Next Big Idea, Stephen Morais, então CEO, explicava o porquê dessa aposta tardia.
“Há empresas, como a Farfetch, em que entrámos muito mais tarde, porque foi uma empresa que começou em Londres, com investidores internacionais desde o primeiro dia e nós fomos convidados para entrar na empresa já numa fase mais avançada. É, claramente, um investimento que até agora se tem revelado excelente, mas onde nós não temos propriamente mérito em relação ao sucesso da empresa”, afirmava.
Stephen Morais saiu em 2017 após a CGD reduzir o capital da sua sociedade de capital de risco devido a uma capitalização “excedentária”, disse a CGD, à data, ao Jornal de Negócios. Entrou José Manuel Carrilho, que tem vindo a investir em muitas outras startups que se juntam a uma carteira que conta com nomes sonantes. Da lista de empresas em que o fundo investe fazem parte a Uniplaces, que se dedica ao arrendamento de alojamento para estudantes, a Codacy, que brilhou no Web Summit de 2014, a Unbabel e a Fever, entre outras.
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