CEO portugueses ganham 23 vezes mais que trabalhadores. E lá fora?

Um gestor do PSI-20 ganha, em média, 23 vezes mais do que os trabalhadores. Mas cada caso é um caso, e depende do setor de atividade. E lá fora?

“Se for a uma empresa tipo EDP vai ver que o salário de topo é 210 vezes o salário mínimo. Não é aceitável esta disparidade e o desinvestimento que as empresas fazem nos quadros jovens. Isto tem de mudar sob pena de perdermos esta geração“.

António Costa, primeiro-ministro, deixava em agosto passado a sua opinião em relação às diferenças salariais que se praticam no setor privado em Portugal, ainda antes de PS e Bloco de Esquerda apresentarem propostas repor maior equilíbrio nos salários. Enquanto os socialistas querem agravar a Taxa Social Única (TSU) para as empresas que não corrijam este gap, os bloquistas pretendem reduzir-lhes os benefícios fiscais. As propostas foram apresentadas esta semana. Mas qual é a realidade portuguesa? E lá fora?

No PSI-20, que concentra as maiores empresas portuguesas cotadas, a remuneração atribuída aos gestores representou 22,8 vezes o salário médio anual que foi pago aos trabalhadores em 2017. Mas cada caso é um caso.

Por exemplo, na EDP, a empresa referenciada pelo chefe do Executivo, o trabalho do CEO António Mexia foi remunerado em 2,29 milhões de euros no ano passado (incluindo prémio de mandato), enquanto cada trabalhador da elétrica auferiu uma remuneração média de 58 mil euros. Diferença salarial? Mexia recebeu quase 40 vezes mais do que um trabalhador do grupo.

Outro caso que mereceu atenção política: há mais de um ano, Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, também criticou as divergências salariais, fazendo mira àquilo que era a realidade da Jerónimo Martins, dona da cadeia de supermercados Pingo Doce, em 2016.

“Pedro Soares dos Santos quase duplicou o salário de 2015 para 2016 e ganhou o ano passado 1,27 milhões de euros, o equivalente ao que ganham em média 90 trabalhadores do Pingo Doce, ganhou sozinho aquilo que paga em média a 90 trabalhadores do Pingo Doce e aumentou o seu próprio salário em 46%, será que algum dos trabalhadores do Pingo Doce teve um aumento salarial de 46%?”, questionou Catarina Martins em abril de 2017.

Um ano depois das palavras da coordenadora do Bloco de Esquerda, as disparidades salariais na Jerónimo Martins agravaram-se acentuadamente. O CEO auferiu uma remuneração acima de dois milhões de euros em 2017, ganhando 160 vezes mais do que a remuneração média atribuída aos trabalhadores. E o paycheck atribuído a Pedro Soares dos Santos equivaleu a quase 260 salários mínimos nacionais.

Quanto ganham os CEO do PSI-20?

E lá fora?

Nos EUA, o congressista democrata Keith Ellison analisou dados de 14 milhões de trabalhadores de 225 empresas norte-americanas que geraram receitas anuais de 6,3 biliões de dólares, e concluiu que, em média, os CEO ganhavam 339 vezes mais do que os trabalhadores.

“Se o teu chefe auferisse o teu salário anual em menos de um dia, como te sentirias? Desmoralizado? Enojado? Muitos americanos estão agora a perceber como os salários são distribuídos (ou não)”, disse Ellison no estudo “Rewarding or Hoarding(sumário executivo), publicado em maio deste ano. Outras conclusões do estudo: em 188 empresas das 225 analisadas, o salário de um CEO chegaria para pagar a 100 trabalhadores; em 219 companhias, um trabalhador precisaria de trabalhar pelo menos 45 anos para ganhar o que o seu CEO ganhar em apenas um ano.

Com este trabalho, Keith Ellison queria contribuir para um cenário de mudança que já está a ocorrer nos EUA. Na cidade de Portland, em Oregon, foi introduzida recentemente uma taxa de 10% sobre empresas cujos CEO ganham mais de 100 vezes do que é pago em média aos trabalhadores. A taxa sobe para 20% se a disparidade salarial for superior a 250.

Na realidade, é nos EUA onde as disparidades salariais entre CEO e trabalhadores são mais acentuadas, segundo uma análise da Bloomberg: em média, o CEO americano ganhava em 2017 cerca de 265 vezes mais do que os trabalhadores. É um rácio superior àqueles que se verificam, por exemplo, na Índia (229) ou Reino Unido (201).

Espanha (143), Alemanha (136) e China (127) fecham o ranking dos 10 países com maiores disparidades, de acordo com a análise da Bloomberg com base nos principais índices bolsistas em 22 países.

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