Conflitos comerciais prejudicam o crescimento mundial, alerta Lagarde

"Se as atuais disputas comerciais se intensificarem ainda mais, podem causar um choque em várias economias emergentes e em desenvolvimento", sublinhou a diretora-geral do FMI.

As disputas comerciais e as tarifas estão a começar a reduzir as perspetivas de crescimento mundial, disse a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, apelando aos países para resolverem as duas diferenças e regras comerciais globais.

No seu discurso antes da reunião anual do FMI e do Banco Mundial, Lagarde afirmou que o crescimento mundial tocou o nível mais alto desde 2011, com menos países a contribuírem para esse aumento. “Em junho, projetámos um crescimento mundial de 3,9% para 2018 e 2019. A perspetiva tornou-se menos brilhante, como verão na nossa previsão atualizada na próxima semana“, disse, sem adiantar quaisquer números.

“Uma questão fundamental é que a retórica está a transformar-se numa nova realidade de barreiras comerciais. Isso está a prejudicar não apenas o comércio em si, mas também o investimento e a indústria, à medida que a incerteza continua a aumentar”, continuou.

Enquanto os Estados Unidos estão a crescer fortemente devido aos cortes dos impostos e a fáceis condições financeiras, há sinais de uma desaceleração na Zona Euro e no Japão, disse a responsável. A China também está a mostrar sinais de um crescimento moderado, uma tendência que será acentuada pelas disputas comerciais com Donald Trump, que decidiu impor tarifas sobre 250 mil milhões de dólares em produtos chineses, ameaçando com mais 267 mil milhões.

A guerra comercial, juntamente com as taxas de juro mais altas e um dólar americano mais forte, estão a começar a afetar alguns países emergentes, disse a diretora do FMI. “Para ser clara, não estamos a ver um contágio financeiro mais amplo — até agora –, mas também sabemos que as condições podem mudar rapidamente. Se as atuais disputas comerciais se intensificarem ainda mais, podem causar um choque em várias economias emergentes e em desenvolvimento”, explicou.

Sem apontar o dedo especificamente aos Estados Unidos e à China, Christine Lagarde pediu aos países para “resolverem as atuais disputas comerciais” e começarem a trabalhar na construção de “regras mais inteligentes” para o sistema mundial de comércio, incluindo reformas na Organização Mundial do Comércio (OMC). “O desafio imediato é fortalecer as regras. Isso inclui observar os efeitos distorcidos dos subsídios estatais, evitar abusos de posições dominantes e melhorar a aplicação dos direitos de propriedade intelectual“, disse.

Contudo, disse, caso não seja possível chegar a um acordo entre todos os países, a responsável disse que os encorajaria a trabalhar em acordos comerciais mais flexíveis por parte de países “dispostos” a trabalhar dentro das regras da OMC.

Uma atenção especial tem de ser dada ao comércio eletrónico e aos serviços comerciais como a engenharia, comunicações e transporte, referiu. Várias pesquisas do FMI mostram que a queda de 15% dos custos de comercialização poderia impulsionar o PIB total dos países do G20 em mais de 350 mil milhões de dólares por ano — o equivalente a adicionar outra África do Sul ao grupo.

Christine Lagarde deixou ainda o alerta sobre os riscos de um aumento da dívida, que bateu o recorde de 182 biliões de dólares, cerca de 60% mais do que no início da crise financeira em 2007. As economias emergentes devem adotar medidas para conter esse crescimento da dívida das empresas e tornar os empréstimos do Governo mais sustentáveis, enquanto as economias avançadas devem reduzir os déficits e colocar a dívida pública num “caminho de queda gradual”.

Para além disso, uma melhor gestão dos ativos públicos poderia ajudar a gerar mais receitas, sublinhou, citando uma nova análise do FMI que mostra que 31 países têm ativos públicos totais de 100 biliões de dólares, bastante acima do dobro do seu PIB.

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