Vale a pena ir às compras na OPV da Sonae MC?
Como compara a próxima cotada em Lisboa com os pares europeus? Bem e oferece potencial de valorização para os investidores, dizem os analistas.
Está aí a oferta pública de venda (OPV) da Sonae MC. E a dúvida que muitos investidores têm é: vale, ou não, a pena investir nas ações desta nova Sonae? Quanto mais baratos forem vendidos os títulos, maior rendimento potencial haverá para extrair, mas mesmo ao preço máximo a próxima cotada da família Sonae poderá chegar à bolsa como uma boa oportunidade no contexto Europeu.
Até ao próximo dia 17 os pequenos investidores poderão ir ao banco ou corretora dar ordens de compra sobre os títulos da Sonae MC, o negócio de retalho da Sonae que inclui marcas como o Continente, Wells, Maxmat, Go Natural, entre outras. Uma grande parte dos detalhes da operação foi desvendada:
- Vai ser vendido até 21,7% do capital (217 milhões de títulos) aos investidores (grandes e pequenos, domésticos e internacionais), embora a oferta possa crescer até 33% do capital da empresa, dependendo da procura;
- Preço de cada ação será fixado no dia 18 e deverá variar entre os 1,40 euros e os 1,65 euros;
- Dia de estreia na bolsa: 23 de outubro.
O valor final de cada ação é mesmo a peça do puzzle que falta para uma melhor avaliação acerca da atratividade da OPV. Isto é: comprando a um preço mais baixo, as ações apresentam em teoria um maior potencial de retorno. É como explica Albino Oliveira, da Patris Corretora: “a questão central será saber qual o desconto exigido face ao setor pelos investidores para a entrada em bolsa. Um desconto mais significativo irá colocar o preço de venda mais próximo do limite inferior do intervalo”.
Mas o intervalo de preços da Sonae fornece já pistas sobre o que poderá valer o negócio: no máximo, a nova cotada ficará avaliada até 1,65 mil milhões de euros, o que está em linha com as estimativas “razoáveis” dos analistas do Bankinter, que dizem que a OPV é uma “operação interessante para os investidores”.
Albino Oliveira aponta no mesmo sentido: “As ações da Sonae MC irão comparar bem com o setor europeu, de uma forma geral, tendo em conta os vários múltiplos de mercado usualmente usados para o efeito”. E como compara a próxima cotada em Lisboa com os pares europeus?
Dividend yield? Melhor só no Dia
A Sonae MC já disse quer uma política de remuneração acionista atrativa, pretendendo distribuir pelos investidores entre 40% a 50% dos lucros (payout). Em 2017, o retalho gerou um lucro líquido de 115 milhões de euros. Mantendo-se o negócio estável, 57,5 milhões de euros vão parar às mãos dos acionistas (cerca de 6 cêntimos por ação).
Estes dados permitem calcular o dividend yield, a ferramenta utilizada para avaliar a atratividade de um dividendo. No caso da Sonae MC, em função do intervalo de preços e dos resultados do ano passado, as ações apresentam um retorno de dividendo entre 3,5% e 4,1%.
Não é propriamente o melhor dividend yield no setor europeu, pois a retalhista Dia parece insuperável neste capítulo (9,1%). Mas compara relativamente bem com outras cotadas europeias do ramo, como a Tesco, Carrefour ou Ahold Delhaiz. “É um valor para o dividend yield em linha com o setor europeu, tendo em conta o intervalo definido para operação”, diz Albino Oliveira.
Rui Bárbara, gestor do Banco Carregosa, olha para o panorama geral e complementa: “Tendo em conta a conjuntura de taxas de juro de zero ou próximas de zero, a rentabilidade da Sonae MC é atrativa”.
Sonae MC rende 4,5%
Fonte: Reuters
12 anos para recuperar aposta
E quanto tempo vai demorar a recuperar o investimento na OPV? O Price Earnings Ratio (PER) — rácio do lucro por ação — ajuda a avaliar se uma ação está barata ou não, permitindo estimar quantas vezes o dividendo está refletido na cotação. Assumindo que o dividendo se manterá ao longo do tempo, o PER indica quantos anos serão precisos para reaver o dinheiro investido nas ações: quanto mais elevado o PER, mais tempo se demorará a recuperar o dinheiro investido.
Também neste capítulo a Sonae MC compara bem com o setor europeu, seja a que preço for. Se cada título for vendido a 1,40 euros, serão precisos 12 anos para reaver o investimento (isto assumindo os pressupostos de payout de 50% sobre lucros de 115 milhões, como em 2017). O PER sobe para 14 vezes, ou seja, são precisos 14 anos para reaver o valor aplicado inicialmente se a Sonae MC custar 1,65 euros.
Através deste indicador é possível perceber que a Tesco é mais cara entre os pares em análise (PER de 18,6 vezes). E apenas a holandesa Ahold Delhaize consegue rivalizar com a retalhista portuguesa, apresentando um PER de 12,1 vezes.
“Recorrendo ao último resultado conhecido referente ao ano de 2017, apresenta um PER de 14,2. Se observarmos as estimativas para os resultados de 2018, patenteia um PER aproximado de 13 encontrando-se ligeiramente abaixo dos seus pares (17)”, reforça Carlos Pinto, da Optimize.
Fonte: Reuters
Sonae MC subavaliada dá margem para subida
A Sonae MC poderá chegar ao mercado com uma avaliação de 1,65 mil milhões de euros, isto se a OPV fixar cada um dos mil milhões de títulos da empresa em 1,65 euros (o limite máximo do intervalo).
Para o Bankinter, parece ser uma avaliação razoável, muito em linha com a sua própria estimativa para o valor da retalhista, na casa dos 1,62 euros por ação. Esta avaliação tem implícito um múltiplo EV/EBITDA (que mede a avaliação da empresa em função dos resultados antes de impostos) de 7,8 vezes, “abaixo da média de 8,5 vezes do setor na Europa”, um desconto que é explicado pela “dimensão limitada” e pelo “contexto altamente competitivo” do mercado português, explica o banco.
Os analistas do Bankinter fizeram uma análise de sensibilidade ao título e chegaram à conclusão: mesmo que cada ação da Sonae custe 1,72 euros, a retalhista continua “barata” face ao setor europeu. Ou seja, a operação “deverá oferecer potencial de valorização aos investidores que nela participem”.
Múltiplos abrem espaço para valorização
Fonte: Bankinter
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