Para o Financial Times, Itália de hoje é “Portugal há três anos”
"Portugal e Itália contam histórias divergentes após a crise", escreve o Financial Times. Diz que contraste entre os dois países "não podia ser maior". Basta olhar para as metas do défice.
O recado foi deixado esta semana a Itália pelo primeiro-ministro português: “Se foi possível em Portugal, será também noutros países”. António Costa referia-se à política de reversão da austeridade que tem vindo a defender ser compatível com a manutenção de um controlo apertado das contas públicas. Ao mesmo tempo, por esta altura, o governo de Giuseppe Conte arrisca-se a ver chumbada por Bruxelas a proposta italiana de Orçamento do Estado, uma decisão que seria inédita na história da União Europeia (UE).
Para o Financial Times (acesso pago), “o contraste entre Portugal e Itália não podia hoje ser maior”. Num artigo publicado esta sexta-feira, a história é resumida da seguinte forma: “Um governo da Zona Euro em rota de colisão com a UE por causa das metas do défice. Custos cada vez mais elevados da dívida por causa de um mercado receoso dos planos de dar a volta à austeridade. Uma banca vulnerável e um dos mais altos níveis de endividamento da Europa. A descrição assenta a Itália. Mas isto era Portugal há três anos”, nota o diário financeiro britânico.
E que contraste é esse? Veja-se: Portugal antecipa uma meta do défice de 0,2% do PIB em 2019, a mais baixa dos últimos 40 anos. Itália acaba de desafiar a Comissão Europeia com uma proposta orçamental que antecipa um défice de 2,4% do PIB no ano que vem, significativamente mais alto do que a meta de 0,8% recomendada por Bruxelas. Esta quinta-feira, a Comissão Europeia falou mesmo numa derrapagem orçamental que “não tem precedentes na história do Pacto de Estabilidade e Crescimento”. E ameaçou com a rejeição do documento desenhado pela coligação populista de extrema-direita.
O jornal destaca a recuperação “robusta” de Portugal a que presidiu o ministro das Finanças, Mário Centeno, desde que tomou posse em 2016, mesmo com a política de “virar a página da austeridade”, depois de um resgate ao país de 78 mil milhões de dólares da UE e do Fundo Monetário Internacional (FMI). No entanto, o diário britânico lembra que alguns economistas têm argumentado que o crescimento da economia internacional e das exportações nacionais, numa altura em que o turismo está a bater recordes, têm tido mais impacto na recuperação portuguesa do que, propriamente, as medidas de reversão da austeridade talhadas por António Costa. Portugal antecipa um crescimento de 2,3% este ano, abaixo dos 2,8% registados no ano passado.
Em contrapartida, Itália desafia Bruxelas, ainda que de forma mais aguerrida do que o Governo do PS desafiou a Comissão Europeia em 2016 quando tomou posse. “[Itália está] de forma bem mais clara em desacordo com as regras europeias”, disse ao jornal Federico Santi, analista do grupo Eurasia. “O que Costa propôs foi abrandar o ritmo do ajustamento fiscal, enquanto Itália está a tentar revertê-lo no próximo ano e adiá-lo indefinidamente”, acrescentou.
Nota também o Financial Times que o Governo italiano propõe para 2019 um subsídio de 780 euros para todos os desempregados, bem como a redução da idade da reforma dos 68 para os 62 anos. Este ano, com os juros a dez anos abaixo dos 2%, o Governo propõe aumentos salariais para a Função Pública, aumentos nas pensões, cortes nos impostos diretos e energia e transportes públicos a preços mais baixos. Antonio Barroso, analista da Teneo Intelligence, resume o contraste desta forma: “[Portugal] manteve uma retórica anti-austeridade para garantir o apoio dos seus parceiros de extrema-esquerda. Mas fez o esforço de melhorar a consolidação orçamental para não perder a credibilidade junto dos investidores”.
Em contrapartida, “os partidos italianos foram eleitos com base na promessa de fazerem frente à União Europeia e de aumentarem significativamente a despesa pública, o que explica o seu desafio claro a Bruxelas”, sublinhou também o analista. É por tudo isto que, diz o Financial Times, “Portugal e Itália contam histórias divergentes após a crise”.
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