Netinvoice está para as faturas como a Uber para o transporte
A startup vai desenvolver soluções tecnologicamente inovadoras que façam a ligação, ao nível das empresas de pequena dimensão, entre a necessidade de liquidez e a vontade de retorno dos investidores.
Acreditando que as pequenas empresas são, hoje em dia, mais bem geridas do que há uns anos e que são, no geral, “fantásticas”, a Netinvoice surge a pensar nas micro, pequenas e médias empresas (PME). O objetivo é — conscientes também que estes organismos precisam de financiamento a curto prazo e que o Estado lhes aparece como um obstáculo — ajudá-los a desenvolverem-se, afastando o endividamento.
A startup quer criar soluções tecnologicamente inovadoras que façam a ligação, ao nível das empresas de pequena dimensão, entre a liquidez e o retorno. Ou seja, entre a necessidade de liquidez que as pequenas empresas têm e a vontade de retorno dos investidores.
Com uma forte aposta na plataforma tecnológica, António Varela, o fundador da startup, quer “fazer com a Netinvoice nas faturas aquilo que a Uber fez no que diz respeito ao transporte”.
“Quem está com dívidas não tem poder de negociação, portanto, tem menos poder de propostas aos clientes. Atualmente, as empresas não conseguem crescer por causa disto, têm o dinheiro bloqueado em faturas”, explica António Varela, fundador da Netinvoice e ex-administrador do Banco de Portugal (BdP), durante a conferência de imprensa de apresentação do seu mais recente projeto.
A palavra-chave neste processo é precisamente “faturas”. A startup pensada pelo ex-administrador do BdP é 100% portuguesa e destina-se à transação de faturas, entre pequenas e médias empresas (PME) — que as vendem — e investidores profissionais — que as compram. O propósito é, desta forma, antecipar liquidez, otimizar a tesouraria e, em última instância, fazer com que as empresas possam investir e crescer. “Passar do ciclo vicioso de tesouraria para o ciclo virtuoso de crescimento”, sintetiza.
"Passar do ciclo vicioso de tesouraria para o ciclo virtuoso de crescimento.”
A principal vantagem para as empresas — que têm faturas por receber — de se registarem na Netinvoice passa pela rapidez com que podem receber o montante em dívida. Mais precisamente, 90% no momento e os restantes 10% numa fase posterior. “Esta divisão serve apenas para assegurar o alinhamento de interesses [entre as partes] para que o dinheiro seja devolvido”, explica o ex-administrador do Banco de Portugal.
Além destas, existem outros fatores que a Netinvoice considera jogarem a seu favor. Este serviço não tem necessidade de fidelização, a fatura não tem um valor mínimo, a transação é um processo rápido e, graças à plataforma mobile, é possível aceder em qualquer lugar, a qualquer momento.
Mas como tudo isto funciona? Passo-a-passo
Tudo acontece online. A Netinvoice é uma plataforma exclusivamente digital, que “pertence plenamente ao século XXI”.
- Primeiro, as empresas interessadas têm de se registar através do site da Netinvoice, que apesar de só ser lançado oficialmente na próxima sexta-feira, já está a funcionar desde o início de setembro. Este processo, de registar uma fatura, demora menos de quatro minutos;
- A Netinvoice verifica, eletronicamente, a fatura e, caso a mesma esteja correta, submete-a ao cliente;
- Uma vez que o cliente diga que a fatura é, de facto, válida, é feita a análise e score para avaliar o risco e é transmitido ao comprador;
- Por sua vez, o comprador, com base nessa informação, faz uma oferta de compra;
- O sistema confirma todas as ofertas feitas no mercado e o investidor que tiver feito a oferta mais elevada é o que vai comprar a fatura.
Nos momentos seguintes, o comprador envia o dinheiro corresponde à fatura para a Netinvoice e esta dá o dinheiro à empresa, que não tem mais de pensar nessa fatura. “A fatura passou a ser de outra entidade”, explica. Quanto o devedor pagar a fatura, já não vai pagar àquela empresa, mais sim à Netinvoice, que a vai pagar ao investidor.
No meio deste processo, a startup vai cobrar uma comissão a cada uma das partes, que anda à volta de 1% e 1,95%.
“O que seria meramente uma espera da empresa que o cliente que pagasse, é substituída por uma venda imediata e é o investidor que vai fazer esse financiamento, através da compra desse compasso de espera”, diz.
“A natureza do mercado financeiro vai mudar”
António Varela considera que as fintech estão já a mudar a forma como nos relacionamos com o dinheiro. “A natureza do mercado financeiro vai mudar e aquilo que a Netinvoice pretende é ser uma das primeiras empresas a fazer, de facto, essa revolução”, explica.
“A nossa vocação não é tirar o negócio aos bancos. A nossa vocação é permitir fazer negócios que não podiam ser feitos até à data”, disse Varela, acrescentando que o Banco CTT é o principal parceiro. Além disso, “qualquer banco pode ser investidor”. A ideia é mostrar que há negócios complementares à atividade bancária.
Com um investimento que ronda até agora um milhão de euros, a equipa da Netinvoice está convencida que se trata de um negócio inovador, com potencial e um mercado enorme. A próxima paragem é, agora, no Web Summit, onde a startup portuguesa vai marcar presença.
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