Carioca e Chicago boy, Paulo Guedes é o novo superministro da economia do Brasil
Paulo Guedes é um economista liberal que defende um Estado mínimo e a redução da dívida pública, através de privatizações. Vai estrear-se na política em grande, à frente de um superministério.
Conhecido como o “guru” económico de Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), Paulo Guedes, 69 anos, é o novo ministro da Economia brasileiro. É ele que ficará à frente de um “superministério”, que reúne quatro pastas: a da Fazenda (Finanças), do Planeamento, da Indústria e a do Comércio. Segundo Bolsonaro, com menos ministérios “o país funcionará melhor”. As instituições financeiras federais passarão a responder a este novo ministério.
É em Guedes que recai agora a difícil tarefa de tirar o país de dois anos de recessão e de baixo crescimento. Mas quem é o novo “superministro” brasileiro?
Com um percurso académico rico, Paulo Guedes é, essencialmente, um economista liberal que defende um Estado mínimo. Esta será a sua estreia na política, e em grande, ao lado de um governo de extrema-direita que arranca a conferir-lhe muito poder.
De assessor prático a “superministro“
Sem nenhum cargo político no currículo, Paulo Guedes estreou-se ao lado do presidente eleito do Brasil durante a campanha de 2018, como principal assessor económico. Ficou conhecido pela alcunha de “Posto de Ipiranga”, por ser a referência para qualquer questão económica levantada a Bolsonaro. “Na verdade, não entendo de economia”, chegou a confessar o presidente eleito, em declarações ao jornal O Globo.
Guedes é um economista liberal, que defende a intervenção mínima do Estado. Uma das suas medidas passa por vender todas as empresas estatais, sem restrições. Contudo, Bolsonaro tenciona preservar as que considera “estratégicas”, como a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Económica, segundo a BBC.
Após a vitória de Bolsonaro no domingo, o ministro anunciou que este Governo vai mudar o modelo de economia do Brasil com um grande programa de privatizações e com um maior controlo da despesa pública.
“O Brasil teve 30 anos de gastos públicos descontrolados, (…) seguindo um padrão que corrompeu a política e causou um aumento de impostos, taxas de juros e dívidas, como uma bola de neve”, disse numa recente conferência de imprensa no Rio de Janeiro.
Entre os desafios que Guedes enfrenta agora está a diminuição do défice orçamental e da dívida pública, que corresponde a 77,3% do PIB atualmente, e que, poderá chegar a 140% em 2030, segundo o Banco Mundial.
Paulo Guedes revelou que o governo se vai focar, até assumir funções, em janeiro, na reforma da previdência (pensões) — uma medida impopular, mas considerada crucial pela comunidade empresarial para reduzir a dívida. Também defendeu uma “aceleração do ritmo das privatizações” lançado sob o governo do atual Presidente, Michel Temer, que já havia lançado medidas de austeridade no final de 2016, mas não conseguiu a aprovação da reforma da previdência.
“Chicago boy“
Nascido em 1949, carioca, Paulo Guedes é mestre em Economia pela Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro. Aos 25 anos seguiu para os Estados Unidos para se doutorar em política fiscal na Universidade de Chicago. O economista, que até à data era um “keynesiano” — defensor das ideias de John Keynes e da intervenção do Estado na economia –, saiu de Chicago convertido num ultraliberal e num entusiasta do mercado livre.
Os seus ideais ultraliberais valeram-lhe a alcunha de “Chicago boy“, uma denominação depreciativa dada aos conselheiros económicos vindos das universidades. Na década de 80, Guedes chegou a dar aulas na Universidade do Chile, em plena ditadura militar, com Augusto Pinochet no poder.
De volta ao Brasil, dedicou-se essencialmente ao mercado financeiro. É sócio e um dos fundadores do Banco Pactual e sócio maioritário do grupo BR Investimentos. Guedes é conhecido por ser um “camaleão da oratória”, segundo a Folha de São Paulo, por ter um discurso fácil e fluído, passando ao lado do “chavão” de tecnocrata.
Foi ainda professor na Fundação Getúlio Vargas e na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e já foi colunista dos jornais O Globo, Folha de São Paulo e das revistas Época e Exame.
Também é um dos fundadores do Instituto Millenium, uma entidade sem fins lucrativos que defende o Estado de Direito, as liberdades individuais, a meritocracia, a democracia representativa e a igualdade perante a lei.
Atualmente, Guedes está a ser alvo de, pelo menos, três investigações por parte do Ministério Público Federal brasileiro. Em causa estarão suspeitas de irregularidades na gestão financeira de fundos de investimento. O economista já negou as acusações.
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