O empreendedorismo tem idade? O ECO foi investigar a questão na maior feira de tecnologia do mundo e para justificar a resposta negativa trouxe "startupers" dos 19 aos 61 anos.
No congestionado pavilhão dois do Web Summit há uma coração que pisca e prova que o empreendedorismo nada tem a ver com idades. É aquele que está bem preso à t-shirt branca de Hans, holandês de 60 anos que está de visita à maior feira de tecnologia do mundo para divulgar o seu sistema inovador de monitorização cardíaca com recurso a imagens 3D.
“Conseguimos triplicar o valor clínico de um eletrocardiograma”, diz ao ECO o responsável da ECG Excellence. Sobre o evento da equipa de Paddy Cosgrave, Hans não esconde o ceticismo: “É muito bla bla”. Curva-se um pouco e aproxima-se para evitar ter a voz engolida pelo ruído; confessa que as suas expectativas já eram baixas.
Hans Slijp acredita que este não é o lugar certo para conhecer quem interessa (os investidores), mas é uma ótima oportunidade para um pouco de “publicidade”. Foi exatamente isso que veio fazer a Lisboa.
“Há por aqui muitas soluções baseadas em conexão de dados, mas poucas em recolha de novas informações. Há aqui uma grande competição para ver quem será a próxima Uber dos dados médicos“, explica, com os seus óculos empoleirados no meio do nariz. Ainda assim, Hans diz levar desta experiência “contexto” e relações com investidores e potenciais parceiros.
Levo a vontade de “melhorar” quem sou
Do outro lado da entupida FIL, o romeno Damian está a fazer uma última ronda aos stands das startups do dia. Ao ECO, diz que é “apenas o rapaz de informática” da empresa que o trouxe à capital portuguesa: a GLAD People.
De camisola amarela, o empreendedor de 19 anos explica que está a construir um chatbot que permite fazer compras diretamente do Messenger do Facebook. “Se quiser uma pizza, o nosso bot vai mostrar-lhe as opções disponíveis. Depois é só encomendar. Tudo dentro da mesma conversa”, esclarece.
E o que achou o jovem do Web Summit? “É um evento enorme, conheci imensas pessoas”, sublinha, referindo que as suas expectativas foram mais do que concretizadas. Aliás, enfatiza com um sorriso gigante, se a empresa tornar a desafiá-lo, tem todo o gosto em voltar. Enquanto esse dia não chega, Damian Monea garante que a edição deste ano já lhe colocou na bagagem algo de extrema importância: a vontade de ser melhor.
Empreendedorismo com “cabelos brancos”
Mais ao lado, no pavilhão quatro, António Mendes partilha do mesmo sorriso de Damian. Aos 57 anos, o português responsável pela Spindots, rede social de descontos, marca presença nesta feira pela segunda vez.
“Andamos, enquanto consumidores, a perder valor”, explica ao ECO. A sua startup agrega cupões e vales de desconto de várias lojas numa única plataforma, permitindo a partilha entre utilizadores.
Há dois anos, Mendes trouxe a Spindots a esta conferência e levou apenas “visibilidade”. Agora veio à caça de investimento e de clientes que queiram também dar uma nova “dinâmica às lojas que ainda andam de lápis na orelha”, àquelas que precisam de uma mãozinha na sua “conversão digital”. “Em Portugal, o campeonato é de capital de risquinho. Estivemos a pedir meio milhão, mas tivemos de descer para 180 mil euros”, clarifica.
De olhar fixo e postura desenvolta, o empreendedor brinca que não trouxe uma startup mas uma holdup. “Já estamos acima dos 50”, gargalha.
Acima de investidores, parceiros
À caça de investimento veio também a austríaca Marie Williere, de 21 anos. De jeans e t-shirt negras, a jovem explica que a Eyeson oferece uma solução semelhante ao Skype mas… melhor. Melhor como? “Garantimos a mesma qualidade de vídeo independentemente do número de participantes da conferência”, reforça.
No ano passado, Marie veio ao Web Summit como participante, estreando-se este ano como startuper. Desta edição, não leva investimento mas muitos contactos, potenciais parceiros e a impressão de que, desta vez, a feira foi “um bocadinho menor em termos de oferta”.
E por falar em parceiros, são muitos os cartões-de-visita que vão na mala do finlandês Konsta Leskela, de 23 anos.
A cinco passos do seu stand, Konsta olha atento para a multidão que flui pelas veias da feira. Tem um ar jovem mas aprumado. “Há muita coisa a acontecer. Para aproveitar é preciso ter um plano”, conta ao ECO.
Além de contactos, o finlandês diz levar na bagagem “muita inspiração” desta sua primeira visita à maior feira de tecnologia do planeta. Veio à boleia da Saavu, uma plataforma que agrega todos os passos da organização de eventos numa única página munida de uma espécie de chatbot.
“Voltamos com a nossa ideia confirmada”
A alguns corredores de distância, Daria e Peter Huszar, de 37 e 49 anos, preparam os seus computadores para a próximo picth. Os criadores da Deejni — uma espécie de Excel “automágico”, como gostam de chamar-lhe — já não são estreantes, mas garantem que voltaram com a mesma missão: “Mudar a vida dos analistas financeiros”.
De óculos em forma de asa de borboleta e camisola riscada, Daria apresenta o seu negócio: trata-se de uma ferramenta de automatização dos “processos de análise e controlo financeiro” que deverá “libertar o tempo” consumido atualmente em “trabalho de macaco”, isto é, no tratamento de dados, em vez de na sua avaliação.
“Levamos clientes e a confirmação do nosso problema. Toda a gente nos diz que tem este problema”, garante.
Semelhante souvenir da FIL leva Ali Ercan, de 38 anos. “A ideia testada. Já tinha funcionado na Turquia mas pode ser aplicada no Brasil, na China, na Austrália“, explica o turco da NeedsMap.
De acordo com a Ali, a sua solução permite sinalizar necessidades num mapa que podem receber resposta, não só organizações como de qualquer internauta.
Depois de ter conseguido implementar a sua ideia “com sucesso” na Turquia, os olhos do homem de barba mal cuidada e sorriso largo estão postos no horizonte. “Globalizar” é o verbo que lhe sai dos lábios, piscando também olho a Portugal.
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Nem só de empreendedores jovens vive o Web Summit
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