Chegar à reforma com 100 mil euros extra? Esta é a receita
Investir para a reforma é uma prioridade assumida "a sério" por poucos portugueses, que tendem a preferir produtos conservadores. Saiba o que é preciso para conseguir um pé-de-meia de 100 mil euros.
Para muitos portugueses, a ideia da reforma significa fugir do stress do quotidiano, viver confortavelmente e sem preocupações financeiras. Contudo, com o aumento da idade e a penalização das reformas antecipadas, cumprir esses desejos tornou-se mais difícil.
Os portugueses estão conscientes disso, mas a maioria continua a preferir confiar no Estado a determinação do valor da reforma. Mas eles próprios podem chamar a si a missão de complementar o valor da sua reforma. 100 mil euros extra seria uma ajuda valiosa para assegurar uma reforma tranquila. Mas sabe quanto teria de poupar e como aplicar a quantia amealhada para conseguir lá chegar? Implica um esforço de poupança e uma rentabilidade à altura.
A necessidade de complementar a reforma é algo que os especialistas defendem como sendo praticamente uma obrigação. “Nós contribuímos e esperamos ter uma pensão por parte do Estado, mas essa tem vindo a decrescer. Aquilo que esperávamos há alguns anos, agora já não é o mesmo”, alerta Cristina Duarte, especialista em reforma da Mercer, durante a conferência “Hora da Reforma” organizada pelo Novo Banco.
Se em 2002, tendo em conta o mecanismo de determinação do valor da reforma ainda em vigor naquela ocasião, o valor conseguido era de 74% do último salário, as regras atuais apontam para um valor médio de 60% do valor do último ordenado. E para tal é necessário ter 40 anos de descontos e ter pelo menos 66 anos. Para quem queira reformar-se mais cedo tem de contar com uma penalização de 6% por ano sobre o valor da reforma. E as regras atuais impõem que, por cada ano que passe, a idade da reforma suba em um mês.
"É preciso ter consciência que, atualmente, é importante começar a olhar para fatores externos à Segurança Social, para que possamos poupar e ter uma reforma digna.”
A especialista da Mercer lembra assim que “é preciso ter consciência que, atualmente, é importante começar a olhar para fatores externos à Segurança Social, para que possamos poupar e ter uma reforma digna”.
Nesse âmbito, considera que as empresas têm um papel a desempenhar, através dos planos de pensões e a educação dos seus trabalhadores com vista a que também procurem assegurar a sua estabilidade financeira no após vida ativa. Mas ao trabalhador também compete tomar uma atitude.
“As poupanças complementares de cada um de nós têm uma importância extrema para colmatarmos qualquer diferença que possa existir”, diz, acrescentando que “é importante começar a pensar. E a pensar o mais cedo possível na reforma“.
E a relevância de começar a pensar cedo na reforma é facilmente percetível através dos exemplos levados à conferência por Cristina Duarte. Imagine-se um hábito de poupança mensal de 50 euros. Tratando-se de um indivíduo que o comece a fazer aos 30 anos de idade, esse hábito permite-lhe chegar aos 66 anos com uma poupança de 36 mil euros. Já tratando-se de alguém que comece a poupar a mesma quantia, mas só aos 50 anos de idade, a poupança amealhado aos 66 anos é de apenas 13 mil euros. Ou seja, cerca de um terço daquele valor.
"A idade da reforma, 60 anos é o que gostaríamos, mas o que é facto é que para nos podermos reformar nessa idade teríamos que começar a poupar o mais cedo possível.”
“A idade da reforma, 60 anos é o que gostaríamos, mas o que é facto é que para nos podermos reformar nessa idade teríamos que começar a poupar o mais cedo possível” disse Mário Pires, diretor de clientes institucionais para Ibéria da Schroders, partilhando assim da mesma opinião da especialista da Mercer. “Numa fase inicial, quando começamos a trabalhar, é claramente a melhor altura para começar a poupar“, recomenda Mário Pires.
A relevância da idade com que se começa a investir na poupança para a reforma é percetível num outro exemplo, onde é adicionada uma componente de remuneração.
Assumindo como ponto de partida alguém que pretenda construir um complemento de reforma de 100 mil euros. Caso comece a poupar com 30 anos de idade irá necessitar de colocar de parte todos os meses 100 euros e garantir que essa quantia seja aplicada a uma taxa de rentabilidade anual média de 4%, para atingir esse objetivo. Começando aos 50 anos de idade, através do investimento em produtos financeiros com a mesma taxa de retorno, já seria necessário colocar de parte 350 euros todos os meses.
Um retorno de 4% ao ano não é, contudo, uma meta muita fácil de alcançar. Assumindo os mesmos 100 mil euros de objetivo final, mas através de uma majoração de 2% no valor da poupança anual, já bastaria que o investimento fosse feito em produtos financeiros que oferecem uma remuneração de 2,5%.
Ainda assim face ao perfil de investimento típico dos portugueses, atingir quer seja uma remuneração de 4% quer de 2,5% não é uma missão propriamente fácil.
Tal como revela um estudo levado a cabo pela Schroders junto de investidores de todo o mundo, chegada a hora de escolher como aplicar a poupança, no caso dos portugueses os depósitos continuam a ser os investimentos financeiros preferidos.
Entre os inquiridos nacionais, 45% elegeram os depósitos como a sua aplicação preferida. Em segundo lugar, e ainda bastante distante dessa proporção, aparecem os seguros e fundos de pensões (22%). Seguem-se-lhe as ações e outras participações (19%), enquanto os fundos de investimento reúnem apenas 3% das preferências.
“Mostra a natureza conservadora dos investidores portugueses. Não estamos preparados para investir, sobretudo se esse investimento se pode traduzir numa perda“, diz Mário Pires.
Um conservadorismo que, contrariamente ao que já aconteceu, rende atualmente muito pouco. Devido ao contexto de juros historicamente baixos, mesmo negativos, os bancos remuneram os novos depósitos a prazo a uma taxa de juro média de 0,15% ao ano. Descontando a inflação, em termos práticos significa uma perda de dinheiro.
Distribuição das poupanças por produtos financeiros
Schroders
O conservadorismo dos investidores portugueses não fica por aí. Atendendo às conclusões do estudo da Schroders, os investimentos financeiros por si só representam uma fatia de apenas 16% das poupanças das famílias. O grosso das suas poupanças acaba por ter como destino o imobiliário, cabendo a essa classe de ativos 76% do valor global.
Independentemente da quantia a aplicar, da rentabilidade pretendida, Pedro Arbués, responsável de produto e de marketing da GNB Gestão de Ativos, lembra que antes de escolher como investir, é determinante saber-se que tipo de investidor se é. “Independentemente de olhar para o futuro, é bom que aquilo que é o meu investimento reflita aquele que é o meu perfil como investidor. Arriscar por arriscar não tem sentido“, recomenda este responsável.
E nesse campo, o especialista da GNB Gestão de Ativos recomenda ainda a “alinhar o perfil de risco à carteira e ao horizonte de vida, tendo sempre em consideração a diversificação. Mas chama a atenção que “diversificar não significa ser colecionador“.
Prós e contras das principais classes de ativos
Imobiliário
Segurança da valorização do capital, resultante da subida do valor do imóvel;
Rendimentos periódicos provenientes do arrendamento.
Custo de entrada elevado;
Investimento com pouca liquidez;
Fim do efeito como ativo de refúgio devido ao atual nível de preços praticados.
Depósitos
Segurança dos valores aplicados até 100 mil euros por depositante ao abrigo do Fundo de Garantia de Depósitos;
Remuneração assegurada através do pagamento de um juro;
Nem sempre é assim, mas tradicionalmente o resgate das quantias depositadas é relativamente simples, apesar de poder implicar a perda de juros não vencidos.
Baixa remuneração oferecida: Na maioria das situações oscila entre 0% e 0,25%;
Perda do valor do dinheiro aplicado, resultante do efeito corrosivo da inflação que é superior à remuneração oferecida em quase todos os produtos.
Ações e obrigações
Ações: valorização do capital e rendimentos periódicos quando há lugar ao pagamento de dividendos;
Obrigações: Devolução do capital no vencimento e rendimentos periódicos assegurados pelo pagamento de um cupão.
Excesso de exposição a títulos individuais;
Imobilização das aplicações e custos de transação elevados;
Risco de incumprimento ou de redução de dividendos.
Fundos de investimento
Exposição diversificada a diferentes tipos de ativos, regiões geográficas e setoriais;
Custo de acesso baixo já que muitas vezes bastam 10 euros ou 100 euros para poder investir;
Gestão da carteira de ativos é assegurada por um gestor profissional.
Custos com comissões que lhes estão associados;
Há fundos de investimento com capital garantido, mas noutros não existe essa garantia.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Chegar à reforma com 100 mil euros extra? Esta é a receita
{{ noCommentsLabel }}