“Malparado é o cancro da banca”, diz Vieira Monteiro. “Não chamaria cancro, mas doença grave”, responde Maya
Em Lisboa, a presidente do Mecanismo Único de Supervisão, Danièle Nouy, disse esperar que bancos portugueses estejam a esforçar-se para reduzir o malparado.
“O crédito malparado deve ser resolvido imediatamente pois é o cancro da banca”, defendeu António Vieira Monteiro, presidente do Santander Totta. Ao seu lado, Miguel Maya, do BCP, rejeitou a comparação: “Não chamaria um cancro, mas é uma doença grave”. Enquanto António Ramalho falava em “recordes” de crédito problemático no seu Novo Banco, Fernando Ulrich, chairman do BPI, disse que “não sendo um grande problema, reduzir os NPL (non performing loans) é um grande objetivo”.
Foi durante a conferência sobre os “quatro anos do Mecanismo Único de Supervisão: lições e desafios”, organizada esta terça-feira pelo Banco de Portugal, em Lisboa, que os responsáveis pelos cinco grandes bancos nacionais (incluindo ainda Paulo Macedo, presidente da Caixa Geral de Depósitos) falaram sobre o problema que atormenta mais uns do que outros: o crédito em incumprimento ou, na linguagem mais técnica, NPL.
Vieira Monteiro comparou estes ativos tóxicos a um cancro que afeta o banco. Já Miguel Maya preferiu chamar-lhe “doença grave” porque “a questão não é assim tão importante se os bancos tiverem as imparidades adequadas”. O CEO do BCP lembrou a seguir que o banco reduziu o nível de NPL em 1,8 mil milhões no último ano e que conta estar em linha com a média europeia em 2020, isto para mostrar que “não empurra o problema com a barriga”.
"O crédito malparado deve ser resolvido imediatamente pois é o cancro da banca.”
Por seu turno, este “problema” não preocupa tanto Ulrich, que liderou o BPI na última década antes de ser substituído por Pablo Forero em 2017. “O BPI é o que tem os rácios de NPL ou NPE mais baixos, mas temos sempre o objetivo de melhorar. Não sendo um grande problema, é um grande objetivo. Também estamos a reduzir os níveis mas de uma forma mais voluntária porque o ponto de partida é melhor”, assinalou o agora presidente do conselho de administração do BPI.
Do lado do Novo Banco, António Ramalho colocou o cenário em perspetiva: “Quando se falam de bancos que estão particularmente bem, o problema é um. Quando os bancos têm excesso de malparado, e onde eu sirvo bate todos os recordes, naturalmente que o problema é outro“, disse Ramalho.
Adiantou que, “de uma forma adequada”, o banco deve resolver o problema do malparado “o quanto antes”. “Sou muito prático: todos os adiamentos do presente vão representar imparidades no futuro“. Isto numa altura que o Novo Banco se prepara para alienar uma importante carteira de malparado, no valor de 1.700 milhões de euros, com KKR, Deutsche Bank e Cerebrus na corrida.
Sobre o mesmo tema, Danièle Nouy, presidente do Mecanismo Único de Supervisão, lembrou que as autoridades europeias não estão a olhar para o nível de malparado, mas antes para o “stock, para o legado, para o montante absoluto”.
"Quando se falam de bancos que estão particularmente bem, o problema é um. Quando os bancos têm excesso de malparado, e onde eu sirvo bate todos os recordes, naturalmente que o problema é outro.”
Falando na mesma conferência, a responsável disse esperar que os bancos “estejam a fazer esforços” para baixar este fardo, porque é “necessário que regressam à rentabilidade” para estarem mais bem preparados para uma eventual crise futura.
Pouco depois, em jeito de resposta a Nouy, Elisa Ferreira fez um ponto de situação em relação à situação portuguesa: “Em termos absolutos, em junho de 2016, o montante de NPL era de 50 mil milhões de euros. Agora é de 32 mil milhões. Foi um grande trabalho, resultou de uma colaboração próxima entre Banco de Portugal e os bancos”.
A vice-governadora frisou mesmo que “estas mudanças estão a ser reconhecidas pelo mercado, através das melhorias de rating da parte das agências”.
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