Quarta maior exportadora nacional queixa-se do encerramento de posto dos CTT. Ministro preocupado
A quarta maior exportadora nacional está contra o fecho da estação dos CTT em Lousado, terra onde está sediada. CTT já responderam e prometeram analisar melhor a situação. Governo está preocupado.
A Continental, a quarta maior empresa exportadora a nível nacional, sente-se prejudicada pelo encerramento da estação dos CTT de Lousado, em Famalicão, local onde está sediada. E deu conta desse seu descontentamento através de uma carta enviada a Francisco Lacerda. Os CTT já responderam e a solução deverá passar pela Junta de Freguesia. O ministro da Economia mostra-se preocupado com esta estratégia.
Numa carta enviada a Francisco Lacerda, com data de novembro, a Continental, começa por puxar dos galões. Recorda que é a quarta maior exportadora em Portugal, que tem mais de 2.150 colaboradores e que o mercado nacional consome cerca de 2% da produção nacional que excede os 18 milhões de euros.
Pedro Carreira, presidente do grupo Continental em Portugal, que assina a carta, adianta que apesar de não haver “correspondência direta entre o volume de produção e a correspondência postal expedida e recebida via CTT, há uma relação imediata proveniente do número de clientes, fornecedores e entidades privadas ou oficiais que se relacionam com a nossa empresa”.
Para o gestor “este relacionamento obriga-nos a deslocações ao posto dos CTT de Lousado de pelo menos duas vezes por dia, quando não são três, para tratar do levantamento ou expedição, bem como proceder à recolha da correspondência endereçada para o nosso apartado; sendo certo que todas estas operações movimentam valores na ordem dos 47.000,00 euros por ano“.
Na missiva, Pedro Carreira evoca ainda as dificuldades dos reformados e até de outras empresas em situação semelhante à Continental, e sobretudo deixa um alerta sobre a captação de investimento.
“Sabe-se que novos investimentos só se conseguem quando as empresas são capazes de mostrar aos investidores que, entre outros, a região tem boas infraestruturas e serviços profissionais de comunicação”, refere.
Neste tipo de análise, prossegue o gestor “os CTT são também um ponto a considerar”. “Por isso solicitamos que não nos retirem um dos argumentos, e que nunca são de mais, que temos junto do nosso acionista, a Continental AG”.
A Continental escreveu ainda uma outra missiva à Anacom, dando conta de que este encerramento representa “um claro desrespeito pelas empresas aqui [em Lousado] sediadas”.
O assunto foi puxado pelo PCP para a audição que decorreu esta quarta-feira no Parlamento ao ministro Adjunto e da Economia. Partindo do caso particular do fecho do balcão dos CTT de Lousado para o geral, Pedro Siza Vieira admite que este é “um tema preocupante”.
“Temos de responder a duas coisas. Precisamos de assegurar que as necessidades do serviço postal são satisfeitas de qualquer maneira, em qualidade e com tempo, independentemente do modo de prestação de serviço. E temos algumas notícias de que a qualidade do serviço se degrada. Depois temos uma segunda preocupação, que é uma preocupação de outro nível que tem a ver com coesão territorial que é se o próprio serviço de correios deve contribuir para a criação de emprego e a manutenção de postos de trabalho específicos dos correios nos territórios do interior.”
O ministro admite que são dois aspetos diferentes de olhar para a questão e não hesitou em escolher qual delas é, na sua opinião, prioritária. “O que acho que temos, antes de mais, de exigir é que o serviço de correios preste um serviço de qualidade atempadamente e que responda às necessidades das populações”.
Aquilo que temos visto – e é isso que essa carta da Continental assinala – é que o discurso de dizer fechamos a estação de correios mas prestamos por outra forma não é sempre verdadeiro
“O modo de o servir é uma outra discussão”, acrescenta. “Aquilo que temos visto — e é isso que essa carta da Continental assinala — é que o discurso de dizer fechamos a estação de correios mas prestamos por outra forma não é sempre verdadeiro. E portanto acho que essa é também uma questão de reflexão, independentemente da questão de saber se mantemos ou não os postos de trabalho dos trabalhadores das estações de correio — que também merece essa preocupação — mas essa pergunta que coloca a Continental é a primeira pergunta que devemos colocar”, defendeu Pedro Siza Vieira.
CTT prometem analisar melhor a situação
A resposta por parte dos CTT surgiu rapidamente. O ECO sabe que a prestadora do serviço público postal já respondeu à Continental dando conta de que estaria a analisar, em conjunto com a Câmara Municipal de Famalicão, a situação.
A solução poderá passar pela Junta de Freguesia que já se mostrou disponível para aceitar o serviço. A acontecer será mais uma passagem de estação a posto de correios, uma solução que a Anacom, depois de várias ações de fiscalização, considera não ser muito eficiente. Para o regulador existe “carência de formação” dos profissionais, “falta de acesso” para utilizadores com necessidades especiais e tempos de espera muito elevados.
As queixas da Continental surgem na sequência do ambicioso plano de restruturação dos CTT, lançado no início de 2018, e que prevê o encerramento de lojas dos CTT em vários concelhos, substituindo-os por postos de correio.
Ainda segundo a entidade reguladora, o ano de 2018 terminou com 33 concelhos sem pelo menos uma estação de correio, quando, em 2017, eram apenas dois. Além disso, a Anacom garante que “é expectável que o número de concelhos sem estações de correio suba para 48 no curto prazo”, quando forem revelados os resultados da empresa relativos ao quarto trimestre”.
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