“É crucial participar na digitalização, sob pena de a Europa perder relevância”, diz Carlos Costa

Perante o cenário inegável da digitalização, o governador do BdP alerta para a importância de participar neste processo, sobretudo quando países como a China "ameaçam" a relevância europeia.

O panorama é de digitalização, já não é possível negá-lo. Os países que não acompanham a transformação digital correm o sério risco de perder influência, e a Europa tem de estar atenta, sobretudo quando países como a China ganham cada vez mais peso no campo do desenvolvimento tecnológico.

“É crucial participar nesta inovação e digitalização, sob pena de a Europa perder relevância no panorama internacional”, alerta Carlos Costa, governador do Banco de Portugal (BdP), durante a conferência “Investimento, inovação e digitalização”.

“Vivemos num mundo cada vez mais globalizado”, marcado pela “ascensão rápida do setor digital” e pelo “aparecimento de novos players globais no domínio da investigação e desenvolvimento, como seja o caso da China“, afirma. “Bastará ver os desenvolvimentos tecnológicos mais recentes da China para perceber o que está em causa”, acrescenta o governador do BdP.

Carlos Costa fez, ainda, questão de recordar que, há muitos anos, numa conferência em que participou sobre a influência da digitalização, disse que uma das grandes consequências passava pela permissão da venda à distância, “ultrapassando os limites geográficos e criando novas plataformas de vendas”. Nessa altura estava, porém, “muito longe de imaginar o que viria a ser, depois, a Amazon e o Alibaba”, lembra.

Agora, passados alguns anos, este já não é apenas um cenário possível mas a própria realidade. “É a guerra da competitividade e da afirmação económica mundial”, afirma. Contudo, uma guerra na qual a Europa parece ser mais fraca. “O que temos vindo a verificar é que os europeus perderam pé neste terreno, que é o terreno do impacto da digitalização sob as formas de integração económica e relações entre agentes, espaços e sociedades”.

Para acelerar o processo de transformação digital — tal como para haver crescimento económico — o investimento é fundamental e, sobre isto, Carlos Costa salienta que o Banco Europeu de Investimento (BEI) tem sido “um ator vital para o desenvolvimento económico do nosso país”.

“Não é possível falar da transformação no setor da energia ou da infraestruturação sem falar no Banco Europeu de Investimento, dado que esteve sempre presente”, afirma Carlos Costa. “É pela via do investimento, da aposta na inovação, que se podem criar condições para o aumento da produtividade a longo prazo. Mas mais do que a produtividade, é por esta via que se pode alcançar a escala que é necessária para assegurar a viabilidade económica dos projetos”, refere o governador do BdP.

Emma Navarro, vice-presidente do Banco Europeu de Investimento, recorda que “Portugal é um dos maiores recetores de financiamento do plano Juncker”. Desde o lançamento do programa, foram aprovados cerca de 38 projetos, o que significa um financiamento de 2,3 mil milhões de euros.

Emma Navarro, vice-presidente do Banco Europeu de Investimento, e Carlos Costa, governador do Banco de Portugal.Hugo Amaral/ECO

Quanto ao financiamento do BEI para Portugal, desde o início, em meados dos anos 70, o valor ronda 50 mil milhões de euros. E, apesar das diferenças nos períodos antes e depois da crise, Emma Navarro salienta que o investimento em Portugal tem vindo a recuperar ano após ano. “Portugal tem sido um dos países mais afetados pela crise, mas hoje a reviravolta da economia portuguesa é notável” e “após uma grave recessão, a economia tem vindo a recuperar a um ritmo acelerado, acima da média da União Europeia”, refere a vice-presidente do BEI.

As empresas estão em vantagem, mas há espaço para melhorar

Portugal e a Europa continuam a “lutar” pela relevância e protagonismo no panorama internacional, no que toca ao processo de transformação digital, num contexto, contudo, marcado pela recuperação económica. E as empresas estão em vantagem, quando confrontadas com as famílias ou até com o Estado.

“Portugal recuperou [da crise] mas mais no setor empresarial do que nas famílias e no Estado”, refere Carlos Costa. De acordo com os dados do relatório e do inquérito do BEI sobre o investimento, “duas em cada cinco empresas (cerca de 40%) declaram ter desenvolvido ou introduzido novos produtos”, acrescenta o governador do Banco de Portugal, salientando que o valor se situa acima da média da UE (que é de 34%)”.

E se, por um lado, 40% das empresas inovam, por outro, 14% declara que essa inovação não se limita ao país onde trabalha, inovando, também, no mercado global.

Ainda assim, os dados do BEI dizem que o investimento atual português continua abaixo do investimento verificado nos anos antes da crise, “nomeadamente no que toca ao investimento em equipamento e infraestruturas”.

Do lado do BEI, Emma Navarro deixou a garantia de que a entidade vai continuar a apoiar Portugal. “Enquanto banco da União Europeia, estamos preparados para continuar a apoiar a economia portuguesa, como temos feito desde a nossa primeira operação no país em 1976”, diz.

“O esforço que temos de fazer tem de ser ainda mais intenso”

Pedro Siza Vieira, ministro Adjunto e da Economia, ainda que partilhe da mesma opinião — que o país tem feito um percurso “muito significativo” –, alerta que esse percurso tem de ser “continuado” e, sobretudo, “acelerado”. “Temos de acelerar muito nos próximos tempos, se não queremos perder esta batalha”, refere, relembrando que outros países também estão a melhorar e a ganhar terreno no panorama internacional.

Siza Vieira diz que o desafio da indústria 4.0 exige das empresas, além de criatividade, um conjunto de fatores que são críticos, desde a qualificação dos recursos humanos a novos processos e equipamentos.Hugo Amaral/ECO

A par da inovação, o investimento é um fator “decisivo” para o sucesso da transformação digital, fator esse que tem registado, aliás, um crescimento em Portugal, sobretudo ao longo dos últimos anos. E para os próximos anos, Siza Vieira afirma que se prevê “a aceleração do investimento privado”.

Contudo, nem tudo é um mar de rosas. “Na verdade, sabemos que o nível de capital disponível continua reduzido quando comparado aos anos anteriores à crise. Portanto, o esforço que temos de fazer tem de ser ainda mais intenso”, diz.

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