TVs e anunciantes fazem as pazes… até ao fim do ano. Ameaça dos canais não se materializou, diz António Casanova
A CAEM acordou com a GfK a medição das audiências televisivas até ao fim do ano. Contrato "unilateral" com as televisões caiu por terra, assim como a nova associação, garante presidente da APAN.
A comissão que junta televisões e anunciantes prorrogou até ao fim deste ano o contrato para que a GfK continue a medir as audiências televisivas. A notícia surge poucas semanas depois de a RTP, a SIC e a TVI terem ameaçado criar uma nova associação que iria contratar o serviço da GfK de forma unilateral, um movimento que mereceu reprovação por parte dos anunciantes.
Num encontro com jornalistas esta terça-feira, António Casanova, líder da Unilever e presidente da associação que junta os maiores anunciantes portugueses, não deixou margem para dúvidas: “Neste momento, o contrato da CAEM [Comissão de Análise de Estudos de Meios] com a GfK foi renovado para todo este ano. E foi renovado com a aquiescência das televisões. Para 2019, manteremos todos a GfK como medidora das audiências e manteremos um sistema de CAEM a funcionar”, afirmou aquele que é também um dos maiores investidores em publicidade no país.
António Casanova, em resposta a questões colocadas pelo ECO, confirmou que o contrato em causa, que foi prorrogado, “era o contrato que existia, conforme estava”. “Houve uma prorrogação de um ano. Portanto, a ideia que existia inicialmente de que o contrato da GfK iria ser feito diretamente com as televisões a partir de janeiro não vingou”, afirmou o presidente executivo da Unilever, que tem liderado um dos lados da barricada neste diferendo entre anunciantes e os operadores de televisão livre.
A ideia que existia inicialmente de que o contrato da GfK iria ser feito diretamente com as televisões a partir de janeiro não vingou.
Casanova quer Cofina na comissão
Reconhecendo que os anunciantes não pagam “diretamente” este serviço mas mantêm um poder de decisão no seio da CAEM, o gestor disse ainda desconhecer se as televisões chegaram a formalizar a criação de uma associação independente da CAEM, como tinham anunciado num comunicado conjunto no final de novembro. “O que soubemos é que eles [operadores de televisão livre] tinham intenção de formar a associação. Eu não sei se a associação foi criada. Mas julgo que não, porque a associação nunca se apresentou como um interlocutor”, justificou António Casanova, garantindo que “os interlocutores continuam a ser os presidentes das três televisões”.
Sobre se considera que o diferendo está sanado até ao final deste ano, o gestor anuiu: “Eu creio que sim”. Mas reconheceu que RTP, SIC e TVI veem na CAEM “algumas lógicas” de governação que “gostariam de ver revistas”.
Contudo, contrapôs com a ausência de operadores de televisão por cabo no departamento de meios da CAEM, como é o caso do grupo Cofina, dona do Correio da Manhã e da CMTV. “Temos de pensar. As plataformas cabo que hoje em dia são super importantes também gostariam de ter uma voz que é diferente daquela que tinham há dez anos. Existe a lógica dos FTA [free-to-air, canais de distribuição livre na TDT], mas existem mais lógicas no mercado. Por exemplo, a Cofina ainda não é parte da CAEM e obviamente que tem de ser. Tem sido vetada a sua entrada sucessivamente pelos [canais] FTA”, avisou.
“É óbvio que todos esses novos meios têm de fazer parte da CAEM. Dez anos depois [da criação da comissão], há lógicas diferentes”, apontou António Casanova. Atualmente, a CAEM, para além de agências de meios, anunciantes e televisões, tem a operadora Meo.
O ECO contactou a RTP, Impresa (SIC) e Media Capital (TVI) no sentido de confirmar e obter uma reação a estas declarações. Encontra-se a aguardar resposta.
Choque marcou o mês de novembro. Mês e meio depois, tudo igual por mais um ano
A 2 de novembro, os três canais que fazem parte da oferta generalista de televisão livre no país anunciaram ter fechado com a GfK um acordo para manter a medição de audiências até ao final de 2019, depois de a CAEM ter, alegadamente, falhado as negociações com a empresa de medição.
“Não tendo as partes não tendo as partes logrado alcançar um entendimento relativamente à renovação ou prorrogação do mesmo, os operadores televisivos em apreço acordaram com a GfK, para garantir a estabilidade no mercado, a prestação do serviço de medição de audiências, a partir do dia 1 de janeiro de 2019, por um período transitório de 12 meses”, anunciavam RTP, SIC e TVI. A ideia era lançar um concurso internacional durante este ano.
A decisão mereceu reprovação dos anunciantes. Em comunicado, a 9 de novembro, a Associação Portuguesa de Anunciantes (APAN) disse que a decisão das televisões “materializa o rompimento unilateral por parte dos operadores televisivos em sinal aberto do consenso entre os principais stakeholders do mercado, mantido desde há oito anos no seio da CAEM”. Mostrando-se surpreendida, a associação disse reprovar esta decisão.
No final do mês, o dossiê voltou a conhecer desenvolvimentos. Os três canais anunciaram a criação de uma associação para “modernizar a medição de audiências de televisão”. “RTP, SIC e TVI decidiram fundar uma nova associação responsável pela medição das audiências de televisão em Portugal, seguindo as melhores práticas internacionais, e tendo como objetivo principal a promoção, a modernização e a transformação futura da indústria televisiva em Portugal”, lia-se num comunicado conjunto datado de 21 de novembro. A intenção era convidar os anunciantes a fazerem parte deste novo organismo, desenhado de uma forma diferente da CAEM.
"Julgo que não [foi criada uma associação por parte das televisões], porque a associação nunca se apresentou como um interlocutor.”
Fontes informais próximas das televisões contaram ao ECO, em novembro, que o processo de decisão no seio da CAEM é “muito complexo” e queixavam-se de que os anunciantes não pagam o serviço de medição de audiências mas usufruem dele e também tomam decisões. Mês e meio após a rutura, parece ter ficado tudo igual.
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