Itália adere à Faixa e Rota da China apesar de pressão de Washington e Bruxelas
Iniciativa apoiada por Portugal visa conectar o sudeste Asiático, Ásia Central, África e Europa. É vista como uma versão chinesa do Plano Marshall.
Itália deverá tornar-se, junto com Portugal, um dos poucos países da União Europeia (UE) a apoiar formalmente o projeto internacional de infraestruturas lançado pela China “Faixa e Rota”, apesar da oposição de Washington e Bruxelas.
Citado pelo Financial Times, o subsecretário do ministério italiano do Desenvolvimento Económico, Michele Geraci, revelou que Roma deve assinar um memorando de entendimento de apoio aquela iniciativa, que materializa a nova vocação internacionalista de Pequim.
A iniciativa visa conectar o sudeste Asiático, Ásia Central, África e Europa, e é vista como uma versão chinesa do ‘Plano Marshall’, lançado pelos EUA após a Segunda Guerra Mundial, e que permitiu a Washington criar a fundação de alianças que perduram até hoje.
O documento deverá ser assinado este mês, durante a visita a Itália do Presidente chinês, Xi Jinping.
“As negociações ainda não terminaram, mas é possível que sejam concluídas a tempo para a visita de Xi”, disse Geraci, citado pelo Financial Times.
“Queremos ter a certeza de que os produtos ‘Made in Italy’ podem ter mais sucesso em termos de volume de exportação para a China, que é o mercado que mais cresce no mundo”, explicou.
A iniciativa tem, no entanto, suscitado divergências com as potências ocidentais, que veem uma nova ordem mundial ser moldada por um rival estratégico, com um sistema político e de valores profundamente diferente.
A Casa Branca disse já que a inclusão de Itália nos planos chineses não ajudará o país economicamente e pode prejudicar significativamente a sua imagem internacional.
“Nós vemos [a Faixa e Rota] como uma iniciativa ‘Made by China, for China’ [Feita pela China, para a China]”, reagiu o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Garrett Marquis.
“Estamos céticos de que o apoio do Governo italiano trará quaisquer benefícios económicos sustentáveis para o povo italiano e isso pode acabar por prejudicar a reputação global de Itália a longo prazo”, disse.
Bancos estatais e outras instituições da China estão a conceder enormes empréstimos para projetos lançados no âmbito daquele gigantesco plano de infraestruturas, que inclui a construção de portos, aeroportos, autoestradas ou linhas ferroviárias ao longo de vários continentes.
Mas os Estados Unidos apontam para um aumento problemático do endividamento, que em alguns casos coloca os países numa situação financeira insustentável, permitindo a Pequim avançar com os seus interesses geopolíticos.
No Sri Lanka, um porto de águas profundas construído por uma empresa estatal chinesa, numa localização estratégica no Índico, revelou-se um gasto incomportável para o país, que teve de entregar a concessão da infraestrutura e dos terrenos próximos à China, por um período de 99 anos.
“Todos os aliados e parceiros, incluindo a Itália, devem pressionar a China a alinhar os seus esforços globais de investimento com os padrões internacionais e as boas práticas”, apontou Garrett Marquis.
Xi chega a Itália em 22 de março, no dia seguinte a um encontro da União Europeia, em Bruxelas, que vai debater a criação de uma abordagem comum para os investimentos chineses no bloco europeu.
Alemanha e França têm pressionado por critérios de seleção mais rigorosos para os investimentos chineses no continente.
Em dezembro passado, durante a visita de Xi Jinping a Lisboa, Portugal e China assinaram um memorando de entendimento para a cooperação bilateral no âmbito da ‘Faixa e Rota’.
Lisboa quer incluir uma rota atlântica no projeto chinês, o que permitiria ao porto de Sines conectar as rotas do Extremo Oriente ao oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá.
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