Mexia alinha com três das propostas do Elliott para a EDP. Brasil é o ponto de discórdia

Fundo ativista manifestou-se em fevereiro contra a OPA e propôs um plano alternativo de crescimento. Esta terça-feira, a EDP apresentou uma atualização da estratégia, em que vários pontos se cruzam.

A EDP tem uma estratégia definida, mas um futuro incerto. Há dez meses que a China Three Gorges (maior acionista da elétrica) lançou uma oferta pública de aquisição (OPA) pelo restante capital, que tem enfrentado entraves com os reguladores e, mais recentemente, oposição de um fundo ativista. O ElliottManagementCompany fez sugestões à gestão da elétrica, que corresponderam — em parte — à atualização do plano estratégico 2019-2022 apresentado esta terça-feira pelo CEO da EDP, António Mexia.

Apesar de deter apenas 2,29%, o fundo enviou, em fevereiro, uma carta à EDP, em que explica porque é que a OPA lançada em maio de 2018 pela CTG é negativa para a empresa e qual acredita ser a melhor estratégia. O fundo de Paul Singer considera que a EDP tem três caminhos: o status quo, a oferta da CTG ou a “Nova EDP”.

Esta terceira opção tem como pilares a otimização do negócio core para cortar dívida e crescimento através de oportunidades no setor das renováveis. António Mexia vai concretizar as duas vontades. Por um lado, pretende usar cerca de dois mil milhões para reduzir a dívida para 11,5 mil milhões de euros em 2022 (ligeiramente abaixo da sugestão do Elliott de 2,8 mil milhões para abater parte da dívida líquida). Por outro, a EDP vai alocar sete mil milhões a investimentos em renováveis (contra uma proposta de 3,5 mil milhões de euros para o segmento).

Renováveis e otimização de portefólio alinhadas

“Otimização” é uma palavra usada por ambos, que partilham também a visão sobre o reforço na energia renovável. Mas nos pormenores há diferenças. A sugestão do Elliott era de alienação de ativos de geração convencional (ou seja, centrais a carvão) na Península Ibérica por 1,7 mil milhões de euros.

O plano estratégico indica que a EDP prevê encaixar mais de dois mil milhões de euros com a venda de ativos em regime de mercado e centrais térmicas, incluindo na Península Ibérica. Além da alienação, projeta ainda conseguir quatro mil milhões de euros com rotação de ativos.

O fundo criado por Paul Singer sugeria a venda de 49% da posição minoritária na distribuição de eletricidade Ibérica por 3,6 mil milhões de euros. Apesar de a apresentação da EDP indicar que o foco das vendas (para rotação de ativos) serão participações maioritárias, não especifica se esta é ou não também uma opção.

Não há planos de venda da EDP Brasil

O ponto de cisão entre os dois é mesmo o Brasil. Era uma das bases da carta do fundo Elliott: sugeria à EDP a alienação de 51,2% (ou seja, a totalidade da participação) da EDP Brasil, que poderia render 2,3 mil milhões de euros e ajudar a diminuir o custo médio da dívida (que é mais elevada no mercado brasileiro que nos restantes mercados). Mas os planos da elétrica não só não fazem referência a esta hipótese, como falam da expansão no país.

Até 2022, a EDP quer investir 25% do total de CAPEX para os três anos de 12 mil milhões de euros no Brasil, ou seja, três mil milhões de euros. Só para energia solar descentralizada, são previstos um investimento de 150 milhões de reais (cerca de 35 milhões de euros) por ano. O país é classificado como um “mercado-chave”, onde pretende “manter a exposição e opção de crescimento”.

Na secção sobre crescimento em geografias onde já tem atividade, aponta para os “fortes fundamentos (por exemplo vento) e tamanho considerável do mercado” brasileiro. Quanto ao posicionamento estratégico no país, aponta ainda para “uma execução superior de projetos existentes e uma melhoria contínua das operações”, acrescentando que está “aberto a consolidação e valorização de oportunidades de crescimento”.

O Brasil é o segundo mercado onde a EDP tem maior número de clientes (3,5 milhões), apenas atrás de Portugal (5 milhões). Na conferência de imprensa que se seguiu à publicação do plano, António Mexia não fechou a porta a alterações na atividade no Brasil, tendo garantido apenas que tomará as decisões necessárias para criar valor para o grupo.

Novo mínimo de dividendos deverá agradar

Apesar disso, os dividendos deverão agradar. O fundo Elliott queria que a remuneração acionista crescesse até aos 0,24 euros por ação até 2021, impulsionada pela implementação da proposta delineada pelos norte-americanos. A elétrica vai dar (tal como em 2017) 0,19 euros por ação dos lucros do exercício do ano passado.

Este mesmo valor vai também passar a ser o mínimo definido pela empresa, que tem assim espaço para aumentar a remuneração. Até porque apontou como objetivo que o rácio de payout dos lucros — que antecipa atinjam mil milhões de euros em 2022 — se situe entre os 75% e 85%, ou seja, 10 pontos percentuais acima do anterior objetivo.

O fundo ativista considera que a cotada poderá atingir os 4,33 euros por ação, face aos 3,26 euros oferecidos pela CTG, e queria ver implementado um programa de recompra de ações de 1,2 mil milhões de euros. Quanto ao segundo ponto não há qualquer referência no plano, mas os títulos valorizam em bolsa em reação à apresentação da nova estratégia.

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