CGD vai executar garantias de Berardo? “Desejo-lhes muita sorte”, diz Paz Ferreira

O antigo presidente da comissão de auditoria duvida que a atual administração da CGD consiga executar as garantias dos créditos de Joe Berardo. "Tem bons advogados", disse Paz Ferreira.

“Nunca vi o contrato de financiamento, mas admito que a execução dessas garantias seja extremamente difícil. Ouvi dizer que a atual administração quer fazer uma operação kamikaze para chegar ao core de Joe Berardo. Desejo-lhes muita sorte”, disse antigo presidente da comissão de auditoria da Caixa Geral de Depósitos (CGD).

Eduardo Paz Ferreira explicou de seguida por que razão está “muito longe de acreditar” que as garantias do empresário madeirense possam ser executadas. Em primeiro lugar, por causa da “enorme complicação jurídica nas ligações entre a Fundação Berardo e o Estado”. E, depois, porque Joe Berardo sabe escolher “bons advogados” para o defender destas execuções, disse Eduardo Paz Ferreira na II comissão parlamentar de inquérito à recapitalização da CGD e aos atos de gestão.

Foram vários os empréstimos a Joe Berardo da parte da CGD. Mariana Mortágua revelou que o primeiro deles foi de 380 milhões de euros, em 2005. Mas houve mais financiamentos ao comendador em 2006 e 2007, “no preciso momento quando começa a guerra acionista no BCP”, segundo a deputada do Bloco de Esquerda, questionando Paz Ferreira sobre se alguma vez o conselho de administração mencionou o facto de estar a financiar Joe Berardo para a compra de ações do BCP no meio do conflito entre acionistas.

"Ouvi dizer que a atual administração quer fazer uma operação kamikaze para chegar ao core de Joe Berardo. Desejo-lhes muita sorte.”

Eduardo Paz Ferreira

Antigo presidente da comissão de auditoria da CGD

“O grosso das operações não foi no meu tempo”, reconheceu Paz Ferreira, que foi presidente do conselho fiscal entre 2007 e 2010 e presidente da comissão de auditoria entre 2010 e 2015. Mas “não posso dizer que eu não tenha percebido a relação entre as duas operações [crédito a Berardo e guerra acionista no BCP]”, notou o responsável.

Paz Ferreira lembrou que a CGD não foi o único banco a financiar Joe Berardo e que, naquela altura, se vivia numa euforia, numa “economia de casino em que parecia que tudo era fácil”.

Já na segunda intervenção, Mariana Mortágua citou uma ata da CGD, onde o administrador José Pedro Cabral dos Santos referiu-se a um financiamento a Joe Berardo nestes termos: “As normas internas não recomendam, mas uma vez que é Joe Berardo…” Paz Ferreira foi surpreendido com a citação da deputada e sugeriu que Joe Berardo fosse “um cliente especial, à margem das regras da CGD” dada a sua notoriedade pública.

Joe Berardo deu como garantia colateral os títulos que tem da Associação Coleção Berardo, uma das entidades que está na origem da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea. Ainda assim, não é certo que as obras que estão no Museu Coleção Berardo sejam o património que pertence à Associação Coleção Berardo, daí que os vários bancos credores (CGD, BCP e Novo Banco) estejam com dificuldades neste processo de execução de garantias.

(Notícia atualização às 21h32)

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