Álvaro Santos Pereira: “A cultura de impunidade neste país tem de acabar”
Atual diretor da OCDE, Álvaro Santos Pereira lembra a pressão portuguesa no relatório que preparou sobre a corrupção em Portugal: "Recebo pressões todos os dias. Do Governo português foi superior".
Três meses depois do polémico relatório da OCDE que analisou a corrupção em Portugal, Álvaro Santos Pereira lembra o episódio de pressões da parte do Governo português que não tiveram comparação com a pressão que recebe diariamente de outros países. “Recebo pressões de governos a toda a hora”, disse o antigo ministro da Economia do Governo de Passos Coelho. Mas do Executivo de António Costa “foi muito superior”, relatou em entrevista ao Expresso. “Para alguns membros da delegação portuguesa, a palavra corrupção não devia aparecer sequer”, acrescentou.
Santos Pereira é atualmente diretor da OCDE. Por causa da polémica, foi afastado da apresentação do relatório em Portugal. “Houve pelo menos uma ou duas chamadas do presidente do Eurogrupo [Centeno] e, de seguida, o secretário-geral informou-me que não só eu não estaria presente na cerimónia como também o seminário técnico ficaria para um ou dois meses depois”, recordou na mesma entrevista (acesso condicionado). Ainda assim, diz não sentir-se desautorizado pela OCDE. “Se eu entendesse como uma desautorização ter-me-ia automaticamente demitido”.
O antigo ministro da Economia do anterior Governo diz que a “cultura de impunidade tem de acabar em Portugal” e que há pessoas com medo de falar sobre corrupção.
“Foi noticiado que chegámos ao cúmulo de ter leis para o privado escritas pelo próprio privado. Como é possível os deputados da nação calarem-se com um escândalo destes? Como é possível não termos a Justiça e os políticos a insurgirem-se contra esta questão? Isto é gravíssimo. Outro caso: passaram quase oito anos sobre a crise financeira que nos levou ao resgate; passaram quase cinco anos sobre a maior fraude financeira que este país viu. Onde estão as pessoas julgadas? Continua a haver uma prática de impunidade quando devia haver uma cultura de integridade”, disse.
"Passaram quase oito anos sobre a crise financeira que nos levou ao resgate; passaram quase cinco anos sobre a maior fraude financeira que este país viu. Onde estão as pessoas julgadas? Continua a haver uma prática de impunidade quando devia haver uma cultura de integridade.”
Sobre o atual momento da economia, Santos Pereira considera que se Portugal mantiver os atuais níveis de crescimento nos próximos anos arrisca-se a continuar a perder jovens qualificados e rejeitou que Mário Centeno tenha sido o obreiro do milagre da economia portuguesa.
“Porque é que Mário Centeno conseguiu um milagre? O ministro das Finanças é responsável pela situação orçamental, não pela competitividade da economia. Só se baixar o IRC”, sublinhou.
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