Pedro Marques está confiante que o PS vai vencer os três atos eleitorais de 2019, começando pelas Europeias. E considera "natural" que o PSD esteja a subir nas sondagens.
Pedro Marques lamenta que o caso das nomeações de familiares de governantes para gabinetes no Executivo ou no aparelho do Estado tenha sido trazido para a campanha, por Paulo Rangel, porque apenas serviu os propósitos do PSD — abafar a medida do Governo dos passes sociais — e acabou por “sujar a democracia”. O cabeça de lista do PS às eleições europeias, em entrevista ao ECO, admite que o familygate acabe por promover muito a abstenção que nas últimas europeias atingiu o valor mais alto de sempre — 66,16%.
O candidato, que deixou o cargo de ministro do Planeamento e Infraestruturas para rumar ao Parlamento Europeu, está confiante que vai ter um bom resultado e recusa a possibilidade de o seu desempenho ser “poucochinho”, o adjetivo que António Costa usou para se referir aos 1,1 milhões de votos que António José Seguro conseguiu nas anteriores europeias. Considera “natural” que o PSD esteja a subir nas sondagens, embora, quando foi feita esta entrevista ainda não fosse conhecida a sondagem da Aximagem que coloca PSD e PS taco a taco (tendo em conta a margem de erro).
Não quer falar de pastas, na eventualidade de vir a ser proposto como comissário europeu, em detrimento de Mário Centeno, e acusa Paulo Rangel de fazer pouco no Parlamento Europeu, bem como de ter faltado a uma em cada cinco votações.
O familygate vai prejudicá-lo nas urnas?
Esta questão é bem possível que venha a promover muito a abstenção. Estes temas populistas acabam sempre por sujar a democracia, porque acabam sempre da mesma maneira: com os partidos a atacarem-se sempre uns aos outros, a dizer “tu nomeaste mais do que aquele”… São temas propícios a muita mediatização e muita partilha nas redes sociais mas, no fundo, fazem mal à democracia. O tema foi trazido para a campanha por Paulo Rangel e serviu muito bem o pretexto do PSD. Na mesma semana em que os portugueses estavam a comprar o passe muito mais barato — uma das medidas mais importantes da legislatura do ponto de vista das reformas, neste caso de descarbonização da sociedade e promoção da mobilidade em transportes públicos, melhoria dos rendimentos das famílias da classe média –, o PSD conseguiu não ter de explicar porque é que votou contra a medida, uma coisa mais ou menos impensável porque andava a discutir nomeações familiares.
E frustrou a intenção do Governo de brilhar com a medida em ano de eleições.
A medida avançou agora nos termos em que foi votada no Orçamento do Estado. Se o PSD em vez de ter votado contra tivesse apresentado alguma outra proposta para entrar em vigor mais cedo, quem sabe se isso teria acontecido. Já sei que em ano eleitoral quando se lança um projeto a oposição diz que é eleitoralismo, lança-se uma obra é eleitoralismo, acaba-se uma obra é eleitoralismo, aprova-se uma medida é eleitoralismo, entra em vigor é eleitoralismo. Eleitoralismo é fazer uma coisa disparatada e errada num ano eleitoral só para ter benefícios em eleições, como disse Daniel Oliveira, num artigo de opinião. Eleitoralismo não é fazer coisas acertadas em ano de eleições, senão o país entrava no congelador e não se fazia nada. Ficávamos à espera que passasse outubro.
Acredita que o caso vai esmorecer, ou continuará na ordem do dia até porque já há propostas do PS para alterar a lei?
Não é uma questão de esmorecer, mas dos partidos assumirem consequentemente as suas responsabilidades. O PS já apresentou propostas legislativas nessa matéria e agora os outros partidos vão ter de se definir sobre a matéria.
A matéria é de resolução por via legislativa? Não é antes do foro ético já que a lei nunca vai poder abarcar todos os casos?
Essa tem sido a posição dos partidos da oposição, em particular à nossa direita, e é muito interessante que a questão seja colocada assim. Vêm clamar sobre o tema, também se sujam no meio e, depois, quando o Governo diz que a Assembleia da República devia alterar a lei e ser consequente… Agora é preciso ver como é que estes partidos de direita se vão comportar sobre a matéria. Querem de facto melhorar o quadro legal indo ao encontro das expectativas das populações? Deixemos o assunto fazer agora o seu caminho do ponto de vista legislativo. Mas também gostava muito que pudéssemos discutir a Europa e medidas concretas. Mas andamos nisto há semanas, a sujar a campanha, a democracia.
[Paulo Rangel fez] muito pouco trabalho legislativo. Fez um relatório legislativo em cinco anos no Parlamento Europeu, muitas faltas ao trabalho no Parlamento Europeu a acumular com muito trabalho de advogado no setor privado.
Pedro Adão e Silva recordou num programa da TSF um artigo de Paulo Rangel de 1993 onde defendia que o exercício da função de deputado é incompatível com a advocacia. Mas durante muitos anos acumulou o cargo de eurodeputado com a profissão de advogado. É um tema que vai usar na campanha?
Não gostaria de andar a usar esse tipo de temas na campanha. Apenas tenho dito, e julgo que é razoável, que o PSD optou por recandidatar um anterior cabeça de lista derrotado em eleições que já vai para 15 anos para o Parlamento Europeu. Os partidos de direita fazem as críticas que entenderem ao meu trabalho, legitimamente, cá estarei para me defender, fiz inclusivamente um factchecking sobre o meu trabalho nos fundos comunitários porque é grave a campanha ser feita com falsidades. Paulo Rangel, aliás depois disso, enfiou a viola no saco e já deixou de dizer esse disparate que passámos de primeiro para sétimo na gestão dos fundos comunitários. Se não fosse com falsidades é absolutamente legítimo que escrutinasse o meu trabalho, uma vez que saí agora do Governo e estou perfeitamente disponível. É também legítimo que se escrutine o trabalho destes cabeças de lista, nomeadamente a dupla de direita Melo e Rangel especialistas em sound bites, no Parlamento Europeu. A única coisa que registo é que Paulo Rangel faltou a uma em cada cinco votações no Parlamento Europeu. Tem um dos piores desempenhos do Parlamento Europeu em matéria de faltas a trabalhos parlamentares concretos tão importantes como as votações. E, ao mesmo tempo andou, de facto, a fazer muito trabalho como advogado de negócios no setor privado. É o que tenho para dizer. Muito pouco trabalho legislativo. Fez um relatório legislativo em cinco anos no Parlamento Europeu. Registo e espero que Paulo Rangel se explique, naturalmente. Mas não julgo sequer que a campanha deva depois resvalar para quem é que ele trabalhou ou não.
Como explica as mais recentes sondagens que dão uma subida do PSD?
O que registo é que o PS está de facto à frente em todas as sondagens que foram feitas até agora. O PSD não podia ser aquele partido de menos de 20% que chegou a andar a ser nas sondagens quando andavam lá aos tiros uns com os outros. É natural que o PSD que é um partido consolidado da nossa democracia tenha o seu espaço eleitoral. O PS está no Governo e vale a pena registar que os partidos que estão no Governo normalmente são sempre mais penalizados em contexto de eleições intercalares, em particular as europeias, mas temos dito — e é nisso mesmo que acredito — que estamos numa situação singular nestas eleições: é a primeira vez que um partido que está no Governo as disputa de forma clara, os dois primeiros membros da lista são pessoas que vieram do Executivo e dizemos que não nos importamos que também seja feita uma avaliação do nosso trabalho do Governo. Normalmente é a oposição que quer avaliar o trabalho do Governo para penalizar o partido do Governo a eleições. E, de facto, registo o enorme incómodo que o PSD tem em discutir os nossos resultados no Governo. E é isso que também me dá muita confiança relativamente a estas eleições.
O PSD não podia ser aquele partido de menos de 20% que chegou a andar a ser nas sondagens quando andavam lá aos tiros uns com os outros. É natural que o PSD que é um partido consolidado da nossa democracia tenha o seu espaço eleitoral.
E o que vai ser para si um bom resultado?
Vai ser ganhar as eleições. Quero ganhar de forma clara. Temos todas as razões para ganhar de forma clara, porque apesar de nos dizerem para não o fazer, aumentámos 20% o salário mínimo, tomámos a medida dos passes sociais, aumentámos as pensões e os abonos de família, reduzimos o IRS, devolvemos os rendimentos perdidos na Função Pública na legislatura anterior. Implementámos um conjunto de medidas que tínhamos prometido, mantendo as contas certas e é isso que me dá razões para acreditar que podemos ganhar de forma clara.
Significa que se tiver menos do que os 1,1 milhões de votos que António José Seguro conseguiu nas últimas europeias terá de retirar consequências políticas desse resultado?
Deixe-me lá disputar as eleições e depois, no dia 26 de maio à noite, os analistas políticos farão todos os exercícios que entenderem sobre essa matéria. Quero ganhar para o meu partido estas eleições. É uma honra enorme suceder a Mário Soares, António Vitorino, Maria de Lurdes Pintassilgo, enormes cabeças de lista que o PS sempre teve. O PS renovou sempre os seus cabeças de lista. Estou a liderar um grupo de pessoas extraordinárias que fizeram muito por Portugal. Pessoas que fazem coisas, que não são só do verbo, da palavra e dos sound bites. É uma equipa com competências executivas, mas também com experiência europeia importante. Eu próprio já vou com a negociação do quadro comunitário…
Isso é uma resposta às críticas que lhe fazem de que não lhe é conhecido qualquer pensamento europeu?
Não é crítica nenhuma. É um registo. Vou no quinto quadro comunitário que ajudei a gerir, ou a construir, como aquele que estamos agora a começar. Estive no Conselho Europeu de Assuntos Sociais, estive na presidência portuguesa da União Europeia. Estive agora, obviamente no Conselho Europeu de Assuntos Gerais e no Conselho dos Transportes como ministro titular dessas duas pastas. Tenho tido muito trabalho a nível europeu que me dá experiência concreta, mas no mesmo patamar que aqui fiz em Portugal. Fazendo coisas pelos portugueses.
De peito aberto relativamente ao meu trabalho: 250 mil idosos que foram retirados à pobreza com o completo solidário para idosos, 400 creches e centenas de equipamentos sociais com o programa paz, reforma da Segurança Social, 300 quilómetros de obras de ferrovia agora lançadas ou executadas, agora como ministro, a maior obra ferroviária dos últimos 100 anos contratada, um quadro comunitário que estava em letargia, com 2% de execução em dois anos e que nos pusemos muito acima da média europeia (50% acima da média europeia) na fase de velocidade de cruzeiro. A grande prioridade deste quadro comunitário segundo o anterior Governo eram as empresas. Quando chegámos ao Governo tinham pago 400 milhões de euros às empresas em dois anos. Nós em 100 dias pagámos mais de 10 milhões e vamos mais de dois mil milhões quando eu saí do Governo. O meu trabalho está aqui para ser escrutinado. Dos meus adversários não consigo comentar nada porque não há nada para comentar.
Mas está em funções governativas, quando os restantes candidatos são eurodeputados.
Mas alterações legislativas concretas ou relatórios legislativos que tenham feito diferença na vida dos portugueses… Um relatório legislativo em cinco anos é trabalho que se apresente? Ainda por cima, com uma falta a cada cinco votações no Parlamento Europeu? De facto não tenho trabalho para comentar dos meus adversários, em particular os de direita.
É esse currículo que exibe que faz de si um melhor candidato a comissário europeu do que Mário Centeno?
Esse tema da Comissão Europeia é de certeza muito interessante para os jornalistas e para os comentadores políticos…
E para o primeiro-ministro também.
É certamente. Vou dizê-lo e sem problema nenhum: tenho uma honra enorme que António Costa, que conhece muito bem o meu trabalho, tenha dito que achava que eu tinha perfil para um cargo executivo na Comissão Europeia. Agora, uma coisa é clara: fui convidado e sou candidato ao Parlamento Europeu e é apenas disso que devemos falar, neste momento.
Tem uma pasta que gostasse mais?
O único cargo relacionado com a Comissão Europeia que está de facto em jogo nas eleições europeias é a eleição do presidente da Comissão Europeia e até temos escolhas muito claras sobre a mesa. E o meu nome não está lá. Está lá Frans Timmermans pela minha família europeia, o Partido Socialista Europeu, um campeão das democracias e as liberdades, versus Manfred Weber que é o candidato do PPE, que é o homem que pediu sanções na força máxima contra Portugal.
Se a questão se vier a colocar que pasta gostaria de ocupar?
Essa questão não se vai colocar agora porque sou candidato ao Parlamento Europeu.
Que leitura vai fazer do resultado que tiver para as legislativas…
Às legislativas não vou ser candidato…
Mas disse que o PS, ao contrário dos outros, até disponibilizou uma pessoa que era ministro e que estaria a ser escrutinado neste ato eleitoral. E que esse é um ónus que estão dispostos a assumir. Isso significa que o resultado que tiver nestas nestas europeias pode ser uma espécie de uma antecâmara da avaliação que se terá para as legislativas?
É inevitável que os analistas políticos farão esse tipo de avaliação.
E o Pedro Marques?
O Pedro Marques preocupar-se-á em ser um bom deputado ao Parlamento Europeu, defender Portugal na Europa e defender o projeto europeu. Mas obviamente contribuirei, na justa medida das minhas capacidades, também para a vitória que acho que o PS deve ter nas eleições legislativas por ter governado bem para os interesses dos portugueses. Espero ganhar estas eleições europeias. E acho que essa será sempre uma medida também, é inevitável, do trabalho do Governo, nestes três anos. Esperaria, e gostaria muito, que se fizesse também muito mais debate sobre a Europa e que também se votasse mais nesse contexto, mas há sempre uma dimensão de avaliação das políticas nacionais que é feita. Em qualquer caso, os portugueses, no passado, fizeram as suas avaliações e até houve atos eleitorais com grande proximidade como este, entre Europeias e Legislativas, e os portugueses até fizeram escolhas diferentes. Não estou muito preocupado sobre essa matéria.
O PS tem todas as condições para ganhar os três atos eleitorais que vão ser disputados este ano.
Diz-se que quando há essa proximidade, o partido que vence nas Europeias não é o que vence nas Legislativas porque há uma tendência de alternar o voto.
O PS tem todas as condições para ganhar os três atos eleitorais que vão ser disputados este ano, os dois de âmbito nacional mais as eleições regionais da Madeira, porque tem resultados para apresentar aos portugueses e no fim das contas é nessa base, julgo eu, que as pessoas votarão. Temos um projeto europeu sólido. Somos de longe o partido mais europeísta em Portugal. Triplicou a confiança dos portugueses no Governo desde que chegamos ao Executivo, segundo o Eurobarómetro, portanto, acho que o PS tem todas as condições para ganhar os três atos eleitorais que vai disputar este ano.
E está confiante que não vai ter um resultado “poucochinho”?
Não, estou mesmo confiante que vamos ganhar e que vamos ganhar de forma clara.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Familygate? “É bem possível que venha a promover muito a abstenção” nas Europeias, diz Pedro Marques
{{ noCommentsLabel }}