O carro elétrico não é para todos, mas vendas disparam em Portugal

O Ecarshow juntou, pela primeira vez, num evento em Lisboa, vários fabricantes de automóveis elétricos. O ECO tentou perceber junto das marcas e utilizadores quais os desafios do mercado.

Os números não enganam. A venda de automóveis elétricos disparou em Portugal. Em 2018 venderam-se cerca de 8200 carros elétricos, quase tantos como nos sete anos anteriores desde que se iniciou a comercialização deste tipo de veículos no país. E os números não param de crescer. Só no primeiro trimestre de 2019 já foram entregues aos clientes mais de três mil.

“Isto acontece porque chegaram ao mercado novos modelos com maior autonomia e um carro — o Tesla Model 3 — que tinha reservas feitas há três anos e que neste momento está a ser entregue aos clientes”, refere ao ECO Henrique Sánchez, presidente da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE).

O grande desafio da eletrificação do parque automóvel

Com o aumento do número de carros elétricos em circulação nas estradas, existe uma questão que ganha importância junto dos utilizadores. “Cerca de 70% da população não tem garagem própria e, por isso, não tem possibilidade de carregar o carro. É preciso uma rede pública de carregamento rápido que permita viagens sem constrangimentos, que neste momento é insuficiente” afirma Henrique Sánchez.

O mesmo sentimento é defendido por Miguel Fialho, técnico de vendas da Renault, assumindo que a infraestrutura pública de carregamento é o grande desafio. “Os postos nem sempre estão a funcionar ou não permitem os carregamentos, o que provoca um grande constrangimento, que em certa medida, impede as pessoas de avançarem para a compra de carros elétricos”.

O Renault ZOE é um dos modelos mais vendidos em PortugalHugo Amaral/ECO

Márcio Dias, Sales Manager da Hyundai partilha da mesma opinião e acrescenta, ao ECO, que o desafio também passa pela “criação de condições junto das entidades que regulam o setor automóvel para que estes veículos possam ter incentivos à circulação, através de medidas como a criação de faixas de circulação prioritárias”.

O investimento em infraestruturas próprias

Com a falta de acompanhamento na procura dos postos de carregamento da rede pública, faria sentido os fabricantes investirem também na criação de infraestruturas de carregamento? “As marcas têm tentado implementar condições de carregamento junto dos seus concessionários, criando postos para oferecer gratuitamente aos clientes a possibilidade de carregar os seus carros. Também têm vindo a ser criadas sinergias com as empresas distribuidoras de energia para as incentivar à criação de postos”, refere Márcio Dias.

Por seu lado, Sílvia Amaral, responsável da Nissan para os veículos elétricos, lembra que a Nissan tem um programa de infraestruturas a nível europeu desde 2010, quando lançou o primeiro Leaf. “A nossa preocupação é garantir que os nossos clientes podem circular e fazer os carregamentos numa rede de postos nos concessionários da marca, mas também através de parcerias com operadores em todos os países da Europa. Em Portugal, grande parte dos concessionários têm carregadores rápidos gratuitos para os clientes Nissan. Até ao final do ano queremos ter praticamente toda a rede de concessionários coberta com carregadores”, avança ao ECO.

O Nissan Leaf tem uma autonomia anunciada de 389 km em ciclo urbano.Hugo Amaral/ECO

A Tesla é a única marca com uma rede privada de carregadores de acesso público para os seus clientes. “Em Portugal existem 120 carregadores da Tesla em seis estações, estando a sétima a ser construída na Mealhada”, diz ao ECO o presidente da UVE. “Por sua vez, as marcas alemãs Volkswagen, Audi e BMW criaram um consórcio — a IONITY — para a instalação de uma rede de postos de carregamento muito semelhante à da Tesla com carregadores até 350KWh de potência, ou seja, sete vezes mais potente que os carregadores rápidos instalados em Portugal”, acrescenta.

Viajar entre Lisboa e Porto num elétrico

A (quase) impossibilidade de viajar entre Lisboa e Porto sem paragens para carregamento ainda é uma questão levantada pelos clientes na compra de um carro elétrico, mas com tendência para desaparecer.

“Analisando a verdadeira necessidade dos clientes em termos de mobilidade Lisboa-Porto, diria que muitas pessoas, em contexto pessoal, não fazem essa viagem com tanta frequência. É de facto uma questão que já não tem tanto peso como há três ou quatro anos”, afirma o responsável da Renault.

Sílvia Amaral, da Nissan, acrescenta um dado novo, ao defender que “a utilização de carros elétricos não se adequa a toda a gente”. “A nível empresarial acredito que seja um entrave, mas a nível pessoal, se a viagem for planeada, os trinta minutos de paragem para carregamento não farão muita diferença”, sublinha.

O aumento da autonomia das baterias também atenua esse fator ao tornar “a questão do carregamento para curtas e médias distâncias um problema menor”, refere o Sales Manager da Hyundai, apoiado na autonomia anunciada de 500 km do best seller da marca, o Kauai EV.

O presidente da UVE alerta também que “o carro elétrico não é para todos. Requer uma planificação das viagens”. “Em 2016 fui com um Nissan Leaf com uma bateria de 30KWh até Marrakesh. É uma viagem que se faz, que tem de ser planificada e organizada mas é possível de ser feita”, conta.

O Tesla Model 3, que acaba de chegar ao mercado nacional, foi líder de vendas em março.Hugo Amaral/ECO

Paralelamente aos desafios ao crescimento da utilização e compra de automóveis elétricos em Portugal, Henrique Sánchez afirma que é preciso informar o público através de eventos, conferências e ações de formação. “Ainda há muita falta de informação. Existem à venda 75 modelos de carros elétricos em Portugal entre os 20 e os 200 mil euros e as pessoas não têm essa noção”, remata.

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