Joaquim Barroca: “Comprámos a Abrantina com créditos mortos. Não foi difícil a Caixa apadrinhar o negócio”
Barroca disse que a Abrantina já era devedora da CGD quando o grupo Lena a comprou. "Tinha créditos mortos que se tornaram vivos" com a aquisição. Mariana Mortágua rejeitou visão do empresário.
Joaquim Barroca revelou esta quinta-feira no Parlamento que a Abrantina já era devedora da Caixa Geral de Depósitos (CGD) quando o grupo Lena comprou a construtora em 2007. Foi essa aquisição, por via da Always Special, que tornou os “créditos mortos” da Abrantina em “créditos vivos”, não tendo sido difícil ao banco público apadrinhar aquele negócio, disse aquele responsável.
“Quando comprámos a Abrantina, eram créditos que já eram reconhecidos como incobráveis, eram créditos mortos. Com a integração na Always Special tornaram-se créditos vivos. Seriam para a Caixa receita extra. Não foi difícil a Caixa apadrinhar este negócio. O banco estava a sair de um cenário em que não receberia esse valor e estava a passar essa responsabilidade para o grupo Lena por via da Always Special”, disse Joaquim Lena, na comissão de inquérito à recapitalização da CGD. Ao seu lado estava o advogado Castanheira Neves. Joaquim Barroca, ex-administrador da construtora, é um dos acusados na Operação Marquês que visa o antigo primeiro-ministro José Sócrates.
“Eles [Caixa] disseram-nos: preferimos ter a dívida deste lado do que no outro lado”, acrescentou ainda, quando foi confrontado pelos deputados sobre o facto de a direção de risco ter dado um parecer desfavorável à operação de financiamento de 80 milhões de euros no âmbito deste negócio: 55 milhões em empréstimos e 25 milhões em papel comercial.
Mariana Mortágua contrariou o argumento de Joaquim Barroca. “O que está a dizer não é verdade. O grupo Lena conseguiu um crédito de 60 milhões, além da transferência dos créditos da Abrantina que eram de 16,8 milhões”, notou a deputada bloquista, citando documentos internos da Caixa. Face a esta informação, Joaquim Barroca, que tinha dito anteriormente que a operação resultou apenas numa transferência de créditos de um acionista para o outro, referiu então que a construtora não impôs nada à Caixa.
De acordo com a EY, a Always Special devia 44 milhões ao banco público em 2015, que a Caixa dava como totalmente perdidos. Há ainda outro crédito ao grupo Lena em incumprimento, no valor de 48 milhões de euros, com imparidades de 18 milhões de euros.
Numa anterior audição, Carlos Santos Ferreira, que era presidente da CGD na altura, revelou que aceitou financiar o grupo Lena devido à elevada exposição do banco à Abrantina. Revelou ainda que foi o Caixa BI, o banco de investimento que era gerido operacionalmente por Jorge Tomé, a lidar com as negociações entre banco e construtora.
Joaquim Barroca afirmou que não era ele quem negociava com o banco, era o departamento financeiro. “Eu nunca entrei na Caixa, nem sei onde é a entrada principal”, disse.
E explicou que a Lena avançou para a compra da Abrantina porque era uma construtora que permitia “complementaridade de alvarás”, o que abria a porta ao grupo para concorrer às grandes obras públicas como o TGV, o aeroporto de Lisboa, anunciadas durante o governo de José Sócrates. Era com estas obras que a construtora esperava pagar a dívida, explicou Joaquim Barroca.
(Notícia atualizada pela última vez às 11h18)
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