Fino justifica incumprimento da dívida com decisão “inusitada” da Caixa de vender Cimpor
José Fino, filho Manuel Fino, refere que a Investifino deixou de pagar a dívida após a Caixa ter vendido a Cimpor na OPA abaixo do preço justo. Revelou ainda que "não tem meios" para reembolsar banco.
José Manuel Fino, filho do empresário Manuel Fino, culpa a “decisão inusitada” da Caixa Geral de Depósitos (CGD) de vender a posição na Cimpor na oferta pública de aquisição (OPA) da Camargo Corrêa sobre a cimenteira abaixo do preço justo pelo incumprimento da dívida da Investifino ao banco público. Mais tarde veio a dizer que a culpa vai além do banco, e atinge o domínio político.
A OPA do grupo brasileiro foi lançada em 2012, ao preço de 5,5 euros. Já antes a Cimpor tinha rejeitado uma oferta de 6,16 euros da brasileira CSM. E “havia bancos de investimento internacionais que diziam que o valor justo mínimo da ação da Cimpor era de 6,5 euros”, notou José Manuel Fino na comissão de inquérito à CGD, assegurando que, com base naquela avaliação, a Investifino podia pagar a totalidade da dívida ao banco público.
No entanto, nesta altura, já o prazo da opção de recompra de um lote de 10% das ações da cimenteira pela Investifino (que ficou decidido após a reestruturação da dívida acordada em 2009) tinha expirado, levando a CGD a optar pela venda dos títulos da Cimpor de uma forma “totalmente imprevista e inusitada” — a alienação foi imposta pelo Governo de Passos Coelho, numa altura em que a troika já estava em Lisboa. De acordo com José Manuel Fino, a holding ainda pediu uma extensão do prazo de opção de recompra, que não foi aceite pelo banco. E, “fruto destes acontecimentos, a Investifino ficou sem ativos para liquidar o resto à CGD”, frisou.
“O incumprimento é gerado pela alteração das circunstâncias e pela alienação da Caixa de 9,8% que detinha e que foi a primeira instituição a aderir à OPA que era a 5,5 euros”, acrescentou o mesmo responsável. “Se o património é vendido deixa de ter rendimento”, notou aos deputados. “Com a recompra, tínhamos liquidado toda a dívida à Caixa”, assegurou José Manuel Fino.
O responsável contou ainda que, após o banco ter vendido a Cimpor, não restou outra opção à Investifino senão vender também. “Não íamos ficar no mercado com uma posição de 10%, isolados. Isolados, não tínhamos força nem meios para resistir à OPA ou para criar uma contra OPA“, lamentou.
"Com a recompra, tínhamos liquidado toda a dívida à Caixa.”
Antes, aquele responsável tinha afirmado que os empréstimos obtidos pela Investifino junto dos bancos foram realizados em “condições perfeitamente comuns à data”, salientando que eram as “regras do jogo” dar os títulos como garantia dos financiamentos. Também disse que não foi pedido nenhum aval pessoal e que era através da “política generosa de dividendos” da Cimpor que a Investifino pretendia honrar os seus compromissos bancários. Já após a reestruturação da dívida, revelou José Manuel Fino, a sociedade planeava vender ativos internacionais da Cimpor e com isso haver lugar a um dividendo extraordinário.
“Não há meios para pagar dívida”
Foi José Manuel Fino quem respondeu às questões dos deputados. Ao lado esteve o seu irmão, Francisco. Ambos foram administradores da Investifino. Manuel Fino (o pai) também marcou presença na sessão, mas chegou mais tarde (já quando os fotógrafos e repórteres e imagem tinham abandonado a sala) e sentou-se nas cadeiras laterais reservadas aos assessores parlamentares, assistindo às intervenções do filho.
De acordo com a EY, a Investifino devia cerca de 138 milhões de euros ao banco no final de 2015, empréstimos que serviram para adquirir participações tanto na Cimpor como no BCP. A CGD dava a dívida como totalmente perdida.
Confrontado com a atual situação da Investifino, José Manuel Fino diz que atualmente “não há meios financeiros” para liquidar o que falta pagar à CGD.
(Notícia atualizada pela última vez às 13h03)
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