Investimento dos business angels recua para 5,5 milhões em 2018
Presidente da Associação Portuguesa de Business Angels explica que investidores alocarem maiores montantes a menos projetos. No ano passado, grupo investiu em 21 projetos, uma média de 265 mil euros.
O investimento realizado em projetos pelos investidores informais (business angels) membros da Associação Portuguesa de Business Angels (APBA) atingiu 5,5 milhões de euros no ano passado. O valor abaixo dos seis milhões de euros registados em 2017.
Em entrevista à agência Lusa, o presidente da APBA, João Trigo da Roza, explica este “ligeiro decréscimo”, em termos de investimento no ano passado, com o facto de “os business angels estarem mais seletivos e exigentes em relação aos projetos e deal flow [fluxo de negócios] que foram aparecendo”.
João Trigo da Roza explicou que “houve uma tendência que marcou o setor que resulta de os business angels terem investido em projetos mais maduros reforçando o valor de investimento por projeto”. “Na prática são menos projetos, mas mais investimento por projeto”, sublinha o responsável.
Segundo a mesma fonte, o investimento de 5,5 milhões de euros diz respeito à totalidade dos projetos reportados e identificados pelos associados. Isto porque há “um mercado sombra que acabam por não reportar” e que teria impacto nos números do setor. Segundo João Trigo da Roza, o valor referido foi canalizado para 21 projetos que receberam uma média de 265 mil euros cada.
O presidente da APBA referiu ainda que, em termos dos setores alvo deste investimento, “mantém-se uma tendência, que já se notava, que é a área da inteligência artificial surgir com mais frequência, porque há oferta do lado dos empreendedores”.
O investimento foi canalizado para “atividades muito práticas que permitem às empresas a quem as ‘startups’ prestam serviços terem ganhos de eficiência pela substituição de tarefas repetitivas por algoritmos de inteligência artificial”. Por exemplo, ‘call centers’ e áreas que tenham a ver com a relação com o cliente receberam este tipo de investimento.
O investimento nos setores tradicionais também continua, em projetos com tecnologia avançada. A agricultura de alta tecnologia ou o setor do calçado com um posicionamento inovador e de alto valor acrescentado são também alvo de investimento.
Sobre a relação com o Estado, o presidente da APBA sublinhou que existe uma linha de continuidade e que funciona através da criação de fundos de coinvestimento com os business angels, que têm sido um incentivo para aumentar a capacidade de atuação do setor.
Mas João Trigo da Roza afirma que ainda há temas que têm de ser melhorados. E destaca que o programa Semente, lançado pelo Governo, para incentivar o investimento em startups e que está orientado para conceder benefícios, em sede de IRS, mas em termos individuais. Com esta limitação, “o que os business angels colocam nestes veículos não é elegível para o programa Semente. Só seria se fizessem um investimento em termos individuais”.
O mesmo responsável referiu que, em Espanha, esta situação acabou por ser resolvida com legislação aprovada pelo Governo. E na Inglaterra, se o business angel investir, através de um veículo de investimento, conta para benefício fiscal.
Outro tema a ser melhorado é o dos programas-quadro geridos pela IFD – Instituição Financeira de Desenvolvimento que “sofrem de uma síndrome de para-arranca. Cada vez que há um quadro comunitário fica-se à espera um a dois anos pela sua definição e só depois se pode aceder”.
Para Trigo da Roza, deveria existir uma forma de se preencher este hiato que seja independente dos ciclos dos quadros comunitários, porque acaba por “criar um grau de inviabilização de projetos que, se houvesse continuidade poderiam sobreviver, existindo o apoio financeiro”.
Lamentou ainda o facto de os investimentos de coinvestimento feito pelo Estado terem uma limitação ao nível do território nacional já que “estas ‘startups’ têm sempre a ambição da internacionalização”.
No que se refere a perspetivas sobre o desempenho do setor em 2019, o presidente da APBA realça que “a tendência é semelhante a 2018. Vai ser um ano de continuidade”. No próximo dia 23, quinta-feira, a associação realiza a terceira edição do ‘Spring Investment Dinner’, onde irá juntar o setor e ‘stakeholders’, sejam investidores de capital de risco ou académicos.
No evento será distinguido a ‘startup’ de maior impacto, selecionada entre as que receberam investimento dos ‘business angels’ com o cofinanciamento do IFD – Instituição Financeira de Desenvolvimento. Será entregue um segundo prémio entre os melhores projetos com coinvestimentos com o “Fundo 200M”, gerido pela PME Investimentos. E será divulgada a Personalidade do Ano.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Investimento dos business angels recua para 5,5 milhões em 2018
{{ noCommentsLabel }}