“Perder a Coleção Berardo é gravíssimo” diz ex-ministra da Cultura Pires de Lima
Isabel Pires de Lima, ex-ministra da Cultura, defende que "todas as soluções são boas" para manter as obras de arte com acesso público, em Portugal.
A ex-ministra da Cultura Isabel Pires de Lima afirmou esta terça-feira que “perder a Coleção Berardo é gravíssimo”, defendendo ainda que “todas as soluções são boas” para manter as obras de arte com acesso público, em Portugal.
Contactada pela agência Lusa, a tutelar da pasta da Cultura que acompanhou, em 2005, as negociações do acordo com José Berardo, para a criação do museu no Centro Cultural de Belém (CCB), considera que “o Estado deveria ter comprado logo a coleção”. “Na altura, havia alguma disponibilidade do comendador Berardo para vender, mas a questão nunca chegou a ser realmente equacionada porque o Estado não tinha condições para isso”, lembrou a ex-ministra.
Recordou que tentou propor a José Berardo a doação da coleção para criar o museu, que viria a abrir em 2007, com 836 obras avaliadas em 316 milhões de euros, mas o empresário e colecionador madeirense recusou. “Teria sido muito bem comprada nessa altura. Eu sei que a leiloeira [Christie´s] estava interessada nela. Por isso fizeram um valor da avaliação muito por baixo, na esperança de a comprarem. A Coleção Berardo vale muito mais do que esse valor. Só as obras mais importantes do conjunto valem os 316 milhões”, garantiu a antiga governante à Lusa.
Professora catedrática e atualmente no Conselho de Administração da Fundação de Serralves, Isabel Pires de Lima lamenta que o Estado não a tenha adquirido, “porque é realmente boa, quer na componente de arte moderna, quer contemporânea, pouco representada em Portugal”.
“Não estamos a falar de uma coleção de arte qualquer. Contempla imensos artistas que não estão representados em Portugal, nem no Museu de Serralves [no Porto], nem no Museu Nacional de Arte Contemporânea [em Lisboa], porque [adquirir] arte contemporânea não foi uma prioridade das políticas públicas” no país, disse.
Para Isabel Pires de Lima não há dúvidas: “Todos os esforços devem ser feitos para manter a coleção em Portugal. É absolutamente vital que isso aconteça”, defendeu, acrescentando que as obras devem valer atualmente duas ou três vezes mais. “Todas as soluções são boas para manter esta coleção de acesso público, sobretudo se o Estado a puder gerir. Mas o fundamental é que fique em Portugal”, reiterou, escusando-se a avançar de que forma será isso possível, pois “terá de ser avaliado por juristas”.
Isabel Pires de Lima recordou, também, que o Estado “já investiu muito dinheiro na coleção, não só para [a manter] acessível ao público, durante mais de uma década, mas também com o espaço que foi retirado ao CCB” para a receber. Essa retirada de espaço expositivo ao CCB foi, aliás, na sua opinião, “o aspeto mais negativo desta negociação com Berardo”.
“Ambas as partes tiveram de fazer cedências. É sempre assim nas negociações. Essa, eu lamento, porque o CCB ficou sem espaço para as suas próprias exposições. Mas, no balanço geral, houve muitas vantagens para Portugal ficar com esta coleção”, disse.
Na audição na comissão parlamentar de inquérito à gestão e recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD), em Lisboa, que decorreu a 10 de maio, o colecionador e empresário José Berardo disse que “ficaria muito contente se acabassem com esse contrato” de comodato que cede as obras de arte ao Estado Português.
Berardo disse, ainda, que a coleção exposta no Centro Cultural de Belém não é sua, mas pertence à Associação Coleção Berardo, a mesma que deu um conjunto de títulos como garantia aos três bancos seus credores.
O acordo para cedência das obras – que terminava a 31 de dezembro de 2016 – foi renovado nesse ano, por mais seis anos, passíveis de renovação automática, caso não seja denunciado por nenhuma das partes. O museu recebeu até hoje cerca de sete milhões de visitantes e está entre os cem mais visitados do mundo, segundo o The Art Newspaper, publicação internacional especializada em arte contemporânea.
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