Luís Onofre reconhece que a indústria portuguesa de calçado é um exemplo de resiliência, dinamismo e inovação. Portugal tem o segundo preço médio mais elevado entre os principais produtores mundiais.
Luís Onofre assume a presidência da Confederação Europeia de Indústrias de Calçado esta sexta-feira. O designer, que já lidera os destinos do setor em Portugal desde 2017, dá um novo passo e no próximo triénio vai chefiar a instituição que representa 21 mil empresas responsáveis por 278 mil empregos. Mas ainda há muito para fazer a nível nacional.
“Teremos de aprofundar o esforço de penetração em novos mercados e consolidar as marcas portuguesas nos mercados externos”, disse Onofre em entrevista por escrito ao ECO. O setor, que exporta 95% da sua produção, deve “reforçar a abordagem a mercados de elevado potencial de crescimento como EUA e Canadá, Japão, China e América Latina ou Austrália”, acrescenta.
O designer, que tem a sua própria marca, destaca que, “hoje, a indústria portuguesa de calçado é um exemplo de resiliência, dinamismo e inovação”, mas também o “esforço e determinação” com que o setor conquistou “o respeito dos parceiros europeus”. Luís Onofre lembra que o preço do calçado português cresceu mais de 30% nos últimos anos. “Atualmente Portugal apresenta o segundo preço médio mais elevado de exportação entre os principais produtores mundiais de calçado”, refere o atual presidente da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (Apiccaps).
O que significa para as empresas nacionais a nomeação de um português para a liderança da Confederação Europeia de Calçado? Que mais-valias podem os empresários retirar deste facto?
No meu entender, esta nomeação é o reconhecimento público do esforço contínuo das empresas portuguesas ao longo das últimas décadas. Com esforço e determinação, conquistamos o respeito dos nossos parceiros europeus. Hoje, a indústria portuguesa é um exemplo de resiliência, de dinamismo, e de inovação não só em Portugal como um pouco em todo o mundo.
O que espera vir a alcançar neste cargo?
Espero que a indústria europeia de calçado crie os alicerces necessários para continuar a ser a grande referência internacional. Numa fase em que se anteveem várias mudanças no mercado, com o emergir de uma nova geração de consumidores, profundas alterações ao nível do retalho ou mesmo ao nível da engenharia de produto, a indústria europeia tem de reforçar o seu estatuto de liderança, permanecendo na vanguarda.
Como avalia o estado atual do setor do calçado em Portugal?
Diria que está numa fase de consolidação. Na última década, as exportações bateram recordes e cresceram cerca de 60% para dois mil milhões de euros. Foram criados, na fileira, mais de dez mil postos de trabalho. Importa consolidar o calçado português nos mais exigentes mercados internacionais.
Está há dois anos como presidente da APICCAPS, que avaliação faz deste período? Dos objetivos que traçou quando entrou, quais é que já conseguiu alcançar?
Ainda é prematuro fazer esse tipo de avaliações. Diria que estamos a fazer o nosso caminho, seja no domínio da internacionalização e conquista de novos mercados, no aprofundamento do processo de inovação ou mesmo na área da qualificação. Queremos chegar mais longe, a mais mercados, a novos consumidores, mas pretendemos igualmente, internamente, colocar o calçado na agenda nacional, atraindo novas gerações de talento para as nossas empresas.
Como viu, nestes dois anos, a evolução do setor do calçado em Portugal?
A indústria portuguesa de calçado tem evoluído de forma muito positiva, mesmo num clima de algum abrandamento económico internacional. Portugal é hoje uma referência ao nível do design, do bom gosto, mas igualmente pela produção de calçado diferenciado, de alto valor acrescentado. Do ponto de vista produtivo estamos ao nível dos melhores, mas reconheço que teremos de aprofundar o esforço de penetração em novos mercados e consolidar as marcas portuguesas nos mercados externos.
Queremos chegar mais longe, a mais mercados, a novos consumidores, mas pretendemos igualmente, internamente, colocar o calçado na agenda nacional, atraindo novas gerações de talento para as nossas empresas.
Qual foi o volume de vendas em 2018, tanto em valor (euros) como em quantidade (pares de sapatos)?
Em 2018, Portugal exportou 832 milhões de pares de calçado, para 152 países dos cinco continentes, correspondendo a um valor superior a mil milhões de euros. Em 2018, Portugal exportou para todo o mundo mais de 95 % da sua produção. O elevado grau de extroversão da indústria portuguesa de calçado é uma das suas grandes características.
Quais são os principais mercados do calçado português? E onde é que ainda não estamos e devíamos estar?
Os mercados europeus como França, Alemanha, Holanda, Espanha ou Reino Unido continuam a ser os mais relevantes para a indústria portuguesa de calçado. Por um lado, queremos fortalecer a nossa presença nos mercados europeus. Por outro, reforçar a abordagem a mercados de elevado potencial de crescimento como EUA e Canadá, Japão, China e América Latina ou Austrália. É fora do espaço europeu que mais temos crescido. Esse é um esforço que quereremos aprofundar nos próximos anos.
Teremos de aprofundar o esforço de penetração em novos mercados e consolidar as marcas portuguesas nos mercados externos.
O mercado está a crescer apenas em volume ou também em valor? Ou seja, vendemos mais sapatos e cada vez mais caros?
Nos últimos anos tem crescido nas duas variáveis. Importa, em todo o caso, realçar que o preço médio do calçado português cresceu mais de 30% nos últimos anos, num cenário de redução do preço das matérias-primas. Atualmente, Portugal apresenta o segundo preço médio mais elevado de exportação entre e os principais produtores mundiais de calçado.
Já na sua presidência da APICCAPS lançou uma campanha para conquistar os EUA. Já têm resultados desse movimento?
É ainda muito cedo. Os EUA são um mercado estratégico. Estamos a aprofundar a nossa presença no mercado, a conquistar um novo posicionamento, com ações na área da imagem, comunicação e, fundamentalmente, ações de foro comercial. Dentro de um mês, por exemplo, receberemos outra missão de importadores americanos. Estamos a fazer caminho.
Itália e Espanha continuam a ser os maiores concorrentes do calçado português?
Indiscutivelmente, Portugal foi confrontado a determinada altura da sua história, com um grande desafio, tendo de escolher entre dois movimentos: ou procuraria ser competitivo por via do preço ou ascendia na cadeia de valor e procurava competir com os melhores. Ora, optamos claramente pela segunda via. Na verdade, a primeira opção teria representado o nosso suicídio coletivo. Os resultados recentes do setor, com um forte crescimento nas múltiplas variáveis como emprego ou exportações, demonstra o acerto da nossa opção estratégica.
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“É preciso atrair novas gerações de talento para o calçado nacional”, diz Luís Onofre
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