“No contexto de uma crise, qualquer organização deve reagir de imediato”

O managing partner da PLMJ, Pais Antunes, fala pela primeira vez depois de o ataque pirata ter exposto dados confidenciais de advogados e clientes e apresenta uma sociedade renovada.

Meses depois do acesso ilegal aos e-mails dos advogados da PLMJ — à custa do cliente Benfica — e depois das saídas de alguns sócios, Luís Pais Antunes fala agora na transição geracional do escritório, que acabou de mudar de sede e renovar a imagem. Apresentam-se desde maio como “Legal Transformer Experts” e o managing partner sublinha: são os mais novos que serão cada vez mais a “cara” da PLMJ. Quanto aos danos colaterais no que toca a questões reputacionais admite que “a segurança da informação, interesse e direitos dos clientes sempre foram — e serão — a nossa prioridade”. Um discurso de futuro, a enterrar o passado.

A mudança da PLMJ para a Av. Fontes Pereira de Melo significa um recomeço? Uma renovação?

Significa transformação e um novo desafio. Queremos continuar a crescer, a ser mais ambiciosos e a servir melhor os nossos clientes. A história da PLMJ tem sido marcada por sucessivos sucessos e pela capacidade de nos adaptarmos e reinventarmos. Foi assim ao longo das cinco décadas passadas e voltará a sê-lo no futuro, certamente.

Qual a área que ocupa o novo escritório? Como ficou organizado em termos de departamentos?

O novo escritório ocupa sete pisos e uma área superior a 7.500 metros quadrados, incluindo um lobby exclusivo e um auditório próprio, num novo edifício, situado na Avenida Fontes Pereira de Melo, que é já uma referência da cidade de Lisboa pela sua arquitetura e pela eficiência energética e sustentabilidade ambiental.

A organização dos espaços de trabalho – que têm a assinatura do Arquiteto Ricardo Bak Gordon – foi pensada para acolher de forma criativa e eficaz as diversas áreas de prática, estimulando a colaboração interna e a agilidade no fluxo de trabalho. O projeto engloba também a galeria de arte da Fundação PLMJ, onde os nossos clientes poderão ver muitas das obras da Coleção da nossa Fundação.

De que forma é que as novas instalações influenciam a forma de estar profissional da ‘nova’ PLMJ?

A nossa nova casa é o reflexo da nossa maneira de ser e de estar. Somos os advogados de sempre, mas queremos que os nossos clientes e colaboradores sintam que este espaço traduz também aquela que é a nossa visão e o nosso posicionamento. Os espaços e o mobiliário foram projetados para aumentar a eficiência organizacional, a segurança, a saúde, o conforto e a criatividade de todos nós.

Mas queremos que este seja igualmente um espaço de eleição para todos aqueles que nos visitam, em particular os nossos clientes.

Como está a ser feita a transição geracional na PLMJ?

De forma natural, como muitas vezes acontece nas empresas e organizações, mas igualmente com planeamento e visão. Atrevo-me a dizer que também neste aspeto a PLMJ demonstra o seu pioneirismo, ao ter sabido criar as condições que permitiram aliar a experiência à visão inovadora de sócios mais jovens, demonstrando que somos uma sociedade virada para o presente e para o futuro e que aposta na diversidade e na inovação. Saber antecipar é fundamental para se manter no topo, e nós temos provado isso.

Todos os sócios têm de ser a “cara” da PLMJ e muitos dos mais novos já o são e serão cada vez mais.

Luís Pais Antunes

Managing partner da PLMJ

Se lhe perguntar quem são os sócios, que atualmente têm pouco mais de 40 anos, que marcarão o futuro da PLMJ, em termos de ‘dar a cara’, quem são?

A velocidade de tudo o que hoje nos rodeia exige visão, renovação e capacidade de adaptação à mudança. Todos os sócios têm de ser a “cara” da PLMJ e muitos dos mais novos já o são e serão cada vez mais. Nos próximos anos outros se juntarão e estou certo de que o farão com crescente sucesso.

Em que áreas a PLMJ pretende apostar nos próximos cinco anos?

Destacaria três (sem com isso menosprezar outras apostas que considero fundamentais). Em primeiro lugar, a crescente profissionalização da nossa organização. Nesse contexto, a recente contratação de um Chief Operating Officer (COO) vem acrescentar ao nosso modelo de gestão a qualidade de serviço que já oferecemos aos clientes.

Em segundo lugar, a inovação tecnológica. Fomos a primeira sociedade portuguesa a ter concluído um programa piloto de inteligência artificial e a fechar um acordo com uma solução de Machine Learning de análise de contratos. Queremos, neste domínio, criar as condições para prestar serviços de apoio tecnológico ao nível das sociedades internacionais de topo.

Em terceiro lugar, a aposta no Impacto Social. Queremos posicionar-nos como uma sociedade de referência nesta área e estamos muito orgulhosos pelo nosso envolvimento na MAZE X, a nova aceleradora de impacto social que apoiamos em conjunto com a Fundação Calouste Gulbenkian e as Fundações Edmond de Rothschild.

Luís Pais Antunes, Managing Partner da PLMJ, em entrevista ao ECO/Advocatus - 29ABR19
Luís Pais Antunes, managing partner da PLMJ, na nova sede do escritório.Hugo Amaral/ECO

A mudança para a Fontes Pereira de Melo é justificada pelas perspetivas de crescimento na PLMJ: o que se espera do vosso escritório em termos de crescimento?

A história da PLMJ é uma história de crescimento e de sucesso com mais de 50 anos. Sentimos que estava na hora de dar um novo “salto”, tal como no final do século passado quando nos mudámos para a Avenida da Liberdade. Temos sabido crescer e vamos continuar esse caminho. Mas queremos fazê-lo ainda melhor, com mais ambição, ainda mais qualidade e um serviço de excelência aos nossos clientes.

E a nova identidade visual? É uma marca mais ‘moderna’?

Mais forte e mais ágil. Fiel à nossa história e ao pioneirismo e liderança que a PLMJ sempre demonstrou. Mas aberta à mudança e à inovação. A assinatura escolhida – “Transformative Legal Experts” – espelha aquele que é o nosso lema: “Livres no Respeito da Forma; Livres para a Transformar”, traduzindo também uma aposta clara na liderança, na vontade de inovar e na crescente especialização dos nossos advogados que os clientes crescentemente procuram.

Esta é a primeira vez que PLMJ contrata um Chief Operating Officer, reforçando a estrutura diretiva e que vem no seguimento da adoção de um modelo de gestão de cariz empresarial. Quais as razões para esta contratação?

A nossa transformação passa também por uma aposta clara na gestão profissionalizada em todos os vetores. O João Mendes Dias, com um longo percurso executivo nas telecomunicações e outras áreas corporate, traz-nos um capital de experiência que, estou certo, irá contribuir em muito para o reforço das nossas competências de gestão e planeamento, sobretudo em áreas que são cada vez mais críticas, como é o caso dos sistemas de informação, gestão do conhecimento, a business intelligence ou a comunicação interna e externa, para dar apenas alguns exemplos.

O facto de a sua entrada na PLMJ coincidir com a mudança para as novas instalações na Fontes Pereira de Melo não é certamente uma coincidência.

Qual o impacto reputacional que tiveram com o ataque informático?

Transformação é também saber lidar com os desafios e impactos tecnológicos com que as organizações – designadamente no setor dos serviços – se colocam, com uma frequência crescente. Os nossos clientes são e sempre foram o nosso foco principal.
Todos os passos que damos são no sentido de lhes proporcionar a máxima confiança e qualidade de serviço.

É este voto de confiança da PLMJ que sempre definiu – antes como agora – o âmbito da sua reputação.

Como foram os dias seguintes depois da tomada de conhecimento do que estava a acontecer? Que medidas de segurança tomaram no imediato?

No contexto de uma crise, qualquer organização deve reagir de imediato. Como aliás já vimos acontecer noutras sociedades e organizações em Portugal e no estrangeiro em situações semelhantes. E foi essa a nossa decisão: agir de imediato em conjunto com uma equipa de especialistas que nos ajudaram a definir e a garantir os passos necessários na proteção e contenção.

Cumpriram o previsto no regulamento de proteção de dados, avisando os clientes que foram ‘acedidos’?

Foram tomadas todas as medidas com vista à proteção de dados de todos os nossos clientes. A segurança da sua informação, interesses e direitos sempre foi – e será – a nossa prioridade.

Luís Pais Antunes, Managing Partner da PLMJ, em entrevista ao ECO/Advocatus - 29ABR19
Luís Pais Antunes, managing partner da PLMJ, no novo escritório.Hugo Amaral/ECO

Neste momento, o que é um cliente ganha em estar convosco e não com outro escritório da concorrência direta? Que mais-valias traz a PLMJ?

A PLMJ representa um conjunto de valores e conhecimentos construído ao longo de mais de cinco décadas. A base de confiança que transmitimos aos nossos clientes combina a oferta de um escritório full-service com a elevada especialização e experiência das nossas equipas e dos nossos advogados.

Dito isto, a nossa concorrência merece-nos o maior respeito e consideração. Todos ganhamos em ter excelentes sociedades de advogados em Portugal, num ambiente saudavelmente competitivo, e essa é certamente uma das razões pelas quais a qualidade dos principais escritórios nacionais é normalmente reconhecida pelos parceiros e clientes internacionais.

A assinatura escolhida – “Transformative Legal Experts” – espelha aquele que é o nosso lema: “Livres no Respeito da Forma; Livres para a Transformar”.

Luís Pais Antunes

Managing partner da PLMJ

Na questão das incompatibilidades ou compatibilidades da advocacia, incluindo cargos de sócios em escritórios de advogados, e a atividade parlamentar, enquanto deputados. A política ajuda aos negócios?

Independentemente das opções do legislador, diria que hoje em dia não é objetivamente possível ser sócio de uma grande sociedade de advogados e simultaneamente deputado.

Relativamente à questão de saber se, em geral, o exercício da advocacia (e bem assim de outras profissões) deve ser compatível ou não com um mandato parlamentar trata-se de uma decisão que compete ao legislador. Estaremos naturalmente atentos à evolução da legislação nesta matéria embora, como referi, essa não seja uma questão que esteja no centro das nossas preocupações.

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