Indefinição no Brexit faz mossa no setor automóvel do Reino Unido
Com a sombra de uma saída sem acordo, há o risco de a importação de veículos ligeiros para o Reino Unido ficar sujeita a uma tarifa de 10%.
Enquanto o Partido Conservador procura o novo líder, com Boris Johnson à frente na corrida à sucessão de Theresa May, o Reino (cada vez menos) Unido abraça um longo período de indefinição que tem especial impacto no setor automóvel, uma indústria de 82 mil milhões de libras que emprega 856 mil pessoas.
Com a sombra de uma saída sem acordo, há o risco de a importação de veículos ligeiros para o Reino Unido ficar sujeita a uma tarifa de 10%, definida nos termos da Organização Mundial de Comércio, o que de acordo com a Associação Britânica da Indústria e Comércio Automóveis (SMMT) representaria um fatura adicional de cerca de 1,8 mil milhões.
É quase inimaginável “tarifas superiores a 10%”. Mas “só o facto de existirem tarifas terá um enorme impacto nas importações, mas também em empregos nas áreas das vendas e distribuição, manutenção e outros serviços que se perderão”, diz Peter Wells, diretor do Centro de Investigação sobre a Indústria Automóvel da Universidade de Cardiff, ao ECO.
Mas “o principal risco é que não existe clareza sobre os termos do processo de saída e de quais as condições que vão regular o pós-Brexit”, nota. “Como consequência desta incerteza”, acredita o investigador, “houve uma redução do investimento na indústria automóvel no Reino Unido”, esclarecendo, todavia, que “embora em muitos dos casos as decisões de desinvestimento não estejam exclusivamente relacionadas com o Brexit, a natureza das futuras relações de longo-prazo entre o Reino Unido e União Europeia são um importante fator (de preocupação)”.
"Sair da União Europeia tornará a importação de componentes e de materiais mais cara, o que é relevante se tivermos em conta que muitos dos fabricantes de veículos no Reino Unido importam grande parte desses mesmos materiais dos países da UE.”
Sobre um impacto das tarifas na competitividade do setor, o professor diz que “sair da União Europeia tornará a importação de componentes e de materiais mais cara, o que é relevante se tivermos em conta que muitos dos fabricantes de veículos no Reino Unido importam grande parte desses mesmos materiais dos países da UE. Com um custo adicional, a que se somarão as barreiras alfandegárias (10% de tarifa, se nenhum acordo for feito), observaremos uma redução da competitividade dos veículos produzidos no Reino Unido no mercado da UE, o que faz prever um declínio da produção automóvel britânica no caso de insucesso na presença em mercados alternativos”.
Mas o investigador diz que os fabricantes da UE também sofrerão. Atualmente, o Reino Unido apresenta um excedente estrutural na produção de motores, sendo que os motores já finalizados são depois exportados para as fábricas de montagem na UE. Os custos naturalmente subirão. Mas mais importante do que isso, o mercado britânico é muito relevante no conjunto europeu. “O Reino Unido apresenta tendencialmente um maior número de carros especializados e de alta cilindrada vendidos e, por essa mesma razão, apresenta-se como um mercado lucrativo para os importadores”, diz.
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