“É inútil diabolizar o crédito ao consumo”, diz Máximo dos Santos
Vice-governador do Banco de Portugal afirma que o crédito ao consumo é atualmente muito regulado e fiscalizado. No entanto, referiu que o abrandamento da concessão não é má notícia.
O crédito ao consumo não é o diabo, mas não há problema em que abrande. É esta a posição de Luís Máximo dos Santos, vice-governador do Banco de Portugal, que lembrou a importância das empresas de crédito especializado no sistema financeiro, esta terça-feira na apresentação do estudo Impacto do Crédito ao Consumo na Economia Portuguesa.
“É muito importante para o desenvolvimento do sistema financeira que as empresas do setor tenham uma postura promotora e atuante”, começou por dizer o vice-governador, apontando para a necessidade de envolvimento de entidades políticas, reguladoras, mas também académicas e empresariais no debate sobre o setor.
“O crédito ao consumo tem largas implicações económicas e sociais. É inútil diabolizá-lo. É preciso, sim, regulá-lo e fiscalizá-lo e evitar consequências nefastas para o tecido social“, sublinhou Máximo dos Santos. Após níveis historicamente baixos no final do ano passado, os números do incumprimento voltaram a agravar-se no arranque de 2019.
"Crédito ao consumo tem largas implicações económicas e sociais. É inútil diabolizá-lo. É preciso sim regulá-lo e fiscalizá-lo e evitar consequências nefastas para o tecido social.”
No primeiro trimestre do ano subiu o número de famílias a falhar o pagamento das prestações dos empréstimos. Na base dessa evolução está o crédito ao consumo que naquele período viu as situações de incumprimento crescerem ao ritmo mais acelerado dos últimos sete anos. No final de março, essa finalidade de crédito era responsável por nove em cada dez situações de sobreendividamento.
É esta a preocupação do Banco de Portugal, que até vê com bons olhos o recuo da concessão de crédito. O total de concessão de crédito ao consumo, em 2018, foi 7,35 mil milhões de euros, um novo máximo desde pelo menos 2013. Por dia foram concedidos mais de 20 milhões de euros.
No entanto, o crescimento foi de apenas 10%, o que compara com taxas de crescimento de 12% em 2017 e 17,5% em 2016. O abrandamento do crédito ao consumo “não é de todo uma má notícia porque as anteriores taxas eram manifestamente elevadas”, disse Máximo dos Santos.
O vice-governador acrescentou que a desaceleração — que abrange todos os segmentos (em especial a concessão de crédito para a compra de carro) e dura desde o segundo semestre do ano passado até agora — coincide com a aplicação de uma medida macroprudencial pelo Banco de Portugal que visa travar a concessão de crédito.
O travão ao crédito entrou em vigor em julho o ano passado com o objetivo de prevenir riscos para os bancos, situações de sobreendividamento das famílias e riscos para a economia. O primeiro balanço, divulgado pelo Banco de Portugal no mês passado, indica que as instituições financeiras estão a acatar e a aplicar o conjunto de três limites que devem ser tidas em conta na hora de dar crédito às famílias. Nova avaliação será feita no primeiro trimestre de 2020.
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