OPEP vai prolongar corte de produção. Preço do petróleo pode disparar?
Após a volatilidade no primeiro semestre, G20 e reunião da OPEP dão impulso aos preços da matéria-prima. Mas serão a desaceleração económica e as tensões geopolíticas a ditar o futuro das cotações.
Era 2017 quando os maiores produtores de petróleo do mundo chegaram a um acordo histórico de cooperação. O pacto mantém-se, mas começou nos últimos meses a mostrar debilidades com os países em dificuldades para definirem um caminho conjunto a seguir. Agora, apesar de ser quase certo que o mapa já está definido, a incerteza não está próxima do fim.
“A maior parte dos ministros apoiam uma extensão de nove meses”, afirmou, à Reuters, Kanat Bozumbayev, ministro da Energia do Cazaquistão durante a reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e de outros países aliados. No final, veio a confirmação da prorrogação por mais nove meses, até 31 de março de 2020, da redução da produção de petróleo. “O compromisso (para manter o corte na produção) é muito sólido” entre todos os parceiros da OPEP, explicou o ministro do Petróleo saudita, Khalid al-Falih
No fim de semana, o presidente Vladimir Putin já tinha anunciado que a Rússia (maior produtor fora do cartel, mas dentro do acordo) e a Arábia Saudita (maior produtor no cartel) concordavam num prolongamento entre seis e nove meses. Agora, confirmou-se. O prolongamento do atual corte de produção petrolífera em curso (em 1,2 mil milhões de barris por dia) tem como objetivo reduzir o desequilíbrio entre oferta e procura, levando a um aumento gradual dos preços.
Com as potências do mercado do petróleo alinhadas, o acordo ficou fechado, depois de meses de incerteza (que levou até ao adiamento desta reunião). A desaceleração da economia e as escaladas de tensão geopolítica são os dois principais problemas que criaram discórdia dentro do grupo e levaram a uma montanha russa nos preços do petróleo ao longo deste ano.
O valor do barril de crude WTI abriu o ano nos 45 dólares, chegou a superar os 66 dólares em abril, antes de cair até aos atuais 59,90 dólares. Já o Brent partiu dos 54 dólares até aos atuais 66 dólares, após um pico próximo dos 75 dólares.
Apesar de haver fatores que poderão impulsionar os preços, a média das estimativas dos analistas consultados pela Reuters aponta para uma subida apenas ligeira. O setor antecipa que o barril de Brent fique nos 67,59 dólares este ano e 67,7 dólares no próximo. Já o WTI é visto nos 59,30 dólares este ano e 60,83 dólares no próximo.
Perspetivas de acordo dão novo ânimo ao mercado
Fonte: Reuters
Atualmente, as grandes subidas nos preços têm sido causadas por momentos de stress pontuais. As sanções petrolíferas dos EUA em vigor à Venezuela e recentemente aplicadas ao Irão têm feito subir o valor da matéria-prima, enquanto episódios de escalada de tensão (como os drones no Golfo Pérsico) têm causado episódios pontuais de subida.
Do lado dos sancionados, o Irão não tem dificuldades em identificar a fonte dos problemas. “Os EUA e outros países vizinhos no Golfo Pérsico querem pressionar-nos. É muito injusto porque não temos qualquer problema com o acordo internacional que assinámos, mas os EUA comprometeram o acordo“, dizia o Ministro do Petróleo iraniano Bijan Zanganeh, sobre as sanções do presidente Donald Trump, que tem sido muito crítico face ao acordo de cortes de produção da OPEP e aliados.
OPEP e bancos centrais não chegam para grandes subidas
Há, no entanto, outro fator mais forte. Questionado sobre os fatores que vão pesar sobre o mercado petrolífero, o ministro russo da Energia, Alexander Novak, reconheceu “a influência das sanções no mercado mundial”, mas apontou principalmente para “o consumo de petróleo no terceiro e quarto trimestre e o ritmo de crescimento da economia global”, em declarações citadas pela Reuters.
A economia a abrandar pressionada pela mudança no ciclo económico (mas principalmente pelas implicações da guerra comercial) leva a um sentimento negativo sobre as perspetivas de procura global. Em junho, a OPEP reviu em baixa as estimativas de procura mundial de crude para um total de 99,86 milhões de barris diários este ano (menos 70 mil que o valor estimado no mês anterior).
Governos, economistas e bancos centrais têm acompanhado de perto os desenvolvimentos económicos para perceber se a desaceleração é, na realidade, um travão a fundo ou mesmo um preâmbulo de recessão. A Reserva Federal norte-americana já admitiu um corte nos juros e o Banco Central Europeu falou da necessidade de estímulos adicionais à economia.
A resposta dos bancos centrais pode limitar o peso do problema na procura por petróleo ao criar um renovado sentimento positivo nas economias e a extensão do acordo da OPEP poderá dar um ânimo temporário aos mercados. No entanto, a expectativa é que os valores do barril não mudem significativamente face aos níveis atuais.
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