Saco azul do BES? “Nunca acompanhei os financiamentos das campanhas em que participei”, diz Cavaco
Confrontado com investigações à legalidade dos financiamentos do BES à campanha de 2011, ex-PR sublinhou que nunca foi amigo de Ricardo Salgado e que não acompanhou financiamento das suas campanhas.
“Nunca acompanhei os financiamentos das campanhas em que participei, mas o meu mandatário financeiro está disposto a fornecer todas as explicações que os senhores quiserem.”
Foi desta forma que Cavaco Silva reagiu à investigação judicial em curso à possibilidade da campanha do ex-Presidente da República em 2011 ter sido alimentada por financiamentos ilegais oriundos do “saco azul” do BES, depois de confrontado pelo Correio da Manhã sobre as informações reveladas pela Sábado.
“Nunca acompanhei os financiamentos das campanhas em que participei. O mandatário financeiro está disposto a fornecer todas as explicações que os senhores quiserem”, começou por salientar Cavaco Silva aos jornalistas, apontando de seguida que as contas das suas campanhas foram sempre aprovadas pela comissão fiscalizadora destas. “O que sei é que contas foram todas aprovadas pela comissão fiscalizadora das campanhas e todo o dinheiro que sobrou foi entregue ao Estado.”
Segundo a investigação dos jornalistas da Sábado, o esquema montado pelo BES para fazer chegar 253.360 euros à campanha de Cavaco Silva visava precisamente contornar as regras previstas para o financiamento de campanhas e, assim, assegurar que uma fiscalização a estas contas não identificaria o financiamento ilegal.
“Aconselho-vos apenas a falar com Vasco Valdez que foi o mandatário financeiro das campanhas”, disse ainda o também ex-primeiro-ministro.
Já questionado se terá sido à conta deste apoio recebido por parte do BES que Cavaco Silva garantiu aos portugueses que podiam confiar no banco da família Espírito Santo, Cavaco Silva mostrou-se menos confortável, mas rematou: “Nunca tive nenhuma amizade com Ricardo Salgado.” E se alguém quiser saber mais, então que leia a mais de uma dezena de livros que Cavaco escreveu, disse mesmo o ex-líder do PSD.
“As minhas memórias contam palavra por palavra o que eu fiz enquanto fui primeiro-ministro e Presidente da República. Sabe quantos livros publiquei? 14. E como primeiro-ministro foram oito. E está tudo lá. Vá às memórias que tem lá transcrito tudo, palavra por palavra”, respondeu aos jornalistas.
Saco azul do BES financiou Cavaco Silva com 253 mil euros
Em causa nestas declarações de Cavaco Silva está uma investigação da Sábado, que seguiu o rasto a vários cheques que ex-gestores do BES entregaram à campanha de Cavaco Silva, todos na casa dos 25 mil euros, valor máximo permitido por lei para estas doações individuais. Ao todo, o clã dos Espírito Santo deu 253.360 euros a Cavaco Silva, quase metade dos donativos previamente orçamentados pela campanha do ex-líder do PSD.
Ao seguir o dinheiro, a revista identificou então um esquema que serviu para ocultar que o real “benemérito” de Cavaco Silva era uma entidade coletiva, e logo aquela que é hoje conhecida como o “saco azul” do BES, a ES Entreprise, isto quando é proibido a entidades coletivas financiar campanhas. A Sábado aponta que os gestores do BES, depois de entregarem os donativos foram ressarcidos pelo exato valor pela ES em valor idêntico, e em alguns casos através de offshores, num esquema preparado pelo próprio Ricardo Salgado.
Atualmente, o DCIAP encontra-se a investigar este esquema, suspeitando que os gestores do BES envolvidos tenham incorrido no crime de financiamento ilegal de campanhas eleitorais, crime cuja moldura penal varia entre um e três anos de prisão.
As doações a Cavaco Silva reembolsadas pela ES Entreprises foram assinadas por Ricardo Salgado, José Manuel Espírito Santo Silva, Rui Silveira, Joaquim Goes, António Souto, Amílcar Morais Pires, Pedro Fernandes Homem, Manuel Fernando Espírito Santo Silva e António Ricciardi.
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