Juros, QE e até compra de ações. Draghi tem a caixa de ferramentas cheia e vai usá-la

O BCE reúne-se esta quinta-feira para discutir os próximos passos da política monetária da Zona Euro. O mercado antecipa que alguma decisão seja tomada, mas todas as opções estão em aberto.

“Estamos preparados e prontos a atuar, em caso de necessidade, para manter a inflação no caminho da nossa meta. Certamente que temos as ferramentas e um histórico de bom desempenho a responder aos riscos“. As palavras foram, esta semana, do novo economista-chefe do Banco Central Europeu (BCE), Philip Lane, mas não são novas. O presidente Mario Draghi também já o tinha dito e já ninguém duvida que está — novamente — pronto a fazer “whatever it takes” para salvar o euro.

A economia em desaceleração e o aumento da incerteza levaram os governadores do BCE a concordar na provável necessidade de prolongarem as medidas de estímulos à economia. Não concordaram, ainda assim, sobre o que fazer. E o mercado parece espelhar a situação: uma caixa de ferramentas cheia, de onde Draghi ainda poderá tirar algumas surpresas já esta quinta-feira, após a reunião de política monetária do banco central.

O mercado não está a descontar o potencial todo. O BCE ainda pode conseguir surpreender“, afirmou André Themudo, responsável pelo negócio da BlackRock em Portugal e pelo segmento de wealth em Espanha. O mercado está a atribuir uma probabilidade de 40% de o BCE cortar juros já esta quinta-feira, de acordo com uma poll realizada pela Reuters.

A taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento está atualmente em 0%, enquanto as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez situam-se em 0,25% e a aplicável à facilidade permanente de depósito em −0,40%. As três taxas estão em mínimos históricos e, no final da última reunião, Draghi reconheceu que os governadores discutiram a possibilidade de descer para terreno ainda mais negativo a taxa de depósito.

O BlackRock Investment Institute, por exemplo, antecipa uma descida de 0,10 pontos percentuais apenas em setembro. O Goldman Sachs concorda com a estimativa de timing e antecipa que esta decisão retire, em média, 6% aos lucros dos maiores bancos na Zona Euro, ou seja 5,6 mil milhões de euros.

“O que entendimento do que Mario Draghi disse [no Fórum do BCE em Sintra] é que, caso haja um corte de juros, venha com medidas de compensação para os bancos”, afirmou Erik Nielsen, economista-chefe do grupo UniCredit, ao ECO.

Corte de juros, mais dívida ou compra de ações?

Essas medidas de compensação podem também elas assumir várias formas, como um sistema escalonado que seja aplicado consoante as condições dos diferentes bancos ou condições mais favoráveis na terceira ronda de operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas (TLTRO, na sigla em inglês) que vai começar em setembro (e durar até março de 2021).

Medidas de mitigação seriam TLTRO mais baratos. Penso que um sistema escalonado é tecnicamente muito complicado“, disse Nielsen. Louis Harreau, estratega do Credit Agricole, discorda: “Claro que o BCE pode implementar um esquema de escalões — e provavelmente vai fazê-lo –, mas não espero um corte de juros a menos que o euro esteja muito elevado. Neste momento não está, portanto não espero que aconteça nos próximos meses”.

Os juros eram, até antes da última crise, o instrumento por excelência dos bancos centrais para incentivar o consumo ou a poupança e, consequentemente, influenciar inflação e economia. Desde 2014 que essa convenção foi quebrada e Draghi mostrou que tem mais opções, ao lançar o quantitative easing.

O que aprendemos com o BCE nos últimos anos é que quando diz que está pronto a fazer tudo o que seja preciso, faz mesmo. Não sabemos qual a ferramenta que irá usar, mas sabemos que o BCE vai ser pró-ativo“, acrescentou Harreau, que acredita que a instituição vai anunciar esta quinta-feira uma nova ronda de compra de dívida a começar no início do próximo ano.

O BCE terminou, no final de dezembro, a aquisição líquida de títulos e o programa entrou numa nova fase de reinvestimentos dos montantes que atingem as maturidades. Poderá agora relançar as compras de dívida pública e privada ou até mesmo ir mais longe, como antecipa Themudo, da BlackRock.

“Podemos ver vários tipos de estímulos. Não só outra vez um QE, portanto a compra de obrigações, mas quem sabe também — e não descartamos — entrar numa programa diferente, de compra de ações“, adiantou. “Poucos bancos centrais se aventuraram nessa via. O Banco do Japão aventurou-se nesse mundo, mas não descartamos que possa acontecer em economias como a da União Europeia, o que pode resultar num rally ainda mais forte de ativos de risco como as ações europeias”.

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