O presidente da Partex não acredita que o cartel vá desaparecer para já, mas reconhece que a sua credibilidade está em jogo. A OPEP conseguiu chegar a uma acordo, mas isso pode não ser suficiente.
A credibilidade da Organização dos Países Exportadores de Petróleo está em causa. O presidente da Partex diz que o cartel não tinha outra saída se não chegar a um acordo com os países produtores de petróleo. O que é que mudou? A difícil situação financeira da Arábia Saudita. Mas, para António Costa Silva, este acordo não deve ser suficiente para que os preços voltem em breve ao patamar dos 100 dólares, nem agora nem na próxima década.
O petróleo voltará alguma vez mais à fasquia dos 100 dólares?
O regresso do petróleo aos 100 dólares será muito difícil nos próximos tempos, diria na próxima década. Porque com a revolução do petróleo de xisto nos EUA temos um excesso de produção no mercado e durante muito tempo, desde o primeiro trimestre de 2014, foram cerca de dois milhões de barris por dia. Consecutivamente, este ano vejo pela primeira vez que esse excesso de produção se está a desvanecer, mas ainda temos um excesso de cerca de um milhão de barris por dia e há muitas forças contrárias.
Qual será o novo normal para as cotações da matéria-prima?
Penso que o preço do petróleo vai andar nos próximos anos entre os 50 e os 60 dólares. Vai ser muito difícil sair daí. E porquê? Porque mesmo que o preço recupere, não nos podemos esquecer que há grandes países produtores como o Irão. Com as sanções, o Irão tinha uma produção bastante residual e hoje já está a chegar aos quase quatro milhões de barris por dia. E nós temos umas situação muito interessante no mercado que nunca ocorreu no passado. Os países da OPEP e fora da OPEP estão a produzir ao máximo. Há uma competição, mas isto também foi instigado pela política da Arábia Saudita de lutar pela quota de mercado. A Arábia Saudita compreendeu que havia um outro grande player no mercado que são os EUA.
Mas agora é a Arábia Saudita que precisa deste acordo da OPEP…
A questão crucial é que a Arábia Saudita também precisa neste momento de um acordo porque tinha uma almofada financeira muito grande, cerca de 800 mil milhões de dólares que criou na altura do boom dos preços do petróleo. Mas só o ano passado tiveram uma erosão de 85 mil milhões. Pela primeira vez registou um défice e já recorreu à emissão de obrigações. Não se pode esquecer também que a Arábia Saudita está em guerra em várias frentes e isso incluindo no Iémen. Por isso, a Arábia Saudita começa a sentir o que outros já sentiram antes. A Venezuela, a Nigéria, Angola e Argélia já têm vindo a sentir uma situação muito grave em termos de finanças públicas.
O papel da OPEP sai reforçado com o acordo alcançado?
O acordo tinha de ser alcançado porque era a única hipótese que eles tinham de ganhar credibilidade. Por isso, não diria que o papel do cartel saiu reforçado, mas que reganharam um pouco de credibilidade. Agora vamos ver como é que o acordo vai ser implementado, porque não nos podemos esquecer que há países com o Irão e o Iraque que não respeitam as quotas de produção e os acordos e que muitos destes países estão numa situação extremamente difícil. Mas a Arábia Saudita vai fazer de tudo para que o acordo seja implementado, porque precisa mesmo que isto aconteça para que haja uma recuperação do preço do petróleo.
A recuperação do petróleo vai manter-se?
A recuperação vai ser moderada porque os EUA têm 2 mil poços de petróleo e 2.500 poços de gás e apenas estão à espera que os preços recuperem para começarem a produzir. Esta recuperação modesta pode durar alguns meses, mas depois vamos ter outra vez excesso no mercado.
Disse que a OPEP poderia desaparecer. Acredita que isso pode mesmo acontecer?
Não acredito que a OPEP vá desaparecer para já, mas não podemos esquecer que o cartel tem de tem de ter coesão, barreiras de entrada no negócio, disciplina e isso está a desaparecer na OPEP. A OPEP está minada pela luta interna, entre sauditas e iranianos. Portanto, há ali um conflito que é também um conflito de hegemonia política na região. E não nos podemos esquecer que o certificado de morte anunciada da OPEP foi passado pelo príncipe da Arábia Saudita. É evidente que agora estão a tentar recuperar, mas a OPEP não vai ser a mesma do passado. A sua credibilidade está em causa. Como dizia um dos ministros dos países do Golfo Pérsico, a OPEP está cheia de bom senso, mas não consegue usá-lo.
Como é que os EUA vão ripostar?
Os EUA vão ripostar como sempre o fazem, com questões económicas. A recuperação dos preços vai reabilitar muitos projetos. O país vai manter a sua produção, vai subir e por isso é que penso que o mercado se arrisca a ter outro excesso de produção no futuro.
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Partex: Credibilidade da OPEP está em jogo. Acordo era a única saída
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