A importância de (re)investir

Se a causa do baixo investimento das empresas assenta nas dificuldades de financiamento, por que razão os proprietários optam por descapitalizá-las em vez de nelas investirem?

Entre 2000 e 2013, os recursos gerados internamente revelaram-se insuficientes para financiar o investimento. Até à crise financeira internacional não houve restrições no acesso ao crédito, sendo assim supridas as necessidades de financiamento. A crise do euro levou a um processo muito rápido de correcção do desequilíbrio externo, através do aumento da taxa de poupança e da redução da taxa de investimento, situando-se ambas em torno dos 15% do PIB desde 2013.

O reequilíbrio externo talvez seja o maior sucesso do programa de ajustamento da troika. Mas a taxa de poupança da economia portuguesa continua entre as mais baixas dos países da OCDE e a taxa de investimento das empresas está em mínimos históricos. O aumento da taxa de investimento é uma condição necessária para um crescimento mais robusto e sustentado.

Um dos motivos para a preocupação com a baixa taxa de poupança são as dificuldades de financiamento da economia portuguesa. O elevado endividamento e a falta de confiança dos mercados financeiros internacionais não deixam alternativa ao aumento da poupança.

O governo tem atribuído o baixo investimento das empresas às dificuldades de financiamento, tendo colocado a situação dos bancos no centro da discussão política e criado o Programa Capitalizar. Este programa tem, entre outros, os objetivos “de promover estruturas financeiras mais equilibradas, reduzindo os passivos das empresas economicamente viáveis, ainda que com níveis excessivos de endividamento, bem como de melhorar as condições de acesso ao financiamento das pequenas e médias empresas”.

Da análise da situação financeira das empresas destacam-se os juros pagos e os lucros distribuídos. Os juros pagos (em torno dos 5 mil milhões de euros nos últimos anos) não surpreendem, dado o elevado endividamento das empresas portuguesas (ler O dinheiro dos outros). O mesmo não se poderá dizer em relação aos dividendos, que se situaram em torno dos 11 mil milhões de euros – ver Figura abaixo.

Rendimentos de propriedade pagos (sociedades não financeiras, milhões de euros) Fonte: INE
Rendimentos de propriedade pagos (sociedades não financeiras, milhões de euros)
Fonte: INE

 

O valor de dividendos distribuídos nos últimos anos é muito próximo do investimento realizado pelas empresas. Por exemplo, em 2014, as empresas investiram cerca de 12,5 mil milhões de euros (25 mil milhões em 2008) e distribuíram lucros num montante de cerca de 11,5 mil milhões de euros (14 mil milhões em 2008).

Se a causa do baixo investimento das empresas portuguesas são as dificuldades de financiamento, a pergunta que temos de fazer é por que razão os proprietários optam por descapitalizá-las em vez de nelas reinvestirem.

Num contexto de baixas rendibilidades, o facto de os proprietários das empresas não considerarem o reinvestimento como uma boa opção merece reflexão. Será um problema de falta de confiança na economia portuguesa?

Identificar as causas do prolongado processo de descapitalização das empresas portuguesas, em curso há mais de uma década, é o primeiro passo para definir políticas eficazes de incentivo ao investimento. O reinvestimento dos lucros resultaria num aumento simultâneo da poupança e do investimento. Por outro lado, o financiamento do investimento por capitais próprios constituiria um incentivo à realização de investimentos com maior retorno, reduzindo o risco para o sistema financeiro.

Finalmente, uma economia que não consiga convencer os empresários nacionais a investir também não vai ser bem-sucedida na atracção de capitais do exterior. Assim, a definição de políticas que visem estimular o investimento e melhorar as condições de financiamento das empresas têm de fornecer incentivos ao reinvestimento dos lucros das empresas.

Esta é uma das questões que explorámos num novo trabalho, apresentado na semana passada, Poupança e Financiamento da Economia Portuguesa – de que sou co-autor, com o Luís Aguiar-Conraria, o Miguel Portela e o Pedro Bação – realizado para a Associação Portuguesa de Seguradores.

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