• Entrevista por:
  • Rita Atalaia e Paula Nunes

Partex: Faz sentido explorar gás em Portugal? Sim, absolutamente

Para o presidente da Partex, a exploração de gás faz sentido. Mas há muitos entraves. Um desses obstáculos é a queda dos preços do petróleo e uma "mentalidade no país que é hostil às empresas".

António Costa Silva deposita mais fé na exploração de gás do que de petróleo. Mas há muitas barreiras e uma “mentalidade no país que é hostil às empresas”. Entre os obstáculos está a queda dos preços do petróleo. Uma descida que parece estar na base da decisão do consórcio que a Partex tem com a Repsol de adiar um furo para prospeção de gás na costa algarvia.

Há petróleo em Portugal? Está no Algarve?

Vamos ver. Porque a situação em Portugal é muito difícil para as empresas. Temos uma mentalidade no país que é hostil às empresas, é hostil ao investimento. Sempre defendi que o Algarve pode ter recursos, em particular gás. Mas vejo muitas dificuldades perante a reação que houve e é evidente que as preocupações ambientais são muito importantes. Sou o primeiro a dizer que as companhias devem responder, mas são projetos convencionais, com rochas convencionais. Não têm nada de fraturação hidráulica, são métodos que foram testados. Além disso, podem gerar um novo motor de desenvolvimento da economia para um país que precisa desesperadamente disso.

Mesmo havendo, com os preços atuais, faz sentido a exploração?

Com a queda dos preços é evidente que estamos a rever os projetos. Mesmo da parte dos operadores. É evidente que o portefólio é muito afetado. Estamos a fazer esse exercício, também em diálogo com as autoridades portuguesas. Mas este colapso dos preços afeta os projetos que existiam, sobretudo no offshore — ao largo da costa –, que são os mais caros.

O que pensa das concessões atribuídas ao empresário Sousa Cintra para que possa procurar petróleo no Algarve?

Não gostava muito de me expressar sobre isso. Não estudei esse dossier. Mas evidentemente que as concessões que são atribuídas em terra têm características que são muito diferentes das do offshore. No offshore estamos a falar de operações que decorrem a 50 ou 60 quilómetros da costa. Sobretudo no Algarve estamos a falar de concessões que podem eventualmente coincidir com áreas protegidas. Portanto, a complexidade é muito maior e provavelmente deveria ter-se em conta uma análise mais detalhada de todos esses impactos antes de atribuir as concessões.

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E gás? Faz sentido explorar?

Faz, absolutamente. O gás em conjunto com as energias renováveis. Se olhar para a evolução da matriz energética mundial, é muito curioso porque temos uma queda da quota de petróleo. O petróleo já representou 50% e tem vindo a cair. E sobretudo no século XXI. Enquanto o gás é exatamente o inverso. O gás está a subir. A sua versatilidade é tal que serve não só para a geração elétrica e térmica, mas também para o sistema de transportes.

Em agosto foi suspenso o furo de prospeção de gás natural na costa algarvia. Já há previsões para quando este projeto será retomado?

Foi uma decisão do consórcio. Ainda não temos planos para retomar o projeto. Estamos em discussão com o Governo português e à espera de uma decisão das autoridades face às propostas que estamos a fazer. A decisão também está relacionada com a queda brutal do preço do petróleo e com o posicionamento dos grupos ambientais que respeitamos e com as preocupações que foram evidenciadas. Fizemos um estudo de impacto ambiental para o projeto do Algarve. Não éramos obrigados a fazê-lo porque é uma concessão para exploração, mas fizemos e partilhámos com as autoridades. A questão aqui é seguir escrupulosamente o que a lei manda.

Mas há algum entrave?

Não, nesta altura diria que o maior entrave foi a queda dos preços do petróleo e ligado a isso a dificuldade para justificar este projeto.

  • Rita Atalaia
  • Redatora
  • Paula Nunes
  • Fotojornalista

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