Moody’s: Bancos do sul da Europa menos beneficiados por remuneração de depósitos do BCE
A Moody's considera que um número de bancos do sul da Europa iria beneficiar a uma escala menor porque não são grandes detentores de depósitos.
A agência rating Moody’s afirmou esta quinta-feira que a introdução de um sistema por níveis para remuneração de reservas por parte do Banco Central Europeu (BCE) beneficiaria a rentabilidade dos bancos, mas menos os do sul da Europa.
“Introduzir um sistema por níveis seria positivo para o crédito dos bancos da zona euro porque iria reduzir os gastos em juros, apoiando a sua rentabilidade“, pode ler-se numa nota hoje divulgada pela Moody’s.
No entanto, a agência de notação financeira assinala que os bancos do sul da Europa beneficiariam menos do que os franceses ou alemães.
“Um número de bancos do sul da Europa iria beneficiar a uma escala menor porque não são grandes detentores de depósitos“, assinala a agência, que refere que a introdução de um sistema por níveis poderia “implicar poupanças (…) particularmente para os bancos alemães e franceses, cuja liquidez excede as obrigações de reserva e totaliza mais de 60% da liquidez total depositada no BCE“.
A agência de notação financeira assinala que os bancos da Zona Euro “tinham cerca de 1,8 biliões [de euros] de liquidez excessiva no BCE no final de 2018“, o que gerou “mais de sete mil milhões [de euros] de gastos em juros durante o ano”.
A Moody’s explica que “um sistema por níveis consiste tipicamente no banco central cobrar a taxa de depósito (…) apenas numa fração do dinheiro depositado (…), enquanto o remanescente beneficiaria de condições menos punitivas”, algo já utilizado pelos bancos centrais da Suíça e do Japão.
“No entanto, é difícil nesta altura medir o efeito que um sistema por níveis pode ter sem ter detalhes sobre o seu desenho”, ressalva a agência de notação financeira.
Na semana passada, nas conclusões da sua reunião de política monetária, o BCE “incumbiu os comités do Eurosistema pertinentes de analisar as opções, incluindo (…) medidas de mitigação, tais como a conceção de um sistema por níveis para a remuneração de reservas”.
Nesta reunião, o BCE decidiu manter as suas taxas de juro nos níveis atuais e afirmou que pretende que continuem a este nível ou “mais baixas” durante um período alargado, abrindo caminho a uma possível descida.
Esta semana, durante as apresentações de resultados de quatro bancos portugueses, os respetivos presidentes executivos manifestaram preocupações face à política acomodatícia do BCE.
Na segunda-feira, o presidente do BPI, Pablo Forero, previu “más notícias” para a margem financeira dos bancos devido à política monetária do BCE que pressiona as taxas de juro.
O presidente executivo do BCP disse que o banco tem condições de acomodar as pressões nas receitas decorrentes da política monetária do BCE e que não irá fazer alterações aos objetivos do plano estratégico, desde logo na rentabilidade.
Na terça-feira, o presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, apelidou de “difícil” o contexto da banca europeia face às baixas taxas de juro e à probabilidade de voltarem a descer, considerando que perante isso os bancos terão de continuar a “reduzir custos, melhorar eficiência, limpar folha de balanço”.
No dia seguinte, o presidente do Santander Totta, Pedro Castro e Almeida, antecipou dificuldades na rentabilidade dos bancos europeus decorrentes das baixas taxas de juro e estimou um impacto anual de 100 milhões de euros nas receitas da margem financeira no seu banco.
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