Afinal, Orey não sai do setor financeiro. Criou nova empresa ligada ao Best
Parceria entre o banco e a corretora não é nova. Em abril, a Orey Financial comunicava aos clientes que podiam passar para o Best ou as contas seriam encerradas. Agora, toma novos contornos.
A estratégia de desinvestimento do grupo Orey no setor financeiro, afinal, não irá implicar um abandono completo do setor. Ainda antes de a Orey Financial ter perdido a licença de intermediário de crédito pelo Banco de Portugal, o grupo criou uma nova empresa ligada ao banco Best. É a OreyBlue e apresenta-se como “um promotor de produtos e serviços financeiros” independente.
O registo na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) da Oreyblue Unipessoal como “agente vinculado” aconteceu a 27 de maio deste ano, nove meses depois de a Orey ter anunciado que ia deixar o setor financeiro. Com prejuízos superiores a dois milhões de euros em 2017 — em parte justificados por este segmento de negócio –, queria focar-se na área core do grupo histórico português: os transportes e logística.
Na altura, dizia querer vender a posição acionista na Orey Financial. O processo deu, no fim da semana passada, um passo importante. O Banco de Portugal (BdP) aceitou o pedido da financeira liderada por Duarte d’Orey de perda de licença de intermediário de crédito. Já a CMVM ordenou medidas restritivas que proíbem a angariação de novos clientes, abrir novas contas ou aceitar depósitos pecuniários e/ou de instrumentos financeiros.
Entre um evento e outro, desenvolveram-se uma série de passos que indicam que a Orey vai manter-se ligada ao setor, segundo apurou o ECO. A equipa da Orey Financial passou para a nova empresa, cuja morada fiscal é a mesma do grupo, na Rua Maria Luisa Holstein, em Lisboa, mas cujo capital social não foi possível conhecer.
É o caso de Catarina Castro, CEO na OreyBlue (ou “oBlue” como se apresenta no seu site oficial), que desempenhou funções de chief investment officer na Orey Financial entre agosto de 2017 e julho de 2019. Igualmente, Sérgio Miguel Vieira, diretor na oBlue, estava na Orey Financial desde 2013, tendo exercido o cargo de head of sales trading nos últimos três anos.
Ambos divulgam publicamente na rede social LinkedIn que saíram da Orey Financial em julho para integrar a nova entidade. Na equipa estão ainda, pelo menos, mais duas pessoas que estiveram também ligadas à primeira: Ana Filipa Silva e Elsa Figueiredo.
A CMVM confirmou ao ECO que a “OreyBlue foi registada como agente vinculado do Best em 27 de maio de 2019” e clarificou que a figura do agente vinculado define-se como “pessoa, singular ou coletiva, que sob a responsabilidade total e incondicional de uma única empresa de investimento em cujo nome atua, promove serviços de investimento e/ou serviços auxiliares junto de clientes ou clientes potenciais, recebe e transmite instruções ou ordens de clientes relativamente a serviços de investimento ou instrumentos financeiros, coloca instrumentos financeiros e/ou presta aconselhamento a clientes ou clientes potenciais relativamente a esses instrumentos ou serviços financeiros”.
Ou seja, a OreyBlue — cujo slogan no site é “rentabilizamos o seu património” — não terá a licença de intermediário que a Orey Financial tinha e trabalha em nome do Best. Duas fontes do mercado explicaram ao ECO que a Orey queria manter a ligação a um grupo restrito de clientes financeiros e que encontrou assim a forma de o fazer, sem se desligar completamente do setor. O estatuto permite-lhe o que está agora vedado à Orey Financial: angariar novos clientes.
A nova empresa não tem autonomia, nem irá fazer intermediação financeira, movimentar contas de clientes ou cobrar-lhes dinheiro pelos serviços. Praticamente a única atividade será de angariação de clientes, em nome do Best. Será o banco a ficar responsável por serviços, produtos e receitas, bem como pelo controlo e compliance relacionado com clientes.
Parceria com o Best já tem histórico. Clientes da Orey Financial passam para o banco
Apesar de sucessivos contactos, não possível obter resposta da Orey às questões do ECO. Já o Best confirma que a OreyBlue, tal como outros 138 agentes, é um agente vinculado ao banco. “O Best tem desenvolvido um conjunto de iniciativas no sentido de reforçar o seu posicionamento no mercado nacional enquanto plataforma de asset management e trading. Nos últimos tempos, a introdução de novos produtos e serviços na oferta do Banco, têm permitido criar um maior dinamismo da atividade comercial”, refere.
A relação entre a corretora de Duarte D’Orey e o banco não começou agora. O ECO sabe que a Orey Financial comunicou aos clientes, a 31 de março, que iria dar “acesso a uma parceria com um banco de referência nacional líder na banca digital passando a oferecer toda uma nova gama de produtos e serviços financeiros”. A parceria implicava que os clientes que o pretendessem passariam a ter a custódia dos seus ativos junto do Best.
“Como consequência deste acordo e em caso de transmissão dos ativos para a nova entidade ao abrigo desta parceria e mantendo o serviço habitual da sua equipa Orey iTrade, a OreyFinancial irá proceder ao encerramento da sua atual conta a partir do dia 15 de abril de 2019”, anunciou o grupo aos clientes.
Clientes que não transferissem os ativos para o Best no âmbito da parceria, poderiam fazê-lo para outra instituição financeira. “Caso não pretenda transferir os seus ativos para a nova pareceria Orey iTrade nem nos indique que pretende transferir tais ativos para outra conta pela presente denunciamos o contrato que mantemos com V. Exas, com efeitos a 15 de abril de 2019 e procederemos ao encerramento da sua conta a partir do dia 15 de abril de 2019, isto é, a sua conta será colocada em reduce-only, ou seja, a partir desta data (15 de abril de 2019) apenas poderá vender ativos ou reduzir exposição até ao termo do Contrato”, acrescentava a comunicação aos clientes.
"Caso não pretenda transferir os seus ativos para a nova pareceria Orey iTrade nem nos indique que pretende transferir tais ativos para outra conta pela presente denunciamos o contrato que mantemos com V. Exas, com efeitos a 15 de abril de 2019 e procederemos ao encerramento da sua conta a partir do dia 15 de abril de 2019.”
Este fim de semana, após o anúncio de que a Orey Financial deixaria de ter licença, a CMVM esclarecia que os clientes poderiam continuar a transferir os ativos para outras instituições. Mas o ECO sabe que o número de clientes era, já nesta altura, residual, tendo parte passado para o Best, mas num número que não tem dimensão significativa para a dimensão do banco.
O Best não especificou o número de clientes ou o montante dos ativos que foram transferidos, tendo acrescentado apenas: “Quanto à descontinuidade da atividade da Orey Financial, IFIC dadas as características do banco Best, pela vasta oferta de produtos e serviços associados, com destaque para a vertente de trading onde disponibilizamos a plataforma Best Trading Pro em parceria com o Saxo Bank, à semelhança de outros intermediários financeiros nacionais, é natural que sejamos vistos como uma alternativa para os investidores que pretendam transferir os seus ativos dessa entidade”.
Face a esta transição já em processo desde abril, então qual a necessidade de o supervisor dos mercados aplicar as restrições que impôs? “Uma ordem da CMVM é vinculativa. O seu não-cumprimento poderá implicar responsabilização de natureza criminal“, explicou fonte oficial do supervisor, que é também responsável pelo acompanhamento dos agentes vinculados.
O processo está agora no Banco Central Europeu (BCE), a pedido do Banco de Portugal, não havendo data para a conclusão. “Trata-se de uma decisão da esfera de competência exclusiva do BCE sem que exista prazo legal para a adoção de uma decisão, não dispondo o Banco de Portugal de informação que lhe permita conhecer a duração do processo decisório do BCE”, afirmou fonte oficial do supervisor da banca, acrescentando que “os passos que se seguem dependerão dos termos e dos fundamentos da decisão concreta que vier a ser tomada pelo BCE”.
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