Nestas condições “a greve pode durar dez anos”, diz Pardal Henriques
Motoristas só vão assegurar oito horas diárias, o normal horário de trabalho, sem horas extra. “Aos poucos, os postos de abastecimento vão ficar vazios”, isto apesar da intervenção dos militares.
Todos os motoristas de matérias perigosas estão a trabalhar, no segundo dia de greve e primeiro em que funciona a requisição civil decretada na segunda-feira pelo Governo, garantiu o representante sindical destes trabalhadores. No entanto, os trabalhadores só vão assegurar oito horas diárias, o normal horário de trabalho, sem horas extraordinárias. E como estão de greve, a trabalhar e a receber, a greve até pode durar dez anos, ironiza o porta-voz do Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP).
“Estão 100% dos trabalhadores a trabalhar”, disse Pedro Pardal Henriques, em Aveiras de Cima, Lisboa, à porta da sede da CLC – Companhia Logística de Combustíveis. “Mas só fazem o seu horário de trabalho”, ou seja, oito horas. “Não é suficiente”, defende o responsável. E dá a prova: “Bastou um dia de greve para haver 600 postos sem abastecimento”.
“Isto quer dizer que fazem cerca de metade das horas normais”, portanto “é normal que os serviços mínimos representem metade do serviço normal”, adiantou. Ainda assim, Pardal Henriques considera que, “aos poucos, os postos de abastecimento vão ficar vazios”, isto apesar de os militares e GNR já estarem a conduzir os camiões cisterna. Este terça-feira, às 8h30 havia 473 postos sem qualquer combustível, de acordo com a plataforma #JáNãoDáParaAbastecer. Segundo Pardal Henriques muitos trabalhadores estão já acima do limite legal do horário legal de trabalho, com cerca de “500 horas de trabalho suplementar”.
De acordo com um comunicado do Ministério da Administração Interna, enviado às redações, a Guarda Nacional Republicana transportou “13 veículos pesados de transporte de mercadorias perigosas com destino às regiões de Lisboa, Setúbal, Beja e Algarve, envolvendo um total de 26 militares da GNR”. Por seu turno a Polícia de Segurança Pública assegurou o transporte “de combustível em sete veículos pesados de transporte de mercadorias perigosas com destino às regiões de Lisboa, Setúbal e Sintra com o empenhamento de sete elementos da PSP”.
Pedro Pardal Henriques voltou a garantir que os serviços mínimos foram cumpridos na segunda-feira, mas ainda assim o Governo avançou com a requisição. “Em Portugal só se faz greve como quando o Governo quer, por isso fez este aparato policial e das forças do exército. Algo nunca visto a não ser num estado de sítio. Não estamos. Os trabalhadores cumpriram os serviços mínimos, mas ainda assim ficava bem mostrar esta força”, acusou o porta-voz do SNMMP, em declarações transmitidas pela SIC Notícias.
“A requisição civil não veio retirar força à greve”, garante Pardal Henriques.”Isto calha bem porque estamos em período pré-eleitoral”, acrescentou, criticando o aparato militar montado em Aveiras de Cima e o facto de o trabalho estar mal distribuído com uma grande concentração de trabalhadores às sete da manhã, deixando a segunda metade do dia sem abastecimentos.
Pardal Henriques critica a ironia da situação. “Os trabalhadores estão em greve, estão a trabalhar e estão a receber”. Assim, “a greve pode durar dez anos”, ironiza.
Para o responsável, apesar da requisição, está tudo na mesma. “A única coisa que muda é que muda é que as pessoas hoje estão a fazer isto com uma espada na cabeça”, disse Pardal Henriques, em declarações transmitidas pela RTP. “O que os senhores ministros ontem vieram dizer é que estas pessoas têm de trabalhar, porque senão têm de incorrer numa pena de prisão até dois anos. Isto é completamente irresponsável do nosso Governo”, reforçou o responsável, que reiterou que o protesto visa denunciar “irregularidades” na profissão.
(Artigo atualizado às 10h30 com novas declarações de Pardal Henriques e novamente às 11h00 com comunicado do MAI)
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