Opositor interno na Renamo ameaça com ação militar na campanha eleitoral em Moçambique
“Não haverá eleições” caso o Governo moçambicano não negoceie os acordos de paz com o grupo antes das eleições gerais, disse Mariano Nhongo, general da Renamo.
O líder da autoproclamada Junta Militar da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) voltou esta sexta-feira a ameaçar com uma ação militar, colocando em causa a segurança da campanha eleitoral, que tem início no sábado
“Não haverá eleições” caso o Governo moçambicano não negoceie os acordos de paz com o grupo antes das eleições gerais de 15 de outubro, disse Mariano Nhongo, general da Renamo, em entrevista à Lusa, um dia antes do início da campanha eleitoral. “Se insistirem em fazer campanha, vai morrer muita gente“, avisou.
O também fundador da Junta Militar do principal partido da oposição disse que não vai assistir ao “arruinar” da democracia com a implementação dos acordos assinados a 6 de agosto entre o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Ossufo Momade – acordos que o grupo classifica de “secretos” e “fruto de um ato de traição”, alegando terem sido rubricados à revelia de órgãos do partido.
“Pensa que ao rejeitar [a renegociação] nós vamos para onde?” – questionou o líder da junta, salientando: “somos moçambicanos e continuamos com as armas”.
Em declarações à Lusa, Mariano Nhongo, anunciou a formação de uma comissão mista, de deputados e generais da Renamo, para iniciar a renegociação dos acordos nos próximos dias, mas não avançou detalhes sobre os canais de diálogo.
“Já convidei os deputados para formar a comissão que vai negociar com o Governo”, disse em declarações por telefone a partir da Serra da Gorongosa, centro do país, acrescentando que um grupo dos parlamentares deverá dirigir-se a uma base do grupo para concertação.
Nhongo espera que a nova comissão o oficialize como novo negociador válido no diálogo com o Governo e inicie diligências para o adiamento das eleições gerais, revisão da lei eleitoral e realização de novo recenseamento.
Sobre os assuntos militares, prosseguiu Mariano Nhongo, a comissão deverá renegociar os acordos de paz e de cessação das hostilidades militares, procurando o enquadramento condigno dos guerrilheiros na polícia, na Unidade de Intervenção Rápida (UIR), em todos os setores do exército e no Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE), seguindo os pontos já acordados pelo líder histórico, Afonso Dhlakama, falecido em maio de 2018.
“A Junta Militar tem os pontos [de agenda] para obrigar o Governo a regressar aos que ele tinha assinado com o falecido presidente Afonso Dhlakama” observou.
Ainda segundo o líder da Junta Militar, o grupo ainda não encetou contactos diplomáticos com Portugal e Ruanda, países que o grupo considera exemplos de democracias e cuja mediação solicitou publicamente, além da Cruz Vermelha Internacional, para assistir o novo processo de desmobilização, desarmamento e reintegração social.
Entretanto, Mariano Nhongo, denunciou um plano de ataque de tropas governamentais às bases do grupo na Serra da Gorongosa ao qual ponderou responder. “Quem quer guerra é Nyusi e Ossufo. Quando houver guerra em Moçambique, o povo moçambicano que pergunte a esses dois homens” disse Mariano Nhongo, considerando que os dois lideres traíram o espírito dos acordos alcançados por Afonso Dhlakama.
A Junta Militar, que contesta desde junho a liderança de Ossufo Momade, elegeu por sua iniciativa, na última semana, Mariano Nhongo como presidente interino da Renamo à revelia da estrutura oficial do partido.
Contactado pela Lusa, o porta-voz da Renamo, José Manteigas, distancia-se da oposição interna. “Não temos e nunca tivemos nenhum contacto com a junta militar. Nós [órgãos do partido] devemos obediência a Ossufo Momade, eleito presidente da Renamo”, concluiu.
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