PS reforçado, PSD em negação, um liberal e a extrema-direita no Parlamento
António Costa tem mais condições para governar do que em 2015 e é o grande vencedor, enquanto Rui Rio entra em negação. Há um liberal no Parlamento, mas a extrema-direita também entrou.
António Costa ganhou as legislativas de forma expressiva e com mais soluções de governação do que as que tinha em 2015, o PS é o partido do centro do regime e só as perspetivas económicas mais negativas ensombram as condições e a viabilidade de um governo minoritário para os próximos quatro anos. Rui Rio e Assunção Cristas perderem de forma clara, e nem as comparações com as sondagens de há três meses minimizam uma derrota histórica. Do novo parlamento, que passa a ter representação da extrema-esquerda à extrema-direita, há uma verdadeira surpresa, a eleição de um partido que se assume liberal, a Iniciativa Liberal, num país que, como os resultados voltam a mostrar, valoriza sobretudo quem defende o Estado como um centro de redistribuição em vez do setor privado como fator de criação de riqueza.
Depois de quatro anos de geringonça e de meses de uma campanha eleitoral atípica, em que António Costa tentou dizer o mínimo e pedir o máximo, só faltou mesmo ao líder do PS garantir a maioria absoluta para uma vitória esmagadora. E só a sua falta de empatia e de genuinidade impediram o PS de lá chegar, sobretudo perante um líder do PSD que nunca percebeu muito bem qual deveria ser a sua posição como líder da oposição e candidato a primeiro-ministro.
António Costa é, obviamente, o grande vencedor da noite, e é à esquerda, entre o BE, a CDU e o PAN, que já sabe ter manifestações para garantir um governo minoritário. Seria uma nova geringonça, mesmo com um formato diferente. Mas Costa tem também à mão de semear um líder do PSD que só poderá sobreviver ao que é um dos piores resultados do partido dos últimos 40 anos se for parceiro do Governo para mudanças estruturais (que, aliás, o PS nunca quis fazer).
Qualquer que seja a escolha, a alternativa de Costa é uma negociação a quatro anos, a pensar na legislatura, ou ano a ano, negociada à esquerda ou à direita em função dos interesses, a cada orçamento, com um prazo de governação à vista, sobretudo no pós presidência portuguesa, na segunda metade de 2021. As relações de força mudaram no Parlamento, Costa tem alternativas, e o Governo vai durar o tempo que o secretário-geral e primeiro-ministro quiser. Perante este quadro, e a latitude de opções políticas que Costa tem à sua frente, só mesmo o ‘diabo’ poderá pôr em causa a gestão dessa estabilidade política, e da agenda partidária do PS, com a habilidade que o primeiro-ministro mostrou nos últimos quatro anos.
Rui Rio, esse, falhou e a única flor na lapela que pode apresentar é mesmo o resultado de outros, a maioria relativa de Costa. Seria, sempre, difícil perante os resultados económicos obtidos pelo Governo, independentemente da forma como lá chegou, mas o líder do PSD é um dos grandes derrotados da noite. E nem a mensagem piedosa de que tirou a maioria absoluta ou a comparação com as sondagens de há meses apagam um resultado que é manifestamente negativo. O discurso de derrota — que Rio se esforçou por minimizar –, com criticas à comunicação social, aos críticos internos e até às sondagens só faz lembrar a orquestra do Titanic. “A hecatombe não se verificou”, disse. Um discurso de negação, com momentos que chegaram a ser penosos. Poderia ter tentado construir alguma coisa a partir dos resultados desta noite, mas nem isso tentou.
O líder do PSD não vai demitir-se, não lhe está no sangue, vai a jogo, a mais um congresso, e, ironicamente, o seu novo melhor amigo poderá ser… António Costa. Se o primeiro-ministro o ajudar, se o Governo mantiver o PSD na esfera do poder (mas sem lugares, convém acrescentar), com acordos de regime, os famosos pactos, de que Rio tanto falou no último ano.
A decisão de Assunção Cristas — a anunciada demissão de líder do CDS — só expõe ainda mais a posição frágil de Rui Rio, e o desastre eleitoral. A derrota do CDS é brutal, sobretudo em número de mandatos no Parlamento, Cristas fez o que tinha a fazer, saiu com dignidade, e abriu as portas a uma nova vida do CDS, que, ainda assim, está longe de ser óbvia e visível.
Não há outra forma de dizer: O PS reforçou a sua posição política face a 2015. O BE consolidou-se como o terceiro partido do sistema, a CDU perdeu votos e mandatos, mas o PAN cresceu e o Livre, mais um partido de esquerda, verde e europeísta, também entrou no Parlamento. É neste contexto que se vai desenhar o quadro político dos próximos quatro anos. A política vai ser a mesma em relação ao que foi feito nos últimos quatro anos, e sobretudo, ao que não foi feito. Será mais do mesmo, a gestão e estagnação, especialmente porque não haverá tanto para distribuir.
Num país em que o Estado tem tanta relevância, em que o ‘partido do Estado’ tem força eleitoral, a eleição de um deputado da Iniciativa Liberal é uma absoluta novidade. Com uma agenda reformista, alinhada com as políticas seguidas em alguns dos países que têm melhores resultados económicos na última década.
Sobra, da longa noite eleitoral, a notícia da entrada no Parlamento de um deputado do Chega, André Ventura, de extrema-direita, nacionalista, com valores diametralmente opostos aos daqueles que defendem as liberdades política, económica e social, e um país aberto ao mundo e inclusivo.
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