Costa falhou maioria absoluta mas saiu reforçado. E agora?
O PS venceu as legislativas sem maioria absoluta, mas não está tão dependente dos parceiros à esquerda para governar. Na terça-feira, Marcelo recebe os partidos políticos com assento parlamentar.
O PS conseguiu eleger 106 deputados nas eleições legislativas de domingo, falhando a maioria absoluta que nem os votos dos emigrantes, que só chegam no final da semana, poderão garantir. António Costa vai começar já a negociar com toda a esquerda parlamentar. Mas o líder do PS está mais à vontade desta vez. Ao contrário do que aconteceu em 2015, Costa consegue passar leis no Parlamento através de várias geringonças possíveis.
Há quatro anos, Costa precisou juntar numa única solução governativa quatro partidos. Sempre que uma lei era votada no Parlamento era preciso o apoio de todos. O PS aliou-se assim ao Bloco de Esquerda, ao PCP e aos Verdes. Só assim tinha mais de 116 deputados.
Da ida às urnas este domingo saiu um equilíbrio diferente. O PS obteve 106 deputados, acima dos 86 atuais, e ainda falta incluir os votos dos emigrantes. O Bloco de Esquerda manteve os mesmos 19 deputados e o PCP perdeu lugares na bancada ao passar de 17 para 12.
Ou seja, a esquerda tem mais força no Parlamento (142 nas eleições de domingo contra 123 deputados em 2015), mas à custa do crescimento do PS, do reforço da posição do PAN e a chegada do Livre.
No discurso de vitória, o líder socialista anunciou que vai tentar uma geringonça alargada, com os atuais parceiros e os novos (PAN e Livre), numa tentativa para abrir espaço negocial máximo para chegar a um resultado final que em termos aritméticos é até mais simples.
Isto porque com os 106 deputados já conseguidos, o PS precisa apenas de dez para conseguir aprovar leis. E qual das forças políticas garante uma dezena de sins na hora de aprovar leis? Várias. O Bloco sozinho consegue, o PCP sozinho também. O PAN e o Livre garantem cinco, por isso, sozinhos não são uma solução para António Costa mesmo que este conseguisse eleger os quatro deputados que falta apurar pelos círculos eleitorais da Europa e fora da Europa.
Apesar disso, a tarefa, em termos políticos pode ser mais complexa — mais se não houver acordos escritos. Estes servem de guião, o que vai balizando as negociações. Sem acordos escritos — como por exemplo quer o PCP –, as negociações, caso a caso, exigirão esforço político em cada um dos dossiers e jogos em vários tabuleiros em simultâneo.
Costa já foi avisando ao que vem. Repetiu por várias vezes que o PS saiu “reforçado”, avisou que os socialistas também têm o “seu caderno de encargos” e que contas certas que não deitem tudo a perder são para manter. Mais, já disse o que faria — tenta a geringonça alargada — mas já avisou que a responsabilidade não está só do seu lado.
No xadrez político na próxima legislatura há ainda o PSD. Rui Rio teve um dos piores resultados do partido (elegeu 77 deputados) e nos próximos dias vai ponderar. Mas, entretanto, manteve que, tal como tem defendido sempre, está disponível para acordos de regime que permitam apoiar reformas estruturais. O PSD não está nos planos de Costa por agora. “Da leitura destes resultados há uma derrota clara do PSD e do CDS e da direita”, disse Costa, acrescentando que o “espaço natural” é à esquerda. Sem os parceiros naturais, “teremos de prosseguir com um Governo do PS para garantir dia-a-dia a estabilidade ao longo de quatro anos”.
Costa prefere acordos escritos, mas Marcelo Rebelo de Sousa não os considera necessários. Resta saber se mantém a mesma posição tendo em conta o novo equilíbrio de forças que saiu das eleições deste domingo.
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