Investidores, bancos e agências de rating veem vitória de Costa como sinónimo de estabilidade
Espera-se que o próximo Governo seja de continuidade das políticas económicas e financeiras, o que está a agradar aos mercados. Ainda assim, a consolidação orçamental é o ponto de discórdia.
O PS não conseguiu a maioria absoluta que deixava António Costa plenamente confortável, mas a vitória do partido nas eleições agradou, ainda assim, a bancos de investimento, agências de rating e investidores. Apesar de o formato da geringonça 2.0 ainda não ser conhecido — e de a consolidação orçamental poder dificultar as negociações –, os mercados financeiros veem o resultado eleitoral como sinal de estabilidade para o país.
“Os resultados das eleições portuguesas foram amplamente em linha com as nossas expectativas. A reeleição de António Costa e do seu partido deverão apoiar uma continuidade da política económica e orçamental“, afirmou, ao ECO, Kit Ling Yeung da equipa de ratings soberanos da Fitch, que irá rever a notação de Portugal no final do próximo mês.
A opinião é generalizada: Costa à frente do próximo Governo trará continuidade à estratégia começada pelo anterior Executivo. A agência canadiana DBRS antecipa uma nova geringonça com partidos à esquerda mas, desta vez, está tranquila em relação a isso. “Na sequência dos resultados eleitorais, esperamos que o novo Governo seja parecido com a coligação existente“, referiu Jason Graffam, analista da DBRS, que ainda na sexta-feira passada subiu o rating da dívida em um nível para BBB (high).
A reação imediata dos mercados refletiu-se nos juros da dívida portuguesa. A yield das obrigações do Tesouro a dez anos caíram para 0,14%, após terem igualado o juro de Espanha ao longo da sessão. Toda a dívida até aos oito anos negoceia com juro negativo. Na bolsa, os investidores também celebraram, embora com maior timidez. O índice de referência PSI 20 a fechar com um ganho mesmo que ligeiro (de 0,52%). Além da reação inicial, as perspetivas demonstradas pelos bancos de investimento para o futuro são otimistas.
Juros das obrigações a dez anos em mínimos de um mês
Fonte: Reuters
Um ou mais parceiros na geringonça 2.0?
O PS venceu as eleições com 36,65% dos votos, o que equivale a 106 dos 230 lugares disponíveis no Parlamento — falta saber o resultado dos círculos da Europa e fora da Europa —, o que fica consideravelmente acima dos 28% dos votos e 77 lugares conseguidos pelo PSD. Agora, o partido de António Costa tem de escolher com quem vai negociar a geringonça 2.0, sendo que, à esquerda, o Bloco de Esquerda teve 10% (19 lugares), o PCP 6% (12), o PAN 3% (quatro) e o Livre 1% (um).
Costa já se mostrou disponível para negociar com os quatro partidos, mas tendo em conta que precisa agora de um menor número de deputados para ter maioria parlamentar (face a 2015), o Bankinter aponta para dois cenários. Por um lado, um acordo entre PS e Bloco de Esquerda, o que seria “uma solução aparentemente estável e menos complexa que a anterior coligação” porque o “PS dispensaria assim o apoio da CDU e do PAN”.
Por outro, o segundo cenário é de um Governo minoritário PS, o que seria a “solução menos estável em termos políticos, mas que não descartamos que possa vir a ocorrer”, refere o Bankinter. Outros cenários menos prováveis seriam a criação de um bloco central (entre PS e PSD), um acordo com a CDU ou um acordo multipartidário, juntando ainda PAN e/ou Livre.
“Em todo o caso, pensamos que qualquer um dos dois cenários mais prováveis (acordo com BE ou governo minoritário) acabará por significar uma continuidade da estabilidade económica dos últimos anos, marcados por um crescimento económico robusto e pelo cumprimento das metas de Bruxelas (défice de 0,4% em 2018), não obstante a gradual reversão das medidas da austeridade”, acrescenta o Bankinter.
A equipa de research do RaboBank concorda que o cenário base é o entendimento do PS com um dos partidos à esquerda, enquanto o banco de investimento holandês ING espera que o PCP também entre na equação. Ambos alertam que a estratégia do PS poderá dificultar as negociações.
Défice 0% é o ponto de discórdia entre PS e esquerda
“No respeita à estabilidade governamental, tenho uma opinião bastante positiva já que os resultados eleitorais mostraram claramente que o povo português quer que o atual acordo continue. Por tanto, os partidos à esquerda vão perder se não o permitirem. Dito isto, os partidos à esquerda vão definitivamente aumentar as reivindicações por gastos públicos, o que poderá causar fricção“, disse Michiel van der Veen, economista do RaboResearch ao ECO.
Em 2015, o objetivo de virar a página da crise unia PS, BE e PCP. Ao longo dos últimos quatro anos, a economia teve o crescimento do século e as contas pública aproximaram-se do equilíbrio. Os partidos à esquerda pedem que, em vez de um défice de 0%, a margem orçamental seja realocada em serviços públicos. O PS considera que é preciso manter a consolidação orçamental.
Equilibrar o maior pedido por despesa pública com o desejo de melhorar as finanças do Estado será um dos maiores desafios de Costa no futuro.
“Este foco na prudência orçamental poderá tornar mais difícil que o Bloco de Esquerda ou o PCP apoiem o novo Governo”, afirma Steven Trypsteen, economista para Portugal e Espanha, do banco holandês ING. Lembrou, no entanto, o aumento da estabilidade política conseguida pelo facto de o PS ter mais lugares que todos os partidos de direita juntos implica que alguns partidos de esquerda poderão abster-se no Parlamento sem colocar em risco a sobrevivência de um Governo PS minoritário.
O Presidente da República vai receber os partidos com representação parlamentar na terça-feira, altura em que a solução governativa deverá desenhar-se. Os mercados parecem tranquilos com as várias opções, mas irão agora esperar para perceber o equilíbrio de poderes e de conceções feitas ao(s) parceiro(s) de governação.
“Costa terá de lidar com as preocupações com o subinvestimento [em infraestruturas, saúde e edução], o que poderá levar a maior despesa pública e, consequentemente (considerando que tudo o resto se mantém igual), a deterioração da dívida pública. Equilibrar o maior pedido por despesa pública com o desejo de melhorar as finanças do Estado será um dos maiores desafios de Costa no futuro“, acrescentou van der Veen, do RaboResearch.
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